Revista ISTOÉ: Professores relatam medo da violência em aula


30.05.2009 - Pesquisas revelam que professores sentem sua autoridade diminuir e um em cada quatro diz ter sofrido ameaça de agressão

''Vou mais um dia para a escola, desanimada e certa de que as aulas não serão dadas. Quando chego à porta da sala tenho vontade de sumir." Este é um trecho da carta da professora mineira de ensino fundamental Áurea Damasceno endereçada à Secretaria de Educação de Belo Horizonte. O texto-desabafo circulou na internet e trouxe à tona, mais uma vez, o anacronismo do modelo pedagógico na rede pública e a crise de autoridade dos professores, que costumam acumular problemas nas cordas vocais de tanto gritar dentro das salas de aula. "Metade da turma passa o tempo todo conversando, pulando de cadeira em cadeira", continua a professora Áurea, confessando que se sente dentro de "uma rebelião".

Outro inimigo dos mestres é a violência dentro das classes. Uma professora foi torturada por um aluno em São Paulo, outra, no mesmo Estado, ameaçada de morte, vários são alvo de intimidações. Uma pesquisa sobre convivência escolar divulgada no início do mês pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) e a Secretaria de Educação do Distrito Federal transforma o problema em um número desanimador: 67,6% dos educadores sentem que sua autoridade ficou mais fraca nos últimos anos. O levantamento ouviu 1,3 mil profissionais da capital federal. "O retrato sintetiza a situação da maioria das escolas públicas do País", afirma a socióloga Miriam Abramovay, que coordenou o trabalho. "Os professores se sentem numa panela de pressão."

A dificuldade começa ao entrar na sala. "Levo 20 minutos para chamar a atenção dos alunos", diz Paulina Cordeiro, que ensina geografia no ensino fundamental das redes municipal e estadual do Rio de Janeiro. "Tenho que berrar. Estou perdendo a voz", lamenta. À sua frente, jovens com celular e jogos eletrônicos - ou, até mesmo, dormindo. Esse desinteresse foi identificado na pesquisa da Ritla: 84,2% dos professores acham que os alunos prestam pouca atenção - ou nunca o fazem. Para Mírian Paura, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, isso se deve, em parte, às características atuais do sistema de ensino.

"As escolas não conseguiram se adequar à rapidez da informação e do conhecimento que os alunos encontram fora delas." A violência é o que mais assusta. Segundo a pesquisa, 26,4% dos professores já foram ameaçados pelos alunos e 7,5% sofreram violência física. Rosângela Castrioto, de São José dos Campos, em São Paulo, que dá aula de matemática no ensino médio, é uma dessas vítimas. Enquanto respondia às perguntas de uma estudante, no dia 18, ela sentiu o cabelo pegando fogo. "Um aluno veio por trás e riscou um fósforo", contou à ISTOÉ. Na delegacia, o garoto, de 16 anos, disse que "foi sem querer". "O comportamento deles está cada vez pior.

Quando estive na delegacia encontrei outra professora que registrava queixa porque tinha apanhado de uma aluna." Com Maria, professora do ensino médio, que pediu para não revelar seu sobrenome, aconteceu pior. Ela foi torturada durante 50 minutos em uma sala com 46 alunos, em São Paulo. "Amarraram minhas mãos, me amordaçaram e me jogaram no chão", conta. "Com lápis e canetas com pontas bem finas me furaram o corpo." Após o episódio, Maria teve síndrome do pânico, passou a receber ameaças e se mudou de casa.

Salários baixos e inadequação das escolas também complicam a situação. A professora de ensino fundamental Nilza Gomes dos Santos, do Distrito Federal, resume sua luta: "Só sendo muito idealista para suportar." Dividida entre 18 turmas com até 60 estudantes de ensino médio e fundamental, nas redes estadual e municipal do Rio, Rosilene Almeida da Silva reclama de esgotamento físico e emocional por causa da jornada de trabalho multiplicada.

