13.07.2009 - “Mas eles querem que vos circundeis para se gloriarem na vossa carne. Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6,13.14).
Os romanos reservavam a crucificação para os escravos e estrangeiros culpados de homicídio, de roubo a mão armada ou rebelião. A cruz era igualmente vergonhosa para os judeus que viam a morte de um crucificado como uma maldição divina (Deuteronômio 21,23).
Jesus Cristo sabia que devia morrer na cruz para levar o castigo divino contra o pecado (Gálatas 3,13). Era o Cordeiro de Deus que expiou na cruz o pecado do mundo. Sua morte constituiu o ponto central da História e da eternidade. A ela convergia a esperança dos crentes do passado; dela saem todas as fontes da esperança do futuro.
Sem a morte de Jesus não haveria nenhuma esperança de salvação para nós. O apóstolo Paulo chama o Evangelho de “a palavra da cruz” que é “o poder de Deus” (1 Coríntios 1,18). Jesus aceitou uma morte vergonhosa por nos amar, amar a você e a mim. Qual tem sido nossa resposta a tal amor?
No princípio do cristianismo, a cruz era um símbolo que os imperadores romanos odiavam. Perseguiam e matavam os cristãos por crerem no Filho de Deus. Mas, apesar de tudo, a mensagem da cruz se espalhava mais e alcançava mais pessoas. Muitos O receberam e foram salvos.
Naqueles tempos, os seguidores de Cristo eram considerados os “adoradores do asno”. Para os incrédulos, a fé no filho de Deus crucificado parecia uma loucura; por isso diziam aos cristãos: - A fé de vocês não passa de uma asneira. Vocês sãos uns asnos!
Escavações em antigos palácios romanos revelaram caricaturas que ilustram o que expressamos acima. Para os pagãos, a cruz era um símbolo de derrota e vergonha. Contudo, na cruz do Gólgota, Cristo obteve uma poderosa e definitiva vitória sobre o pecado, a morte e o diabo. A última cena de Jesus que o mundo presenciou foi Sua crucificação. Mas nós sabemos que Ele ressuscitou ao terceiro dia e que agora está exaltado à destra de Deus. Esse Salvador vive, a quem o mundo de hoje zomba e rejeita, é a única salvação para o homem pecador. Ele é o poder de Deus que transforma os seres humanos. Ninguém pode salvar a si mesmo, pois somos escravos do pecado devido à nossa natureza caída. Mas quem crê no Salvador recebe como Senhor e Redentor torna-se uma nova natureza.
“Porque, se confessares com tua boca que Jesus é o Senhor e creres em teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm 10,9).
Salvos por Jesus, Senhor Nosso, participamos da natureza divina (2 Pd 1,4).
A CRUZ: LUGAR REDENÇÃO E PERDIÇÃO
“Um dos malfeitores suspensos à cruz o insultava, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”. “Mas o outro disse: Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com teu reino. Ele respondeu: Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,39-43).
Escreve São Paulo Apóstolo: “Sede meus imitadores, irmãos, e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós. Pois há muitos dos quais muitas vezes, eu vos disse e agora repito, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo; seu fim é a destruição, seu deus é o ventre, sua glória está no que é vergonhoso, e seus pensamentos no que está sobre a terra” (Fl 3,17-19).
Pela cruz de Cristo o cristão torna-se cidadão dos céus sem ela o ímpio torna-se cidadão do inferno.
“E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3,14-15). A cruz de Cristo era uma necessidade absoluta da parte de Deus para a salvação da humanidade, porém, de fato, foi erigida pela humanidade, por causa do ódio mortal contra o Filho de Deus. Este veio ao mundo feito por Ele, mas o mundo não O reconheceu (João 1,10). Os homens não quiseram receber Aquele que estava no meio deles cheio de amor e abnegação. Eles O cravaram na cruz, a suprema expressão da mais profunda crueldade e desprezo. Esse modo de execução se aplicava aos escravos e malfeitores da época. Tal foi o lugar dado a Jesus; todas as classes sociais, que geralmente estavam em desacordo, se uniram para realizar esse ato infame. O mundo se desfez de Jesus, o Filho de Deus, e escolheu Satanás como chefe.
Ao rejeitar o Único que podia salvá-la a humanidade assinou Sua própria condenação. Até a cruz de Cristo tudo se achava, por assim dizer, em estado de observação e experimento; o homem ainda não tinha se revelado plenamente. Porém a cruz de Cristo expôs toda maldade á luz, manifestando sua inimizade contra Deus.
“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação... nós pregamos a Cristo crucificado” (1 Coríntios 1,21-23).
