Esse respeito pelos ungidos de Deus não faz parte somente do cristianismo, mas é herdado também da tradição judaica. Quando Saul, rei de Israel, foi morto e Davi ficou sabendo do acontecido, ficou profundamente desolado (cf. 2 Sm 1,11). É importante observar a conduta de Saul, que não era nada exemplar. Desobedeceu por diversas vezes a ordem do Senhor, chegando ao cúmulo, inclusive, de ir consultar uma necromante (cf. 1 Sm 28). Mas, mesmo com todos esses pecados de Saul, Davi reconheceu que não havia motivo para desrespeitá-lo. Pelo contrário, “ele era um ungido do Senhor”!
Quando o assassino de Saul confessou o crime a Davi, este exclamou: “Como não receaste levantar a mão contra o ungido do Senhor para matá-lo?” (2 Sm 1,14) Fica claro que levantar a mão contra um ungido do Altíssimo – e isso também no sentido metafórico – não é, de modo algum, uma atitude louvável, mesmo quando esse ungido desobedece às ordens de Deus. E nós, cegos, não percebemos muitas vezes que levantamos a mão contra os sacerdotes da Igreja! Levantamos a mão criticando sua conduta e seus hábitos, não lembrando, no entanto, que a Palavra de Deus diz: “Não toqueis nos meus cristos” (Sl 105, 15) e que a Santa Igreja ensina que a sua dignidade é até maior que a dos anjos.
Nesse sentido, Santa Catarina de Sena, por meio de sua obra O Diálogo, exorta:
“Os ministros são ungidos meus. (…) Quem os punir cairá na maior infelicidade. Se me perguntares por que a culpa dos perseguidores da santa Igreja é a maior de todas e, ainda, por que não se deve ter menor respeito pelos meus ministros por causa de seus defeitos, respondo-te: porque, em virtude do sangue por eles ministrado, toda reverência feita a eles, na realidade não atinge a eles, mas a mim. Não fosse assim, poderíeis ter para com eles o mesmo comportamento de praxe para com os demais homens. Quem vos obriga a respeitá-los é o ministério do sangue. (…) Afirmo-te que devem ser respeitados pela autoridade que lhes dei, e por isso mesmo não podem ser ofendidos. Quem os ofende, a mim ofende. Disto a proibição: “Não quero que mãos humanas toquem nos meus cristos”!”
Até em muitos meios ditos “católicos” observamos que muitas pessoas se julgam no direito de julgar os padres, os ungidos de Deus. Talvez seja por ignorância, mas caso estejam lendo esse artigo, não é mais. E que se dê aos ungidos de Deus o máximo respeito e reverência. E que os seus pecados ou suas imoralidades não sejam pretextos para que não os respeitemos, afinal o Santo Papa Pio X proclama, na Pascendi Dominici Gregis que não devemos, embora alguns membros do clero sejam considerados inimigos da Igreja, julgá-los de modo algum, uma vez que essa função cabe somente a Deus:
“Pasmem, embora homens de tal casta [clérigos religiosos], que Nós os ponhamos no número dos inimigos da Igreja; não poderá porém, pasmar com razão quem quer que, postas de lado as intenções de que só Deus é juiz, se aplique a examinar as doutrinas e o modo de falar e de agir de que lançam eles mão. Não se afastará, portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja”.
A realidade é essa: os sacerdotes são ungidos de Deus. Têm que ser respeitados.
Graça e paz.
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/