Além de problemas na voz, o trabalho lhe causou lesões na coluna e nos braços. Por fim, ela caiu em depressão. "Entro na sala de aula e me pergunto: o que estou fazendo aqui?" Ela não é a única a fazer esse tipo de questionamento. "Minha vocação é ensinar e não lidar com a bagunça total", revolta-se Luiz Henrique da Costa, que leciona matemática no ensino fundamental na rede pública em São Paulo. Enquanto nada for feito, além dos mestres, a educação será a maior vítima desse sistema educacional falido.

Fonte: Revista ISTOÉ, maio 2009.

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Lembrando...

Violência nas escolas: alunas que trocam socos e pontapés para demonstrar liderança

30.11.2008 - Reportagem da revista ISTOÉ, dezembro 2008.

No último mês, um caso de violência chocou o País. Em um ato de vandalismo, estudantes da escola estadual Amadeu Amaral, que funciona em um prédio tombado pelo patrimônio histórico, em São Paulo, trocaram socos e pontapés, arremessaram carteiras, quebraram portas e estouraram vidros. Com medo, professores e o pessoal da direção do colégio se trancaram em uma sala de aula. A minirrebelião durou 20 minutos, causou um prejuízo de R$ 180 mil aos cofres públicos e só não terminou com as dependências incendiadas graças à intervenção da Polícia Militar. Brigas e depredações são comuns neste colégio. No episódio mais recente, porém, além da fúria dos adolescentes, um fato chamou a atenção. Foi a rivalidade entre duas alunas, uma de 15 anos e outra de 18, que agravou o conflito. A mais nova sofria perseguição simplesmente por estar matriculada há pouco tempo e morar em outro bairro. No dia do quebra-quebra as duas se encararam, trocaram palavrões, saíram no tapa. E a escola quase veio abaixo. Estudantes do sexo feminino protagonizaram outra cena de violência, dias depois, em Belém (PA). Flagradas por uma emissora de tevê, elas se estapearam do lado de fora do colégio. "Ninguém se mete", dizia um dos garotos que formavam uma espécie de octógono humano ao redor das gladiadoras. Um outro estipulava as regras do combate: "Não vale chute, arranhão ou puxão de cabelo."

Brigar na escola nunca foi uma prática exclusivamente masculina. Historicamente, na arena de confronto feminino, sobravam agressões verbais, unhadas e puxões de cabelos, principalmente na disputa pela atenção dos garotos. Mas os relatos de brigas entre meninas têm aumentado. O motivo? Elas dizem que, para serem respeitadas, têm de mostrar força e liderança, como fazem os seus pares do sexo oposto. "É como se tivessem ficado mais corajosas e isso fosse reconhecido na sociedade como um valor", diz a socióloga Miriam Abramovay.

Pesquisadora da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, Miriam coordenou o estudo Cotidiano das escolas: entre violências (leia quadro). Os dados mostram que cerca de 86 mil alunas - 10% das pesquisadas - agrediram fisicamente alguém na escola no último ano. A mudança de comportamento chama a atenção. "A fragilidade e a passividade perderam força entre elas. As agressoras não querem ser mais mulherzinhas", afirma Miriam. "Ser a namorada do valentão também não serve. Querem formar um grupo de meninas para se defender, ser elas por elas mesmas."

Chamados de "famílias", esses grupos se espalharam pelos pátios das instituições de ensino. A paulistana F. B., que fez parte durante um ano e meio da família "Sapeca" conta que certo dia as seis estudantes de sua turma brigaram a uma quadra do colégio contra oito garotas da família "Invejadas". F. B. tinha 14 anos na época e, como todas as amigas, vestia uma camiseta preta com o nome da família na cor rosa estampado na frente e seu apelido atrás. "A gente se desentendeu em um jogo de futebol no colégio. E na saída começou a confusão", conta ela, hoje com 16. A aluna continua: "A briga durou 15 minutos. Teve chute, soco, arranhão, gente com olho roxo. No dia seguinte, a diretora da escola conversou com a gente, mas não fomos suspensas."