A cruz de Jesus está colocada entre o homem pecador e o Deus santo. Na cruz nos encontramos: eu por causa dos meus pecados, e Deus, justo e santo, que deveria castigar-me. Porém Jesus se voltou para mim e expiou minhas faltas. Depois Ele se voltou para Deus e sofreu em meu lugar o castigo que meus pecados mereciam. Ele foi condenado como meu Substituo e por Sua morte sou salvo. A cruz me reconcilia com Deus.
A cruz também está colocada entre o cristão e o mundo. O cristão toma seu lugar ao lado do Crucificado no Gólgota, aceita o desprezo e o ódio do mundo porque compreende que o melhor lugar para estar é ao lado dEle. Os que a si mesmo se consideram “mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus” (Romanos 6,11) já não vêem qualquer atrativo no mundo e naquilo que no mundo existe, porque sabem que “a amizade do mundo é inimizade contra Deus” (Tiago 4,4).
Se você mesmo sendo cristão espera aprovação do mundo, saiba que não pode andar segundo a vontade do Pai. A cruz tem um duplo efeito: ela nos reconcilia com Deus e nos separa definitivamente de um mundo cujo príncipe é Satanás. “A palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (1 Coríntios 1,18).
A cruz é o único lugar onde a santidade, a justiça e o amor de Deus foram satisfeitos para que o homem fosse salvo.
A cruz é o lugar e o momento em que o problema do bem e do mal foi resolvido; ela é o centro de toda a história do mundo. É um teste para cada indivíduo.
Ali o homem está representando nas diversas camadas sociais: judeu e pagão, bárbaro e civilizado, clérigos e laicos, privilegiados e excluídos; e todos desempenhando com prazer um papel indigno.
Pilatos, o romano, ocupava a sede da autoridade civil. Ali onde deveria se encontrar a justiça, vemos o abuso de poder. Ele condenou alguém que reconheceu como “justo” e sobre quem declarou: “Não acho nele crime algum” (João 10,4).
“O centurião, vendo o que acontecera, glorifica a Deus dizendo: Realmente, este homem era um justo” (Lucas 23,47).
O nosso mais importante e decisivo lugar, sempre será ao pé da cruz do Redentor. Pela graça de Jesus Salvador é desse lugar que vamos ter um lugar eterno junto ao trono da glória de Deus.
“Esteja á árvore da cruz plantada no vosso coração e na vossa alma. Escondei-vos nas chagas de Jesus crucificado. Banhai-vos no sangue de Jesus crucificado”, disse a grande mística e Doutora da Igreja Santa Catarina de Sena (1347-1380).
Contemplar o Calvário é o mesmo que contemplar a nossa iniqüidade e santidade.
A SANTA CRUZ
“O fogo sagrado do amor de Jesus nutre-se com o lenho da cruz”.
São Francisco de Sales (1567-1622) - Bispo e Doutor da Igreja
A muitos parece dura esta palavra do Salvador: “Renuncia a ti mesmo, toma a tua cruz cada dia e segue-me” (Lc 9,23).
Por que temes a tomar a cruz, pela qual se vai ao céu?
Na cruz está a salvação e a vida: na cruz, a proteção contra nossos inimigos.
Este Senhor foi adiante, levando as costas a sua cruz. Nela morreu por ti. Para que tu também leves a tua e nela desejes morrer. Porque, “se com ele morreres, com ele viverás” (Rm 6,8). Se fores sua companhia nos cansaços e sofrimentos, no trabalho e no esforço, também terás sua companhia na glória.
Convinha que Cristo sofresse, que ressuscitasse dos mortos e assim entrasse em sua glória. Como procuras outro caminho que não seja a estrada real da santa cruz? Toda vida de Cristo foi cruz e martírio e tu queres que a tua seja só descanso e alegria? (Imitação de Cristo, Livro 2, Capítulo 12).
CENAS DA CRUZ DE CRISTO
“Jesus, porém, tornando a dar um grande grito, entregou o espírito. Nisso, o véu do Santuário se rasgou em duas partes, de cima a baixo, a terra tremeu e as rochas se fenderam” (Mateus 27,50.51).
Na cena da cruz, Jesus está manifestado com Suas virtudes e vitórias: as primeiras em todos os Seus relacionamentos, e as segundas sobre tudo o que bloqueava Seu caminho. Que paciência para com Seus discípulos fracos e egoístas! Com que dignidade e calma respondeu aos seus adversários! Que abnegação e obediência á vontade de Deus! Essas virtudes brilharam desde que tomou a última ceia com Seus discípulos até quando expirou na cruz. E que dizer de Suas vitórias? Esteve só na batalha, expiou o pecado e anulou a morte. Poderoso vencedor!
