12.08.2009 - “Amo-vos, ó meu Deus, e só desejo o céu para ter a felicidade de vos amar perfeitamente. Amo-vos, ó meu Deus, e só temo o inferno porque lá jamais se terá a doce consolação de vos amar”.
São João Maria Vianney
O Santo Cura D’Ars
“Os maiores problemas de nosso tempo não são tecnológicos, pois estes nós controlamos razoavelmente bem. Nem mesmo são políticos ou econômicos, porque as dificuldades nessas áreas, por deslumbrantes que sejam, são grandemente derivativas. “Os maiores problemas são morais e espirituais, e, a menos que possamos fazer algum progresso nesses domínios, talvez nem mesmo sobrevivamos. Foi assim que declinaram no passado culturas adiantadas”, assim afirma o erudito pensador cristão D. Elton Trueblood.
Colabora com esse pensamento o escritor Gregg Easterbrook que diz: “No Ocidente, a maior carência de nossa era não é a pobreza material, mas a pobreza espiritual”.
O ser humano tem sonhos, desejos, realizações e um vazio na alma que sexo, dinheiro, poder, fama, posições sociais, diploma e religiões não podem preencher e nem garante a verdadeira felicidade.
O sociólogo canadense Riginald W. Bibby escreveu: “O homem tem necessidades que só a religião cristã pode suprir”.
Em contrapartida, o Dr. Ronald F. Ignglehart, pesquisador da Universidade de Michigan, E.U.A., e responsável pelo estudo sobre a Ética Mundial, disse que “a religião está perdendo a influência nos países desenvolvidos”. É por isso que o aborto, depressão, crimes, suicídios, tragédias e outras terríveis infelicidades, têm acontecidos nesses países sem que o poder econômico tenha solucionados os problemas existenciais.
O célebre romancista russo Fiodor Dostoievski disse: “Há um vazio no coração do homem do tamanho de Deus”.
O homem só se realiza completamente em Deus. O amor ao bom Deus é a fortaleza da verdadeira vida e de certezas eternas, transforma o ser humano e responde às perguntas mais profundas da alma. A tecnologia não tem respondido as perguntas mais cruciais do ser humano. A ferida da alma não tem sido curada pelo avanço da medicina. A fome afronta e as guerras envergonham e desmoralizam os governos mundiais. A segurança está sendo humilhada pela violência e a vida está sendo terrivelmente ameaçada pela cultura de morte. O medo toma conta da sociedade e a crise perturba a consciência. “Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela”. (Salmo 127,1).
O ser humano tem procurado em tudo e em todas as coisas quietude para seu coração. Tem gastado fortunas para conseguir a paz de espírito e a tão procurada e desejada felicidade. Santo Agostinho foi um especialista nessa caminhada. Procurou em todas as coisas o sossego para sua alma e não encontrou. Escreveu em suas Confissões: “Tú nos fizeste para Ti e nosso coração não descansará enquanto não repousar em Ti”. “A procura de Deus é a procura pela felicidade, o encontro com Deus é a própria felicidade”.
O historiador inglês Arnold Toynbee disse: “A verdadeira missão do homem e glorificar a Deus e usufruí-lo para sempre”.
A essência própria do amor é glorificar o bom Deus e a nossa total dedicação ao seu serviço. A nossa vontade firme de se dar, se tanto for necessário, de se imolar todo pelo Senhor Deus e pela sua obra, de preferir o seu divino agrado do nosso e ao das criaturas.
Amar o bom Deus é, ao mesmo tempo, a mais doce necessidade, o mais sublime dever, e o maior privilégio de uma criatura para com seu criador. Está escrito em Deuteronômio 11,13: “Amar ao Senhor teu Deus, e de todo o teu coração, de toda a tua alma e todo o teu entendimento”.
Amar a Deus é ter fé e confiança em colocar as nossas vidas de forma ilimitada às mãos do Todo Poderoso. É uma necessidade diante da certeza de um futuro sem fim que temos diante de nós.
Tudo na criação e na santa revelação nos ensina a entregar-nos por toda a eternidade nas mãos sacrossantas de Nosso Senhor Jesus Cristo em que tranqüilamente nos aconchegamos hoje a Ele. Nossa segurança ilimitada em Deus garante satisfazé-lo como nada mais, porque corresponde à sua eterna fidelidade, honra sua veracidade e constitui-se numa silenciosa adoração de todos seus atributos perfeitos. Deus honra para sempre aqueles que o amam.
São Francisco de Paula, o santo da caridade, afirmava: “Cultivai o santo amor a Deus e servi-o com grande temor”.
O autor do Tratado do Amor de Deus, um dos grandes mestres da espiritualidade cristã e Doutor da Igreja São Francisco de Sales, explica abissalmente o nosso dever de amar a Deus. “É o amor que deve prevalecer sobre todos os nossos amores e reinar sobre todas as nossas paixões: e é o que Deus reclama de nós, que entre todos os nossos amores o seu seja o mais cordial, dominando sobre todo o nosso coração; o mais afeiçoado, ocupando toda a nossa alma; o mais geral, empregando todas as nossas potências; o mais elevado, enchendo todo o nosso espírito, e o mais firme, pondo em exercício toda a nossa força e vigor”. E conclui com um magnífico arrebatamento de amor:
“Eu sou Vosso, Senhor, e não devo ser senão para Vós; a minha alma é Vossa, e não deve viver senão para Vós; a minha vontade é Vossa, e não devo amar senão para Vós; o meu amor é Vosso, e não deve tender senão para Vós. Devo amar-vos como meu primeiro princípio, pois sou de Vós; devo amar-Vos mais que o meu ser, pois o meu ser subsiste por Vós; devo amar-Vos mais que a mim mesmo, pois sou tudo para Vós e em Vós”.
Pe. Inácio José do Vale
Pregador de Retiro Espiritual
Professor de História da Igreja
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