Artigo do Padre José do Vale: A Decadência do Cristianismo


 12.08.2009 - “Posso lhe afirmar que não é esta igreja que Jesus Cristo está voltando para receber como sua noiva. Esta instituição movida pela carne, pós-modernista e materialista está se tornando velha e corrupta. E, mesmo agora, está nas agonias da morte”.
Rev. David Wilkerson - Pastor e Escritor Americano

“Hoje em dia, temos perto de nós uma classe de homens que falam de Cristo e até pregam o evangelho, mas depois pregam igualmente muitas coisas que não são verdadeiras, destruindo o bem que fizeram e induzindo os homens ao erro. Eles querem ser considerados “evangélicos”, mas, na verdade, pertencem a uma escola antievangélica. Observem esse tipo de pessoa. Tenho ouvido dizer que uma raposa, quando perseguida muito de perto pelos cães, finge ser um deles e corre com eles. E isso o que alguns estão desejando agora: que as raposas pareçam cães. Mas, no caso da raposa, o cheiro acentuado que ela libera em breve há de traí-la, e os cães depressa a descobrirão. Do mesmo modo, o cheiro de falsa doutrina não é ocultado facilmente, e o jogo não contentará por muito tempo. Existem pregadores dos quais é difícil dizer se são raposas ou não; no entanto, todos os homens devem saber aquilo que somos enquanto vivermos. Eles não devem ter dúvidas quanto aquilo em que acreditamos e ensinamos. Não hesitaremos em proferir as palavras mais severas que pudermos encontrar em nossa língua, nem vacilaremos em utilizar as frases mais simples que pudermos construir, para anunciar aquilo que consideramos a verdade fundamental”, afirmava o Príncipe dos Pregadores, o pastor inglês Charles H. Spurgeon.
A História da Igreja registra que muitos líderes religiosos cometeram escândalos devidos seus interesses materialistas pelo poder de cargos eclesiásticos, poder político, poder econômico e pelo poder da luxúria. Hoje, estamos vendo escândalos pelos os mesmos motivos e muito mais pela tamanha indústria das heresias, dos cismas, da idolatria de chefia com pomposos títulos eclesiásticos e adoração de deuses fabricados pela diabólica teologia da prosperidade.
Escreve o editor da Revista ultimato Rev. Elben César: “precisamos criar um esquema que nos obrigue a enxergar esses escândalos enquanto eles estão acontecendo para abominá-los agora, e não depois. Para tanto é preciso ouvir a voz dos profetas tanto de dentro como de fora da igreja. Se o Senhor abriu a boca da jumenta para falar a Balaão (Nm 22.28), não poderia faIar-nos hoje pela boca de um historiador, sociólogo, antropólogo, cientista político, psicanalista”?*
Talvez fosse bom ouvir o diagnóstico do cientista político David Callahan, autor do livro A Cultura da Trapaça — por que mais americanos estão fazendo a coisa errada para passar na frente. Em entrevista à Folha de São Paulo, Callahan explica que a grande discrepância que há entre as superestrelas e as pessoas comuns levam todo mundo a fazer “o que for preciso, até trapacear, para chegar ao topo”. Por essa razão, metade dos currículos enviados por candidatos a empregos contém mentiras, 80% dos universitários americanos mais brilhantes admitem ter colado e, a cada ano, empresas americanas perdem cerca de 600 bilhões de dólares em furtos cometidos por seus funcionários.
O pesquisador de opinião pública americana George Gallup Jr. diz que “em termos de fraudação, sonegação de impostos e pequenos furtos, realmente não se constata muita diferença entre os afiliados a igreja e os não afiliados, em grande parte porque existe muita religião social”. Acrescenta que “muitos simplesmente montam uma religião que lhes seja conveniente, que os excite agradavelmente e que não seja necessariamente desafiadora. Alguém chamou Isso de religião à Ia carte. Esta é a fraqueza principal do cristianismo neste país [EUA] hoje em dia não há firmeza de crença.”