O próprio Deus estava presente. Entrou em cena quando as trevas cobriram a terra. Ali aceitou o sacrifício do Cordeiro que havia dito: “Eis aqui venho... para fazer, ó Deus, a tua vontade”. Não podia manifestar misericórdia para com Seu próprio Filho, pois se Jesus foi feito pecado por nós, devia suportar todo o juízo, sem qualquer atenuante. Ao aceitar a substituição, Deus deveria agir para com o Substituto com todo o rigor de Sua justiça.
Então, quando o sacrifício foi completado e Jesus deu Sua vida, o véu do templo se rasgou de cima a baixo. Isso é uma figura do livre acesso que haveria dali em diante ao trono do pai para todo aquele que se arrepende e crê Nele. Assim Deus proclamava Sua plena satisfação com a obra que Seu Filho acabara de realizar.
A cruz de Jesus, cena central da história do mundo, tem conseqüências universais e eternas. Ela também tem implicações para os anjos, o céu, a terra, o inferno, o pecado, a morte e o mundo.
Ali os anjos foram testemunhas e contemplaram novas maravilhas.
O céu, a terra e o inferno estavam como que aguardando o final dessa obra anunciada pelas rochas fendidas, as tumbas abertas, a terra abalada e o céu escurecido.
O pecado e a morte foram vencidos; o véu do templo que proibia o acesso a Deus foi rasgado. A tumba vazia proclama esse triunfo até hoje.
O mundo se inteirou do juízo divino, porque nem a pedra sepulcral, nem o selo, nem os guardas puderam deter Aquele que declarou: “Eu venci o mundo” (João 16,33).
Podemos chamar a cena da cruz de “o grande desenlace”, o momento mais solene da História, cujo conjunto de atores surpreende: Deus e Jesus, o homem e Satanás, os anjos e o céu, a terra e o inferno, o pecado, a morte e o mundo. Todos ocupam um lugar, seja na vergonha, na derrota e no juízo, seja na justiça e no triunfo.
Querido leitor, tal cena também tem conseqüências práticas para a sua vida. Ninguém pode ignorar o que o Filho de Deus realizou neste mundo. Você está salvo ou perdido? Você aceita ou despreza a obra da cruz de Cristo?
ABRACEMOS A SUA CRUZ
“Abraçai-vos com a cruz que vosso Esposo levou às costas e convencei-vos de que esta há de ser a vossa empresa”.
Santa Teresa de Ávila (1515-1582) - Mística e Doutora da Igreja
“E [Jesus] começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem padecesse muito, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, e fosse morto, mas, ressuscitasse depois de três dias.” (Mc 8,31).
Quando Pedro não aceitou esta revelação de Jesus sobre Seu sofrimento, Sua rejeição, e Sua morte, ele foi, duramente, repreendido por Jesus, que o chamou de “Satanás” (Mc 8,33). Isto porque esta palavra significa “adversário” e Pedro, ao se recusar a ouvir o que Jesus dizia, estava agindo como um adversário. E, é isto o que ocorre com todos aqueles que não querem ouvir falar ou que diminuem a importância da cruz; tornam-se adversários de Jesus, inimigos de Deus (ver Tg 4,4), anticristos (ver 1 Jo 2,18) , e “inimigos da cruz” (Fl 3,18).
Jesus quer que abracemos a Sua cruz, que a beijemos, que a carreguemos conosco todos os dias (Lc 9,23), que nada falemos senão Dele crucificado (1 Cor 2,2), e, que nada exaltemos senão a santa cruz (Gl 6,14). Tudo isto porque ela é o símbolo da nossa salvação e do perfeito amor do Senhor por nós. E pode ser que a tratemos com o devido respeito e até a carreguemos no pescoço, ou, em nosso bolso, mas, o mais importante mesmo, é a escolhemos como opção de vida. Assim, tomando as cruzes da perseguição, do sacrifício, ou da rejeição, estaremos demonstrando, efetivamente, o nosso amor por Jesus.
Nós somos o povo da cruz e, por isso, nos juntamos a São Francisco de Assis, para orarmos de todo coração: “Nós Vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo!”.
Não existe cristianismo se a cruz e nem a cruz sem o cristianismo.
Uma vida sem a consciência da cruz de Cristo é uma vida sem sentido de vida eterna e tomada pelas ilusões mundanas.
