26.05.2009 - Assunto polêmico no Brasil, na África do Sul o aborto já é legal desde 1996. No país, ele é praticado por crianças e mulheres na faixa entre os 12 e os 45 anos.
O procedimento é gratuito para as gestantes que não têm condições de pagá-lo. Para as que podem financiar um serviço mais rápido e confortável, existem centenas de clínicas privadas.
No meio do caminho, há uma organização não-governamental que oferece serviços e informações relacionadas a saúde, sexo e reprodução, em 41 países. Somente na África do Sul, a Marie Stopes S.A. tem 23 clínicas. A instituição é a única do país com certificado do governo e a primeira a levantar a voz contra os abortos inseguros.
Apesar disso tudo, centenas de milhares de grávidas não procuram o serviço do governo, nem a Marie Stopes, nem as clínicas privadas. Elas encontram outras soluções, que preocupam o sistema de saúde.
“Temos grandes cidades, mas a maior parte do país é rural. As pessoas moram distante e não têm instrução. Essas áreas concentram abusos sexuais de todos os tipos e negligência na saúde. Qualquer um pode pegar camisinha e pílulas nos hospitais e nas milhares de organizações, mas isso não acontece. Os pacientes são relapsos, não dão continuidade ao tratamento e não se previnem. Depois param em mãos erradas”, diz Laila, destacando a enorme indústria clandestina que se beneficia com o aborto.
“A mulher escolhe se ela vai ou não levar a gravidez adiante. Aqui ela tem esse direito. O que não podemos permitir é que milhares morram em condições durante um tratamento inseguro”, conta Laila Abbas, porta-voz nacional da Marie Stopes, que, apenas no ano passado, realizou 36 mil abortos, um pouco mais da metade dos 60 mil feitos pelo governo.
Apesar de o tema levantar discussões entre movimentos religiosos e laicos no Brasil, do outro lado do Atlântico todos parecem bem acostumados com o assunto. A partir de 1996, a lei (Choice on Termination of Pregnancy - número 92 de 12 de novembro de 1996) que dá às mulheres o direito de escolher a interrupção da gravidez vem sendo cumprida. Ela ratifica os direitos de cada um sobre decisões reprodutivas e determina que homens e mulheres devem ter acesso a procedimentos seguros e eficazes.
Após a entrada da lei em vigor, o número de abortos cresceu, segundo dados do governo. A maior diferença foi na província de Gauten, onde fica Jonhanesburgo. Em 1996, o número de abortos foi de 13.505. Em 2004, segundo as estatísticas do governo, chegaram a 36.845, um crescimento de mais de 200%.
Em Eastern Cape, província com vasta área rural, a situação em relação aos métodos contraceptivos é ainda mais precária. Mesmo assim, o aumento foi considerável, de 2.693 em 1996 para 10.015 em 2006.
Na última década, a Marie Stopes e o governo realizaram, ao todo, mais de 670.600 abortos em toda a África do Sul. “Cada uma tem uma motivação diferente para fazer o aborto. O país não julga a opção da mulher. Por isso, muitas de países visinhos vêm para cá”, conta Laila. Zimbábue e Namíbia, países vizinhos, têm governo absolutamente contrários à legalização do aborto.
Durante a visita do G1 à organização, conversamos com uma namibiana que aguardava ser chamada para finalizar o procedimento. R.S,.representa um perfil de gestante que, a primeira vista, não parece comum, mas que exista na realidade sul-africana. Bancária, 31 anos, casada e mãe de dois filhos (4 e 6 anos), seu maior incentivo para desistir do terceiro foi a situação financeira precária. “Os gastos são altos demais para uma terceira pessoa. A família está completa e compartilha a decisão”, diz, mencionando que, desde o início, teve o apoio do marido.
Ela estava na clínica pela segunda vez. O dia anterior havia sido destinado aos esclarecimentos. Depois de sanadas as dúvidas, a paciente marca o horário para o procedimento cirúrgico, que dura cerca de cinco minutos.
Na sala de cirurgia, o tempo é curto porque, na verdade, o processo começa bem mais cedo. Dependendo do tempo de gravidez, as mulheres tomam de duas a seis pílulas abortivas que determinam o início do processo.
