12.08.2009 - [A pregação abaixo é de autoria do saudosíssimo Padre Paulo Ricardo, da Arquidiocese de Cuiabá no dia 8 de março, ocasião em que celebrávamos, liturgicamente falando, o 2º domingo da Quaresma. Ele faz uma analogia entre a Palavra de Deus e o fato que acontecia simultaneamente em Recife, que era o aborto daquelas duas crianças no ventre de uma menina estuprada, de idade de nove anos. Indignava-se seriamente contra os brasileiros que se calaram diante do crime cometido na capital pernambucana e exortava-os a amar o bem... São ainda válidas para nós as suas riquíssimas palavras. Boa leitura!]
Pregação disponível em áudio no site do Padre Paulo Ricardo.
“Homilia proferida pelo Padre Paulo Ricardo na Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, 2º Domingo da Quaresma”
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Padre Paulo Ricardo
Meus queridos irmãos e irmãs,
A liturgia de hoje nos fala do grande amor que nós precisamos ter por Deus e do grande amor que Deus tem por nós. O grande amor que nós devemos ter por Deus: na primeira leitura, nós ouvimos Abraão, que está disposto a sacrificar o que ele tem de mais precioso para Deus, que é o seu filho. E com isso ele dá prova do seu grande amor por Deus. Deus faz Abraão compreender que, na verdade, Ele não queria o sacrifício do seu filho, queria somente o sacrifício do seu amor. Este é o significado da primeira leitura. Deus de Abraão pede o sacrifício do amor, não o sacrifício do filho.
Quando Abraão vai subindo a montanha… A primeira leitura foi somente um resumo, mas se vocês forem ler na bíblia, direto, sem pular os versículos que foram pulados, vocês vão ver que quando Abraão sobe a montanha, Isaac está carregando a lenha nas costas e Abraão, a tocha na mão com o fogo. Isaac diz: “Pai, está aqui a lenha. Está aqui o fogo. Mas onde está o cordeiro para o sacrifício?” Aquela pergunta certamente cortou o coração de Abraão porque ele não podia dizer para o filho que era ele o sacrifício. E Abraão então responde: “Deus providenciará”. E de fato Deus providenciou. No caso de Abraão, Ele providenciou um cordeiro enrolado no espinheiro.
Mas na mesma montanha em que aconteceu este misterioso sacrifício de Abraão, mil anos depois, foi construída uma cidade, chamada Jerusalém. E na mesma montanha, dois mil anos depois do sacrifício de Abraão, Deus estava providenciando outro cordeiro: Jesus, que desta vez não foi poupado, mas foi sacrificado na cruz. É a mesma montanha. Pouca gente sabe disso, mas a tradição identifica: a montanha onde Abraão ia sacrificar o seu filho é a mesma montanha onde, dois mil anos depois, com Jesus, Deus sacrificou o seu Filho, mostrando o Seu grande amor por nós. Abraão mostrou o seu grande amor por Deus naquela montanha; e na mesma montanha, Deus mostrou o Seu grande amor por nós.
Como? Como que o sacrifício de Jesus na cruz pode ser uma prova de amor de Deus por nós? Quando Abraão subia a montanha, ele disse a seu filho: “Deus providenciará o cordeiro, o sacrifício”. E Deus providenciou. Dois mil anos depois o próprio Deus se tornou cordeiro de sacrifício. Deus se sacrificou, morreu na cruz por nós; para que nós não morrêssemos, morreu por nós. Para que nós não fossemos entregues ao sofrimento eterno do inferno, o próprio Deus morreu por nós.
Este é o esquema da Liturgia de hoje. E Deus atesta esse amor por nós quando, olhando para seu Filho Jesus, Ele diz: “Eis o meu Filho muito amado”. Se nós nos unimos a Jesus, se estamos junto d’Ele, somos também nós membros do Corpo de Cristo, do Corpo do Filho muito amado.
Vamos fazer uma aplicação dessa Palavra de Deus para os nossos dias. Veja: Abraão pôs na cabeça que ele tinha de sacrificar o bem mais precioso; e o que ele tinha de mais precioso era seu filho. Bons tempos em que os pais e as mães achavam que o que eles tinham de mais precioso eram os filhos! Mas nós não estamos num país onde se pensa assim: os nossos filhos se tornaram descartáveis. O nosso país inteiro assistiu perplexo ao aborto de duas crianças, que nasceram de uma violência. Todo mundo sabe o caso da menina de nove anos de idade, que através de uma violência terrível, concebeu e engravidou de duas crianças. Nove anos de idade. Engravidar uma criança de nove anos de idade é um crime terrível.