TESTEMUNHAS INCANSÁVEIS
“[Eles] ensinavam ao povo e anunciavam, na pessoa de Jesus, a ressurreição dos mortos” (Atos 4,2).
Jesus ressuscitou dos mortos e nós, cristãos, estamos aqui para darmos testemunho disso. Como Pedro e João fizeram, nós também, devemos proclamar com firmeza, mesmo nas condições mais adversas, que não há “debaixo do céu nenhum outro nome dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4,12).
Entretanto, muito de nós, cristãos, não agimos assim. E não o fazemos porque não damos a devida importância para a Páscoa de Jesus, que nos parece ser apenas mais um feriado comercial do mundo. Por isso, nem passa pelas nossas cabeças dar testemunho de Jesus ressuscitado. Mas, Jesus está atento e quer que nos arrependamos dessa postura apática. É claro que Ele tem poder e meios de nos obrigar a fazê-lo; basta que Ele nos permita uma enfermidade ou cobre alguns de nossos pecados, para nos lembrarmos Dele, rapidinho. Entretanto, Ele deseja que o façamos, espontaneamente, com amor.
Mas, talvez, em Sua sabedoria, Ele acabe ajuntando as duas possibilidades, como fez para Pedro e seus companheiros pescadores: - Primeiro, Ele esperou que Pedro e os demais demonstrassem após uma noite inteira de uma pescaria inócua (Jo 21,3). Em seguida, Ele permitiu que em poucos instantes eles pescassem mais peixe do que já tinham pescado antes num dia inteiro (Jo 21,11). Isto os fez entender que fora Ele, o Senhor, que havia sido o responsável por tão grande pescaria (Jo 21,7). Esta passagem foi marcante para os apóstolos, principalmente, quando recordaram que Jesus lhes chamara para serem pescadores de homens para o Seu reino (Mt 4,19). Por esse motivo, eles se arrependeram e se tornaram testemunhas incansáveis de Jesus.
Ora, será que com um exemplo como este, ainda precisamos passar por nossas próprias “provações” para darmos testemunhos de Jesus para o mundo? Reflita bem e veja que você já tem em sua vida motivos mais do que suficientes para ser uma testemunha incansável de Jesus. Portanto, comece logo. Já a partir de hoje.
“Como discípulos de Jesus reconhecemos que Ele é o primeiro e maior evangelizador enviado por Deus (Lucas 4,44). Com a alegria da fé, somos missionários para proclamar O Evangelho de Jesus Cristo e, nEle, a boa nova da dignidade humana, da vida, da família, do trabalho, da ciência e da solidariedade com a criação” (Documento de Aparecida nº 103).
O LADO FERIDO DE CRISTO
“Mas um dos soldados transpassou-lhe o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19,34).
Durante o primeiro milênio, muitos Padres da Igreja contemplaram essa passagem com profunda espiritualidade. O lado ferido de Nosso Senhor (Chagas do lado de Cristo), donde nasceu a virgem Madre Igreja.
Com fundamento também, viram na água o símbolo do Batismo; no sangue, o da eucaristia.
O Doutor da Igreja São Boaventura afirmou: “Este é o preço de nossa redenção, saído daquela divina fonte, isto é, do íntimo do Seu Coração, para dar aos Sacramentos da Igreja o poder de conferir a vida da graça e se tornar para aqueles que vivem em Cristo uma fonte de Água Viva que jorra para a vida eterna” (LH, III, p.635).
Os Santos Padres recorrem à imagem poética e, ao mesmo tempo, profética com que o livro de Gênesis nos descreve a origem da mulher. Como Eva nasceu do lado de Adão, assim a Igreja, a esposa de Cristo, nasceu da ferida do lado do novo Adão, quando dormia sobre a Cruz. Já pelo final do século II, o grande apologista da fé cristã Tertuliano escrevia: “Se Adão foi figura de Cristo, o sono de Adão foi também figura do sono de Cristo, dormindo na morte sobre a Cruz, para que, pela abertura do Seu lado, se formasse a verdadeira mãe dos vivos, isto é a Igreja” (PL t. II, col. 767).
O Bispo e Doutor da Igreja Santo Ambrósio de Milão também fala de Cristo como o novo Adão e afirma que a vida da Igreja brotou do lado de Cristo e que todos nós somos membros do Seu corpo, de Sua Carne, de Seus Ossos. A Igreja é a verdadeira Eva, mãe de todos os viventes (PL t. XV, col 1666).