Elas tomam duas das pílulas na própria clínica. O processo entre as salas de espera, cirúrgica e de repouso leva quatro horas. Depois, todas estão liberadas.
Por esse serviço, a cliente paga no mínimo 2.420 rands (R$ 590) e, no máximo, 3.430 rands (R$ 835). No caso de R, que estava com 14 semanas de gravidez, o preço foi o mais caro. Ela tomou conhecimento sobre a clínica pela internet, após descobrir a gravidez no final de março. “Eu me descuidei. Parei de tomar pílula. Quando soube da gravidez pensei na possibilidade do aborto. Pesquisei na internet e encontrei a Marie."
A taxa de natalidade sul-africana está em 2,6 filhos por mulher, bem próxima da brasileira, que é de 2,3 filhos. Devemos considerar, também, as condições em que muitas mulheres fazem o aborto. “Elas não querem o filho e se jogam de escadas, introduzem objetos para atingir o bebê e acabam perfurando outros órgãos”, exemplifica Leila. Segundo ela, 40% dos 50 milhões de abortos no mundo são realizados sem condições de segurança, em mulheres de 15 a 24 anos. Laila diz que, na África e na América Latina, 95% dos abortos são realizados em condições precárias, nada seguras, o que coloca em risco a vida da mulher. Por ano, 70 mil mulheres morrem fazendo abortos, e 5 milhões sofrem algum problema durante a cirurgia.
F.J, de 20 anos, procurou a clínica com medo de se submeter a um procedimento sem segurança. Ela aguardava na recepção antes de seguir para a sala de espera. Calma, ela nos disse que a escolha, sem dúvida, era a melhor para ela. “Sou muito jovem e a gente está junto só há dois meses”, contou a jovem mostrando o namorado de 24 anos, que fazia companhia. Em casa, ninguém sabe, entre os amigos também não.
F. estava bem decidida e parecia longe de qualquer arrependimento. “Nós ainda não trabalhamos. Não temos como formar uma família. Seria muito pior se escolhêssemos ter o bebê”, fala a jovem que estava na sexta semana de gestação. T.Y, o pai, observava a conversa quieto. Quando perguntamos a opinião dele (como pai) sobre a legalização do aborto, ele foi incisivo."Há situações favoráveis para ter um filho e, se não for o momento ideal, acho que podemos adiar essa etapa. Acho uma escolha justa."
Fonte: G1
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Lembrando...
Lei do aborto converteu ao México DF em cidade homicida, adverte Arquidiocese
01.05.2009 - O semanário “Desde a Fé” da Arquidiocese do México qualificou de “nefasto” o segundo aniversário da suspensão da pena sobre o aborto até as doze semanas de gestação, pois esta lei converteu DF em uma “cidade homicida”, com mais de 23 mil abortos praticados legalmente e 14 mães mortas, segundo o grupo “ProVida”.
Em seu editorial, “Desde a Fé” assinalou que nos últimos três anos o crime organizado acabou com a vida de dez mil pessoas, mas em dois anos o aborto legal duplicou essa cifra nos hospitais públicos. Segundo ProVida, nos dois anos que leva de despenalizado, praticaram-se em DF mais de 23 mil abortos e morreram 14 mães.
O texto advertiu que esta lei “imoral, iníqua e intrinsecamente perversa” está narcotizando “a consciência de todos os envolvidos”, mas sobre tudo está envenenando às novas gerações que começam a ver o aborto como algo normal, a pesar de significar a morte de inocentes no ventre de suas mães.
Entretanto, destacou a decisão das legislaturas de onze estados mexicanos que blindaram o direito à vida desde a concepção, “fechando assim as portas (…) e demonstrando que não se deixam chantagear por grupos intolerantes e agressivos financiados pelos mais escuros interesses internacionais que perderam o rumo da vida, que não escondem seu ódio à Igreja e sua maligna inspiração, e querem impor em toda a sociedade modelos de realização hedonistas, irresponsáveis e egoístas”.
Da Fé afirmou que a postura destes políticos é uma lição para aqueles outros grupos e partidos que parecem decididos a apoiar a destruição moral das mulheres e a desintegração da família.
Fonte: ACI