Mas o criminoso não são as crianças. As crianças não têm porque pagar com o seu sangue por um crime que elas não cometeram, mas do qual elas mesmo foram as primeiras vítimas. Meus irmãos, o nosso país está se tornando um país de dementes, de gente louca. Eu prefiro achar que nós somos dementes e estúpidos do que dizer que nós somos simplesmente maus e assassinos. Então, para não chamar a mídia, desde o senhor Presidente da República, que defendeu o ato, [juntamente com] todos os políticos criminosos; para não chamá-los de criminosos e assassinos, eu vou preferir dizer, cobrindo com um véu de caridade, que eles são simplesmente dementes, idiotas, imbecis e ignorantes, toldados na sua mente pela sua grande falta de cultura. Esta é a melhor coisa que eu posso dizer a respeito deles: que são idiotas. Porque a verdade seria chamá-los de assassinos.
Está todo mundo com peninha dos médicos que foram excomungados pela cruel Igreja Católica… Está todo mundo morrendo de dó dos enfermeiros que foram cúmplices do crime de aborto, porque a Igreja Católica num ato de crueldade terrível excomungou os pobrezinhos… Agora você pensa isso, seu safado, porque não era você a ser abortado, não era você a ser assassinado, sua víbora cruel! Porque não era você na barriga daquela mulher! Sim. Aquela menina engravidou de um crime terrível, hediondo, maluco, que clama aos céus! Engravidar uma menina de nove anos de idade, meus irmãos, é um crime que não tem nome, que merece todo nosso ódio, que deve receber toda a nossa indignação. Mas o criminoso não foram aquelas duas crianças inocentes na barriga da mãe. Elas nada fizeram. Aquelas duas crianças inocentes na barriga de uma outra criança nada fizeram. Elas são inocentes.
E nós ficarmos preocupados com os sentimentos: pobrezinho do médico excomungado pela Igreja Católica cruel… ah, que dó! Meu irmão, saia da sua demência, pelo amor de Deus! Pense bem: uma pessoa entra na sua casa e mata um filho seu. Aí você vai lá pro assassino e diz assim: “Olha, eu não quero ferir os seus sentimentos, mas eu quero dizer para você que eu não estou de acordo. Olha, nada contra você, porque, afinal das contas, eu tenho que ser politicamente correto… Eu tenho que ser gentil. Eu sou cristão, eu sou bonzinho, então, eu não brigo com ninguém; eu não vou xingar ninguém; eu não vou ter raiva de ninguém porque eu sou cristãozinho, então eu não vou xingar, eu não vou ferir seus sentimentos… Você matou meu filho, mas, olhe só, é só uma divergência de opinião. Nós estamos aqui falando só duma divergência de opinião porque, afinal de contas, nós estamos numa democracia e você tem direito à sua opinião, não é verdade? Você acha que matar a minha filha é uma coisa boa e eu acho que matá-la é uma coisa ruim; e nós estamos somente numa divergência ideológica e política. A Igreja não deve se meter nisso, não é verdade, afinal é só uma divergência de uma idéia…”
Matar a sua filha não é uma idéia, meu filho! Matar a sua filha é um assassinato! E se você não fica indignado com isso é porque você não é mais gente, você se tornou um verme. Se você não tem capacidade de indignação diante de um assassinato, é porque você não é gente, você é um verme! Se envergonhe! Agora a nossa mídia politicamente correta fica crucificando quem? Os médicos assassinos? Não! Fica crucificando o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso, porque ele cometeu o ato cruel de defender duas crianças inocentes na barriga duma outra criança inocente. Este é o país de demente no qual nós nos encontramos. Esta é a vergonha do nosso país. Me desculpem, meus senhores, mas, nesse momento, eu me envergonho de ser brasileiro, de pertencer a um país de gente covarde, que fica calada diante dum crime hediondo, diante duma tragédia dessas! Nós devemos que ter ainda dentro de nós alguma capacidade de indignação.
Meu irmão, se você diz que ama o bem, a moralidade, a ética, saiba que ninguém tem amor pelo bem, pela moralidade e pela ética que não tenha igualmente ódio mortal da injustiça, da imoralidade e da falta de ética. Se você ama o bem é porque você odeia o mal. Ninguém pode dizer que ama o bem e ficar indiferente com o mal. Uma pessoa diz que ama o bem, mas diz: “Olha, você entrou na minha casa, matou os meus filhos; eu só tenho uma divergência política com você; é uma opinião… E a Igreja Católica, se ela por acaso defender a minha filhinha que foi assassinada, ela está se metendo num problema científico.” A ciência – disse o senhor presidente da República – que tem que resolver isso; não é a Igreja Católica; ela está se metendo onde não deve… Diz o senhor presidente, que eu irei simplesmente considerar um idiota para não chamá-lo de assassino. Sim, meus senhores, porque é cúmplice de assassinato, e, portanto, assassino quem nada faz, nada diz; e o que é pior ainda: defende o assassinato.
Nós não contratamos os funcionários públicos, os servidores públicos que são presidentes, juízes, legisladores, deputados, senadores, governadores; nós não contratamos esses homens para cometerem crimes, mas para nos defenderem deles. E o senhor presidente da República, ao ceder à pressão da mídia, prevaricou no exercício da sua função, porque ele foi colocado como primeiro dos brasileiros, o chefe de nossa nação, para defender a vida.
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/