O grande pregador, Bispo e Doutor da Igreja São João Crisóstomo em uma das suas abissais pregações em Antioquia vocifera: “A lança do soldado abriu o lado de Cristo e foi neste momento que, de Seu lado aberto, Cristo construiu a Igreja, como outrora a primeira mãe, Eva, foi formada de Adão. Por isso, Paulo escreve: somos de Sua carne e de Seus ossos. Com isso quer referir-se ao lado ferido de Jesus. Como Deus tomou a costela do lado de Adão, e dela fez a mulher, assim Cristo nos dá Água e Sangue do lado ferido, e disso forma a Igreja. Lá, nas origens, temos o sono de Adão, aqui o sono da morte de Jesus” (texto citado em Stirli, J. – Cor Salvatoris, p.54).
Comentando essas palavras, (cf. Jo 19,30-34), o Doutor da Graça Santo Agostinho de Hipona afirma: “No lado de Cristo foi como que aberta a porta da vida, de onde jorraram os sacramentos da Igreja, sem os quais não se entra naquela vida que é a verdadeira vida. Aquele sangue foi derramado para a remissão dos pecados; aquela água mitiga o cálice da salvação e é, ao mesmo tempo, bebida e purificação. Este mistério havia sido anunciado de antemão por aquela porta que Noé abriu no lado da arca, ordenado por Deus (cf Gn 6,16), para que entrassem os seres vivos que deviam escapar do dilúvio(...) Ainda para anunciar este mistério, a primeira mulher foi formada do lado do homem que dormia (cf. Gn 2,22) e foi chamada de vida e mãe dos viventes (cf. Gn 3,20) (...). Aqui, o segundo Adão, tendo inclinado a cabeça, adormeceu na cruz, para que assim, através do sangue e da água que jorraram do seu lado, fosse formada a sua esposa. Ó morte, através da qual os mortos readquirem a vida! O que há de mais puro do que este sangue? O que há de mais salutar do que esta ferida?”.
O Concílio vaticano II, por sua vez, ensina que “a Igreja, reino de Cristo, desde já misteriosamente presente no mundo, cresce pela força de Deus. Sua origem e desenvolvimento são simbolizados pelo sangue e pela água que jorraram do lado aberto de Jesus crucificado” (Lúmen Gentium, nº 3).
Dizia a grande mestra da espiritualidade cristã Santa Catarina de Sena: “Escondei-vos nas chagas de Jesus crucificado”.
CONCLUSÃO
Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu a paixão por um julgamento injusto, covarde e foi condenado à morte violenta na dolorosa cruz do Calvário. No terceiro dia a sua gloriosa ressurreição foi a prova cabal da sua poderosa vitória definitiva sobre a morte, o pecado e o mundo diabólico, e, abriu para nós o mais perfeito caminho para a vida eterna de gozo com a Santíssima Trindade nas mansões celestiais.
A principal mensagem do Evangelho de Cristo é a sua ressurreição que nos aponta para plenitude da vida celestial. A morte já não existe, o seu império foi derrotado e agora vivemos em novidade constante de uma nova vida com Cristo eternamente.
A nossa fé em Jesus Cristo é o fundamento da nossa vitória (1 Jo 5,4).
O triunfo do sepulcro vazio constitui o inicial sinal essencial da ressurreição de Nosso Senhor visto por Maria Madalena, Simão Pedro e o discípulo amado, quando viu o túmulo vazio, acreditou (Jo 20,8). Depois por todos os apóstolos, por mais de quinhentos irmãos e por último ao apóstolo Paulo (1 Cor 15,3-8).
Disse Jesus: “Eu estou convosco” (Mt 28,20). Estas benditas palavras são consoladoras e afirmações: já e futura da nossa gloriosa ressurreição. Pela fé, já vivemos em Cristo a nossa ressurreição.
Pelo sangue de Cristo na Cruz e pela graça de sua ressurreição, já vivemos o mistério da imortalidade.
Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta redonda
E-mail: [email protected]
FONTES:
.Calendário Devocional Boa Semente de 2009.
.Um Pão, Um Corpo, nº 54 de 2009.
.AGOSTINHO, Santo, Confissões, São Paulo: Edições Paulinas, 1990.
.CRUZ, São João da, Obras Completas, Petrópolis, RJ: Vozes, 1990.
.ÁVILA, Santa Teresa de, Caminho da Perfeição, São Paulo: Edições Paulinas, 1986.
.GOMES, C. Folk , Antologia dos santos Padres, São Paulo: Edições paulinas, 1985.
.ALTANER, Berthold, Patrologia: Vida e Obra e doutrinas dos Padres da Igreja, São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
.AQUINO, Felipe R. Q. de, Na Escola dos santos Doutores, Lorena, SP: Cléofas, 1996.