29.07.2009 - Uma colônia de férias de verão britânica está oferecendo uma experiência pouco comum para jovens de sete a 17 anos. A iniciativa promove uma “alternativa sem Deus”, em oposição a acampamentos de verão mais tradicionais administrados por grupos religiosos.
Algumas das 24 crianças que chegaram ao acampamento Camp Quest, na cidade de Bruton, sudoeste da Inglaterra, pareciam jovens demais para lidar com conceitos tão amplos e complexos como religião e Deus.
A colônia de férias tem uma missão ambiciosa. Ela é “dedicada a melhorar a condição humana através de questionamento racional, pensamentos críticos e criativos, e método científico [...] e pela separação entre religião e governo”.
O objetivo mais imediato, segundo os diretores, é ensinar cooperação, tolerância e empatia, através de atividades esportivas e brincadeiras. Mas são as visões sobre algumas questões mais complexas da vida que a distingue das demais, sobretudo o tratamento da religião.
“Os participantes aprendem que o comportamento ético não depende de crença religiosa e doutrinas, que essas são às vezes um obstáculo para o comportamento moral e ético, que pessoas sem religião também são boas e totalmente capazes de viver uma vida feliz e cheia de significado”, afirma o site do acampamento na internet.
A diretora da colônia de férias, Samantha Stein, afirma que as crianças são estimuladas a pensarem de forma independente.
“Se as crianças se depararem com uma questão como criacionismo, por exemplo, nós discutiríamos as evidências. Nós não diríamos ‘Criacionismo é bobagem’, diz a diretora.
O pai de uma das participantes do acampamento ateu disse que já levou sua filha a outros acampamentos cristãos e que estava em busca de uma experiência mais ampla para a criança.
Leeroy Murray, pai de três meninos em Camp Quest, disse que não descartaria mandá-los a um acampamento religioso.
“A coisa mais importante para mim aqui é dar para eles uma variedade de experiências e estimular que eles entendam o máximo possível de religiões e de ciências, e dar a eles as ferramentas para que decidam por conta própria o rumo que querem seguir”, disse Murray.
Os filhos de Leeroy parecem mais preocupados com os aspectos menos filosóficos do acampamento.
“Eu quero fazer novos amigos, encontrar novas pessoas e fazer todas as atividades preparadas para nós”, disse um dos filhos, de 9 anos.
“Eu gosto das atividades porque elas melhoram a sua saúde e fazem com que você esteja em forma”, disse outro filho, de 8 anos.
‘Unicórnio invisível’
Além das atividades esportivas, algumas brincadeiras procuram tratar de questões mais profundas.
A principal atividade “científica” do acampamento consiste em uma busca a dois unicórnios invisíveis.
Os instrutores dizem aos jovens que os unicórnios não podem ser vistos, provados, cheirados ou tocados. Eles também não conseguem fugir do acampamento e não se alimentam de nada.
A única prova da sua existência, segundo os instrutores, está contida em um livro muito antigo repassado por “inúmeras gerações”.
Um prêmio de 10 libras (cerca de R$ 30) é oferecido a qualquer criança que conseguir provar que os unicórnios não existem.
Fora do acampamento, no portão de entrada, um solitário manifestante protesta contra o acampamento. Paul Arblaster, membro de uma igreja local, segura cartazes com mensagens críticas ao Camp Quest. Ele protesta também contra o exercício dos unicórnios.
“É claro que eu acho que existe uma pegadinha aí. Eles podem dizer que o exercício dos unicórnios não tem nada a ver com Deus. Mas eu acho que é uma representação razoavelmente velada deste tipo de doutrina”, disse o manifestante.
A diretora do acampamento rebate o argumento.
“O objetivo é fazer com que as crianças pensem sobre coisas como ônus da prova”, diz Samantha Stein.
“Quem precisa provar que os unicórnios estão lá… é a pessoa que diz que eles estão ou é a pessoa que diz ‘Não, eu acho que você não está certo’.”
O Camp Quest surgiu há 13 anos nos Estados Unidos, onde escoteiros e grupos religiosos são a maioria no mercado de acampamentos de verão, muito populares entre famílias americanas nas férias escolares. A versão britânica dura cinco dias e custa 275 libras (cerca de R$ 900).
Fonte: G1
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Lembrando...
A Fé e os Ateus
A revista IstoÉ (25/02/2004) traz o estudo do governo britânico para colocar o ateísmo como disciplina escolar. Lembra a opinião do filósofo Bertrand Russel de que a concepção de Deus é “bastante inválida para homens livres”. Além disso, para o pensador, “as religiões não só prejudicam, como são falsas”.
Lembro-me de um fato contado pelo falecido Dom Luís De Nadal, bispo de Uruguaiana e piloto de avião. Certa vez, Dom Luís viajava de Porto Alegre a Passo Fundo. A seu lado ia um senhor culto que lhe disse: “Sou ateu. Não acredito em Deus, nem participo de nenhuma atividade religiosa”. De repente o piloto avisou: “Há pane no avião. Faremos uma descida de emergência. Rezem para que encontremos lugar adequado para o pouso”. Nosso ateu pediu a Dom Luís: “Por favor, absolva-me de meus pecados. Creio em Deus, sim”.
No Brasil os ateus como o do avião somam cerca de 13 milhões. São de fato “agnósticos”, isto é, sem religião, não comprometidos com nenhuma fé. Este número está em ascensão.
Diante deste fenômeno, antes de condenar os “incréus”, as religiões devem fazer um exame de consciência. Pessoas religiosas dando apoio a atos de violência, justificando até guerras, segundo João Paulo II, “blasfemam contra Deus”. Ou, como diz o Catecismo Católico, “mais escondem do que manifestam o rosto autêntico de Deus e da religião” (nº 2125).
As pessoas tidas como religiosas, que não defendem os direitos humanos, não promovem valores da paz, da solidariedade e de uma civilização do amor, mas que vivem de forma individualista e formalista, de fato falseiam o cristianismo.
Doutro lado, o conhecido teólogo francês Jean Danielou observou: “O homem de hoje conhece tudo, todavia não se conhece a si próprio, que é mais que tudo”. O comunismo ateu eliminou milhões de seres humanos, usando como critério a conveniência do poder. Sem referência ao absoluto, o que tem sentido, o que tem valor? Um vago humanismo sem Deus é verdadeiro humanismo? A ética sem Deus não se reduz facilmente à defesa dos próprios interesses? Num mundo sem escala de valores, o que ainda faz sentido?
Deus existe. Em Jesus Cristo, pela graça, a pessoa atinge sua plenitude. Fica mais gente, mais humana. Sabe-se amada, insere-se numa comunidade de pessoas, sem perder sua individualidade. Torna-se, segundo o apóstolo Pedro, “pedra viva” de um povo, cuja lei é o amor. No seu íntimo vive o Espírito formando e consolidando seu coração. Sua mola propulsora é a fé, que é dom, não obrigação. E a firmeza em Deus gera a esperança, a alegre esperança dos filhos de Deus. É muito bom crer em Deus!
Dom Sinésio Bohn
Bispo de Santa Cruz do Sul (CNBB)