Uma pesquisa da Udemo (Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo) revelou que, no ano passado, 86% das escolas estaduais conviveram com algum tipo de violência. Em Belém (PA), onde recentemente uma aluna foi morta a facadas por outra dentro da sala de aula, a PM já registrou cerca de 150 ocorrências nas escolas só neste ano. "Parte das alunas vê na agressão física um modo de se afirmar dentro do grupo", diz o professor Roberto da Silva, da faculdade de educação da Universidade de São Paulo (USP).

O Amadeu Amaral, depredado em São Paulo, é um dos colégios que funcionam no regime de turno integral, das 7h às 16h. "Além da tensão didático-pedagógica, professores e escolas têm de lidar ainda mais com a sociabilidade infanto-juvenil, mas não estão preparados", diz Silva. A direção do Amadeu Amaral foi procurada por ISTOÉ, mas não quis se pronunciar. A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, por meio de sua assessoria, informou que 11 alunos foram transferidos, a ronda de policias foi reforçada e as aulas seguem normais depois de uma reunião entre a direção, pais e estudantes.

O diálogo como mecanismo para solução de conflitos entre alunos, porém, não deve ficar apenas a cargo das escolas. "A sociedade civil está delegando para as instituições ações que não cabem só a elas. É compromisso de todos, comecem dentro da própria casa!", afirma a professora Henriette Morato, do Instituto de Psicologia da USP e que atua em organizações sociais com a Fundação Casa, ex-Febem. A socióloga Miriam Abramovay segue o mesmo raciocínio: "Somos todos culpados e todos vítimas." (FIM)

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Lembrando....

Acredite se quiser: Troca de socos vira diversão de estudantes em Cuiabá MT

12.11.2007 - Alunos de escolas públicas e particulares de Cuiabá arranjaram uma nova nova forma de diversão, violento e arriscado. Eles marcam encontros pela internet para trocar socos e pontapés no meio da rua. As brigas só terminam depois que alguém fica ferido.

Além de servir para avisar os estudantes sobre o dia e horário dos embates, a internet também é usada na divulgação das cenas de violência registradas durante os encontros.

No centro de Cuiabá, estudantes lutam em duplas e trocam golpes. Muitas vezes, mesmo com o adversário caído, os chutes continuam. Os duelos são incentivados pelo público.

Nos vídeos, os adversários usam uniformes de duas escolas tradicionais da capital matogrossense – uma pública e outra particular.

Os comerciantes de ruas próximas às escolas dizem que as brigas são freqüentes. Eles têm medo de gravar entrevista, mas afirmam que os estudantes marcam horários para se reunir, normalmente após as aulas, e impõem regras cruéis para os combates.

Em geral, as lutas só terminam quando um dos combatentes começa a sangrar. Nas duas escolas, os alunos evitam comentar os assuntos e dizem que os encontros violentos são encarados como esporte.

Fonte: G1

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Diz na Sagrada Escritura:

"Nota bem o seguinte: nos últimos dias haverá um período difícil.
Os homens se tornarão egoístas, avarentos, fanfarrões, soberbos, rebeldes aos pais, ingratos, malvados, desalmados, desleais, caluniadores, devassos, cruéis, inimigos dos bons, traidores, insolentes, cegos de orgulho, amigos dos prazeres e não de Deus, ostentarão a aparência de piedade, mas desdenharão a realidade. Dessa gente, afasta-te!" (2 Tm 3)

"Eis que um homem exclamou do meio da multidão: Mestre, rogo-te que olhes para meu filho, pois é o único que tenho.
Um espírito se apodera dele e subitamente dá gritos, lança-o por terra, agita-o com violência, fá-lo espumar e só o larga depois de o deixar todo ofegante". (Lc 9, 38-39)


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