18.05.2009 - O recente avanço taleban para Islamabad, a capital paquistanesa, reavivou o temor internacional de que os extremistas possam dominar armas nucleares. Mais que a possibilidade de que tomem o poder, preocupa o risco de que se infiltrem nas instalações em que são fabricadas ou interceptem uma transferência de material que lhes permita elaborar uma "bomba suja". O centro de enriquecimento de urânio de Gadwal está a menos de 100 quilômetros do distrito de Buner, de onde há três semanas o exército paquistanês tenta desalojar os rebeldes. Por isso a França ofereceu cooperação em questões nucleares ao presidente Asif Zardari.
A simples menção de que suas armas nucleares correm o risco de cair nas mãos dos taleban indigna os paquistaneses. "Esse debate começou nos anos 90, muito antes que aparecessem os taleban", lembra Khalid Rahman, diretor do Instituto de Estudos Políticos, uma organização não-governamental. "Então se dizia que o Paquistão não era capaz de garantir a segurança de suas armas nucleares. Depois de 25 anos, foi desmentido." Rahman mostra-se convencido de que a preocupação ocidental em relação ao assunto é "mais propaganda que realidade".
Um artigo recente no jornal "The New York Times" registra a preocupação de vários altos funcionários americanos de que os radicais islâmicos tenham acesso às armas. Mencionaram a possibilidade de que os rebeldes provoquem um incidente que leve o Paquistão a deslocar as armas e alguém de dentro lhes informe os dados que lhes permitam interceptá-las. Outro risco é que algum simpatizante consiga se colocar dentro de uma instalação nuclear.
"É ridículo", responde o comodoro aposentado e analista militar Tariq Majeed. "Não existe a menor possibilidade de que se aproximem delas." Na opinião dele, a ameaça que os taleban representam não chega a esse ponto. "O Paquistão atravessa uma situação muito difícil por causa dos extremistas, mas trata-se de uma força muito pequena, limitada ao norte do país e que terminará sendo eliminada", acrescenta.
No entanto, os dois reatores de Khushab, a cerca de 200 km ao sul de Islamabad, encontram-se muito perto da Província da Fronteira Noroeste, pela qual a insurgência taleban conseguiu se estender. Alguns observadores também consideram vulnerável a usina de enriquecimento de urânio de Gadwal, a 96 km ao sul de Buner.
O Paquistão não assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear e mantém em segredo tanto o número de suas armas atômicas como os locais onde as guarda. Mesmo assim, os especialistas calculam que pode ter entre 60 e cem ogivas.
A responsabilidade formal sobre o arsenal recai na Autoridade de Comando Nacional encabeçada por Zardari e que também inclui os responsáveis militares do serviço secreto. No entanto, existe a convicção de que seu controle real está nas mãos do chefe do Estado-Maior, o general Ashfaq Kayani. Sua custódia corresponde ao Departamento de Planos Estratégicos, dirigido pelo general Khalid Kidwai. Os porta-vozes oficiais sempre negaram que exista alguma vulnerabilidade.
No final de abril, diante das dúvidas manifestadas em vários meios de comunicação internacionais, os chefes do Estado-Maior conjunto emitiram um comunicado chamando-as de "infundadas" e de tentar criar um "alarme desnecessário". O órgão militar máximo paquistanês insistiu nos "robustos controles de custódia e diferentes níveis de proteção que asseguram a infalibilidade da segurança" de seu arsenal. Embora por motivos óbvios não exista informação detalhada sobre em que consistem esses sistemas, ao longo do tempo foram se conhecendo alguns detalhes.
O presidente anterior, general Pervez Musharraf, declarou em 2007 que as armas se encontravam "desmontadas", o que foi interpretado como que as ogivas nucleares são mantidas separadas dos mísseis balísticos encarregados de levá-las a seus eventuais alvos. O general Kidwai, por sua vez, disse que podem ser montadas muito rapidamente em seus sistemas de lançamento. Isso exigiria o transporte dos componentes, um processo em que poderiam ficar vulneráveis. No entanto, seu acesso é protegido por uma série de "cadeados" eletrônicos que os militares paquistaneses consideram suficientemente seguros para que nem extremistas islâmicos nem eventuais sabotadores indianos possam ter acesso a eles.
Fonte: UOL notícias
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Lembrando...
Paquistão: fiéis a Cristo apesar das ameaças fundamentalistas
16.11.2008 - Entrevista a Dom Lawrence Saldanha, arcebispo de Lahore
Ameaças, torturas e terror: os extremistas muçulmanos exercem uma forte pressão sobre a minoria cristã no Paquistão, mas, apesar disso, a maior parte dos crentes em Cristo permanece solidamente ancorada em sua fé.
Alguns deles, contudo, se vêem obrigados a passar ao Islã, denuncia nesta entrevista concedida à Zenit o arcebispo de Lahore e presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, Dom Lawrence Saldanha.
