31.07.2009 - “Quanto aos homens maus e impostores, eles progredirão no mal, enganando e sendo enganados” (2 Tm 3,13).
“Fausto” é narrado no episódio em que Mefistófeles, diabólico personagem do célebre poeta e dramaturgo alemão Johann Goethe (1749-1832), arquiteta uma saída para que sejam remediados os problemas de insolvência de um império da Idade Média. Num encontro com o soberano, ele propõe que o imperador emita um documento garantido a seu portador uma importância monetária lastreada nos tesouros reais. O detalhe da operação é que tal tesouro simplesmente inexiste. E, diante desse dado da realidade, o imperador reage e questiona a viabilidade do artifício. Como a ironia típica do diabo, Mefistófeles responde: “E alguém precisa saber disso?”.
O drama é oriundo de uma lenda alemã do século XVI, supostamente baseada em um personagem real, Johannes Georg Faust, que teria vivido entre os anos de 1480 e 1540.
O escritor e crítico irlandês George Bernad Shaw (1856-1950), observou que uma dama nova-iorquina podia recomendar um luxuoso caixão forrado de cetim rosa para seu cãozinho falecido, enquanto “uma criança perambulava, descalça e faminta, por uma sarjeta congelante da rua”. “Ele dizia que isso era a grotesca e terrível marcha da civilização, do mal em direção ao pior”.
Vivemos o maior descaso com a dignidade da pessoa humana. O mundo está tomado pela violência e corrupção.
Impera o tráfico de seres humanos, de drogas, de armas, de órgãos, de medicamentos falsos, de resíduos eletrônicos, de metais preciosos e o tráfico de madeiras nobres e de animais.
Vivemos o medo do fim da raça humana pelas armas de destruição de massa. Novas doenças aparecem e não se encontram soluções para doenças incuráveis. Muitos hospitais públicos são cemitérios.
O desgoverno e a impunidade são espaços livres para o crime organizado. Faltam decisões radicais para os problemas sérios. Falta fidelidade para o cumprimenta da Lei. Rigor para coibir princípios criminais e lançar mão da tecnologia de ponta com intelectualidade para identificar o mal antes que ele aconteça.
MUNDO INJUSTO E CRUEL
“A política é como o romance. Políticos e escritores são especialistas na arte de mentir”.
Tomás Eloy Martínez
Escritor argentino e professor na
Universidade Rutgers-New Jersey – EUA
O Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC) em seu recente informe: “Contrabando internacional e as lei na África Ocidental: uma avaliação das ameaças. O relatório revela que algo em torno de 50% a 60% de todos os medicamentos consumidos na África Ocidental são falsificados” (1).
A FAO divulgou as novas estimativas sobre a fome no mundo: 2008 deverão terminar com 963 milhões de subnutridos, 40 milhões a mais que em 2007 (2).
Sem muito alarde, com fama de pacifista e ecológica, a Alemanha tornou-se nos últimos anos um gigante armamentista e o terceiro maior exportador mundial de armas. Alemanha só exposta menos armas que Estado Unidos e Rússia. Os produtos mais vendidos das indústrias bélicos alemã são veículos militares e as armas de alta tecnologia (3).
657.000.000.000 de dólares foram gastos pelos Estados Unidos com a ação militar no Iraque até março de 2009, em seis anos de guerra (4).
“O mundo hoje pode ser melhor compreendido se você pensá-lo a parti da perspectiva de regiões, e não de Estados, diz o General Jim Jones, conselheiro de segurança do presidente Barack Obama: “ E as regiões de desordem são multiplicáveis com a metástase da crise econômica mundial”.
Afirmou Ian Bremmer, co-autor de The fat tail, sobre maiores riscos enfrentados no mundo pelos homens de decisão: “Tudo ao nosso redor está pior, e muita coisa ainda pode piorar com a evolução da crise” (5).
“Mais de 33 mil adolescentes de 12 a 18 podem ser assassinados até 2012 no Brasil se a situação de segurança e amparo social continuar igual. A previsão é do índice de Homicídios na Adolescência (IHA), divulgado em 21 de julho de 2009 em Brasília pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), em parceria com Unicef, o Observatório de Favela e o Laboratório de Análise de Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV- Uerj). Os homicídios representam hoje 46% das causas de morte de adolescentes dessa faixa etária, seguido de morte natural (25%) e acidentes (22%). “As crianças estão morrendo a parti de 12 anos” disse Manuel Buvinich, coordenador de projetos da Unicef (6).
O grande pensador criador do Teatro do Oprimido, o renomado diretor Augusto Boal (1931-2009), disse: “Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, gêneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel”.
A raiz da maldade humana está no pecado exacerbado do ódio, egoísmo, avareza, ganância, luxúria, vícios e na dupla personalidade.
A brutalidade do mal existe para combater a justiça do bem sagrado. O personagem diabólico de Goethe vive de fato e de verdade ao nosso redor. A ramificação do mal é tão escabrosa que resvala e contamina inocentes. O mal é um grande desafio para os bons.
Diante da brutalidade de tantos erros, covardias e injustiças devem-se vociferar o poder da verdade e da justiça!
O engano, a corrupção, a violência e o ódio, não devem vencer.
Para um mundo melhor, ainda é possível acreditar na plenitude monumental da fé, da esperança e do amor.
CONCLUSÃO
De todos os enganos e corrupção, o maior de todos e de fatal condenação eterna é o engano religioso. Porque está em questão o futuro da alma. A corrupção da doutrina cristã é o passaporte para a perdição eterna.
Não existe crime maior do que a perversão das doutrinas de Jesus Cristo. Perverter o próximo com doutrinas falsas em nome de Cristo é praticar o mal na sua totalidade.
Ninguém deve nem pensar em enganar o seu semelhante usando o santo nome de Jesus Cristo e nem tão pouco ser enganado por “belos sermões” de “bonitos pregadores” ditos mensageiros e representantes de Jesus de Nazaré.
Foi o próprio Cristo que disse: “Atenção para que ninguém vós engane” (Mt 24,4).
Hoje, vivemos com três terríveis brutalidades de engano que destrói a alma: os cismas, que diz: não a unidade que Cristo pregou. A herética teologia da prosperidade, que diz: não ao desapego aos bens matérias que Cristo ensinou e a idolatria pelo poder de cargos eclesiásticos, que diz: não ao ministério de serviço que Cristo viveu.
A brutalidade da heresia arrasa a ortodoxia, desmonta princípios e contamina rebanhos.
Para os cristãos sinceros: nada os detém a meta da vida eterna com a Santíssima Trindade. Longe dos verdadeiros servos de Deus essas três brutalidades.
Ter consciência que os sofrimentos e a brutalidade do mal não têm o poder de separar o cristão do amor de Cristo. A fidelidade ao ensino do Redentor Jesus resultará na felicidade e gozo celestial.
Também deve ter consciência que os autores da brutalidade do mal, ganharão pelo seu ato o sofrimento e o tormento eterno. Desta punição, os tais não ficarão livres jamais.
Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
E-mail: [email protected]
Notas
(1) Jornal do Brasil, 14/07/2009 p. A23.
(2) Valor, 04/01/2009, p. A10.
(3) O Globo, 17/05/2009, p. 37.
(4) Ultimato, julho-agosto de 2009, p.24.
(5) Jornal do Brasil, 02/03/2009, p. A20.
(6) Jornal do Brasil, 22/07/2009, pp. A2 e 3.