Essa corrida a qualquer preço ao topo estaria poupando a igreja? Nem agora nem antes. Se no primeiro livro da historia eclesiástica, Simão, o Mago, teve a ousadia de oferecer dinheiro a Filipe para ter o poder de batizar com o Espírito Santo aqueles sobre os quais impusesse as mãos (At 8.19), por que hoje não se brincaria com a terceira pessoa da Trindade?
Outra voz de fora que precisa ser ouvida é a da psicanalista Maria Rita KehI: A religiosidade pós-moderna é uma espécie de religiosidade de resultados, que invoca as forças celestes para garantir as ambições terrenas dos fiéis. Jesus, que deu sua vida para trazer uma nova palavra aos homens, hoje é invocado como uma espécie de fiador de projetos de ascensão social de suas ovelhas e sobretudo de muitos pastores e pastoras oportunistas.
Na Conferência sobre o Cristianismo na América Latina e no Caribe, realizada em junho de 2003, na Faculdade Batista e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o frei Carlos Josaphat, doutor em teologia, denunciou: ”Há muito ‘religiosismo’ no mundo, mas nunca houve tanta falta de sentido de Deus.” E continuou: “Há hoje uma religião de objetos, de terapia barata, de utilitarismo, de comércio com Deus. Aí a globalização faz aliança com a religião.”

O Rev. Michael S. Horton diz: “Através dos anos, temos criado os nossos próprios guetos de artistas, superestrelas e apresentadores, com versões cristãs de tudo que há no mundo... Por exemplo, “a música crista” é freqüentemente uma desculpa para artistas, muitas vezes inferiores, conseguirem vencer numa subcultura cristã que imita o brilho e glamour do entretenimento secular, inclusive suas próprias cerimônias de premiação e seu ambiente de superestrelato... Produzir música em conformidade com os gostos anestesiados de uma cultura consumista já é ruim; imitar a arte comercializada é desperdiçar talento... Isto trivializa tanto a arte quanto a religião.
”O pastor João A. de Souza Filho diz que: “A música tem o poder de elevar a pessoa a um nível espiritual em que pode ser facilmente enganada, achando que está em um território divino, quando está pisando em um mundo espiritual falso. Assim, podemos dizer que a música pode levar o indivíduo para ”cima“ ou para ”baixo“. “Quando o adorador penetra no mundo espiritual, transita entre o falso e o verdadeiro, entre o divino e o platônico, porque penetra no campo da mística ou das revelações”.
“Canso com a falta de beleza artística dos evangélicos. Há pouco compareci a um show de música evangélica só para sair arrasado. A musicalidade era medíocre, a poesia era sofrível e pior, percebia-se o interesse comercial por trás do evento.” Afirma o pastor Ricardo Gondim.

EU NÃO PROTESTEI

“Primeiro levaram os comunistas
e eu não protestei –
Porque não era comunista.

Daí levaram os socialistas
E eu não protestei –
Porque não era socialista.

Depois foi a vez dos sindicalistas
E eu não protestei –
Porque não era sindicalista.

Então levaram os judeus
E eu não protestei –
Porque não era judeu.

Por fim levaram a mim –
E não restou mais ninguém
Para protestar “por mim”.

Martin Niemöller (1892-1984): pastor protestante, figura de destaque da Igreja Confessante Alemã, e fundador da Federação de Emergência dos Pastores. Foi preso em Sachsenhausen e daí em Dachau por protestar contra o programa nazista anti-cristão e a interferência do nazismo nos assuntos da Igreja.

Esse artigo é o meu protesto contra a decadência teológica e eclesiológica do cristianismo atual.


Pe. Inacio José do Vale
Professor de História da Teologia da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
E-mail: [email protected]

*Ultimato, Julho-Agosto de 2004,p. 19.


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