A entrevista aconteceu em Berlim, depois de que o prelado apresentasse o novo «Informe sobre a Liberdade Religiosa no Mundo», redigido pela associação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
– Em uma carta enviada em setembro, o senhor lançou um chamado ao neo-presidente do Paquistão para que defenda os direitos das minorias. Que resposta obteve?
– Dom Lawrence Saldanha: Ele não disse nada. Recebeu minha carta, que espero tenha surtido algum efeito, mas não se pronunciou abertamente sobre a questão. Creio que, de qualquer forma, já é um fato positivo que a tenha aceitado.
– O problema da discriminação no Paquistão é ainda tão evidente como no passado?
– Dom Lawrence Saldanha: Sim, é, porque hoje a causa são os extremistas muçulmanos, os fundamentalistas islâmicos, que querem impor suas idéias sobre o Islã.
Sustentam concepções muito rígidas e pretendem sobretudo que se introduza o direito islâmico. Por exemplo, queriam que as mulheres usassem véu e que os homens deixassem a barba crescer. Se dependesse deles, a música seria abolida, assim como o cinema e a televisão.
Mas quem paga por este extremismo não são só os cristãos, e sim também os outros muçulmanos.
– Em 2007, houve várias tentativas de aprovar leis que proibissem a mudança de religião. Qual é a situação atual?
– Dom Lawrence Saldanha: Não foram introduzidas ainda, mas sempre poderia acontecer. Deste modo, todos – inclusive os próprios muçulmanos – teriam muitas dificuldades para mudar a própria religião.
Hoje acontece cada vez mais freqüentemente que os extremistas pressionam os cristãos para passar ao Islã. Isso é para nós um problema sério. Estão fazendo de tudo para converter ao Islã os cristãos e os hindus. Há moças que foram obrigadas a casar-se com muçulmanos e a mudar de religião. Uma coisa semelhante aconteceu com enfermeiras que prestavam serviço hospitalar. É um fenômeno mais estendido e que viola a liberdade religiosa. Por esta razão, cada vez com mais freqüência estamos obrigados a chamar a atenção sobre estes fatos.
– Como os cristãos enfrentam estes enormes desafios?
– Dom Lawrence Saldanha: Muitos não prestam atenção ao que se lhes diz, outros dizem que se trata de brincadeiras, enquanto outros têm medo. E algumas vezes são obrigados a passar para o Islã. Por exemplo, conheço em Lahore o proprietário de uma loja, que ganha bastante, e que no final foi obrigado por outros comerciantes a tornar-se muçulmano para que o deixassem em paz. Se não, teria de fechar a loja.
Como você pode ver, o problema de ser uma minoria está sobretudo no fato de que somos tratados em nossa terra como forasteiros, ainda sendo paquistaneses. Somos marginalizados em nossa própria sociedade e por isso às vezes nos vemos tendo de enfrentar grandes desafios.
– Há sinais de esperança para os cristãos no Paquistão?
– Dom Lawrence Saldanha: Agora temos um novo governo e nossa esperança é que se atenha ao programa sobre a liberdade religiosa. Outro sinal cheio de esperança é que a polícia cada vez com mais freqüência protege os cristãos em perigo.
O governo não está contra os cristãos. Há apenas um grupinho de extremistas que quer impor suas idéias. As pessoas têm medo deles porque recorrem à tortura, às ameaças, chegando inclusive a matar. Matam todos aqueles que não lhes agradam. Eles recorrem inclusive aos atentados suicidas com bombas para alimentar o medo e amedrontar as pessoas.
– O que espera desta visita à Europa?
– Dom Lawrence Saldanha: Esperamos que nossos amigos no Ocidente compreendam as dificuldades que temos de enfrentar. Somos uma escassa minoria e por isso nossa situação freqüentemente não é conhecida. Mediante o Informe sobre a Liberdade Religiosa no Mundo e a coletiva de imprensa, muitos conhecerão nossa situação e poderão nos apoiar.
Por outro lado, teremos problemas quando os extremistas souberem deste evento. Eles se vingarão. Já assassinaram muitos jornalistas. Cada ano há jornalistas que sofrem ameaças, e às vezes alguns deles morrem porque escrevem sobre suas atividades. Vivem em uma constante situação de temor: este é o problema do nosso país. Inclusive as emissoras de televisão recebem ameaças de atentados bomba.
– O que poderemos aprender dos cristãos de sua terra, que vivem em uma situação tão difícil?
– Dom Lawrence Saldanha: Eles possuem uma fé forte, são muito sólidos na fé em Cristo e põem sua esperança n’Ele. Confiam em que nosso Senhor Jesus Cristo os ajudará.
Agora vivem sua fé de maneira muito ativa, nutrem uma forte devoção, estão muito comprometidos e voltaram a vir à Igreja. Todos estes fatos, dos quais falamos, uniram os cristãos.
Oram e esperam que as coisas melhorem algum dia. Esta é uma lição que podemos aprender com eles: o fato de que continuam sendo fiéis ao seu credo.
Fonte: www.zenit.org