16.05.2009 - Aos mornos cuspo fora da minha boca... Assim diz Jesus no livro do Apocalipse. Nós estamos num tempo de batalha final, onde podemos afirmar que pelo menos 90% de católicos ainda são tíbios, mornos, frouxos, apagados... todos ainda apegados ao mundo. Acham que nada tem a ver com eles, e imaginam - erradamente - que vão se livrar da Cruz... E hoje fazem de tudo para se livrar dela. Para que outros as carreguem... O padre André explica muito bem sobre estes, neste artigo. Os que têm vergonha de se expor em público em demonstrações de fé, destes Deus se envergonhará deles na hora da apresentação ao Pai. Está chegando o momento da decisão final. A qual dos senhores escolheremos?
A Tibieza
“Ninguém pode servir a dois senhores: odiará a um e amará ao outro; ou se apegará a um e desprezará o outro”. (Matth., VI, 24).
A exemplo de alguns Padres da Igreja, pode-se ver em Mamon, o falso deus sobre que fala Nosso Senhor, não apenas o dinheiro, mas também outros apegos terrestres, materiais, que entravam o progresso espiritual.
Quero-vos falar da tibieza, doença da alma muito comum – ela contagia a metade ou bem três quartos dos cristãos que estão em estado de graça; e tal é realmente terrível, já que é preciso crer nas palavras da Escritura:
“Deus vomita os mornos de sua boca”,
i. é, ele os expulsa para longe de si, e por conseqüência, essas almas estão em grande perigo de cair no inferno eterno, caso não mudem de vida.
Ora, a tibieza, que afeta tanto os clérigos – i. é, os padres e os bispos – quanto os laicos, se encontra em três tipos de pessoas:
1) Em primeiro lugar, as que saíram duma má vida, em estado de pecado mortal, para retornar a uma vida normal, em estado de graça. Mas então, satisfeitas consigo mesmas, cessam os esforços e não querem mais se elevar...
2) Há aquelas que, depois de atingirem uma vida fervorosa, amiúde bem jovens, esfriam para uma vida de tibieza, de mediocridade. Deus vela para que não despenhem para muito baixo! É o caso de inúmeros religiosos, se se levar em conta as palavras da Imitação, e a experiência cotidiana!
3) Finalmente, há o caso dos cristãos que de natural são felizes: eles nunca buscaram se tornar melhores. Deve-se pois sacudir-lhes a indolência, o torpor – eles dormem!; mais das vezes, só de uma coisa precisam: um bom diretor espiritual, que lhes apontará os caminhos da vida perfeita.
Mas em que consiste esta terrível doença espiritual, ignorada por tantos cristãos, e contudo tão difundida? Quais são os sintomas, entre os “bons” cristãos?
Pode-se distinguir pelo menos dois:
1) Confissões e comunhões rotineiras; por vezes, mais e mais espaçadas. Orações rápidas e superficiais, sem concentração para pôr-se diante de Deus, para entrar em contato com ele. Sem oração diária, não há verdadeiros exames de consciência.
2) O cristão tíbio tenta evitar um pouco o pecado venial, mas conserva os “pecadilhos”; não se submete totalmente a Deus: quem é mundano, continua mundano; o amante dos bons vinhos e da boa vianda assim permanece; os intrigantes, os faladores continuam a cometer faltas contra a caridade, tranqüilamente...
Em suma, a tíbio vive ainda em estado de graça, mas de maneira lânguida, preguiçosa; deixa-se levar pelas emoções do momento, sejam elas a piedade, a cólera ou outra paixão qualquer. Ele sente o furor de viver... está satisfeito demais consigo...
Quais são as causas desta doença da tibieza?
Convém distinguir duas fases da vida: a juventude e a madureza, ainda que no fundo as causas profundas sejam idênticas, não importa a idade.
1) Na juventude, há de se apontar sobretudo a dissipação e a imaginação, a dispersão.
A dissipação é natural, diria quase normal, entre os jovens, sobretudo em nossa época. Querem ver tudo, escutar tudo, conhecer tudo. Daí o prestígio do audiovisual, que favorece essa tendência natural.
Ela torna difícil o recolhimento, a oração concentrada, ambos necessários para o progresso na vida espiritual. Daí a sabedoria da Igreja ao instituir pequenos seminários, para permitir o melhor desenvolvimento, mais rápido e seguro, da alma das crianças.
A imaginação é a segunda causa da tibieza: às vezes a emotividade ilude, e por vezes chega a enganar os diretores espirituais. A imaginação pode dar ares de profundidade a um padre que, em verdade, é distraído.
Outras vezes, os jovens constroem ilusões sobre o porvir, sobre seus futuros triunfos. Não estando suficientemente maduros para se afastarem do ambiente e dominá-lo, muitos jovens se deixam dominar por ele, como a folha que o vento carrega; isso explica o sucesso das modas – as roupas, as músicas e outras mais.
Daí vem a tibieza religiosa, admitindo-se que ainda existam cristãos pios, pois que a vida do discípulo fervoroso do Cristo exige esforços, recolhimento, um certo distanciamento do mundo: muitos membros da Ação Católica não entenderam isso, e então, em vez de converter o próximo, pouco a pouco converteram-se ao mundo, por assim dizer; um bom número dentre eles se tornaram marxistas. São os cristãos camaleões.
2) Na madureza, é preciso assinalar como causa especial da tibieza a ambição e a vida muito atarefada.
Amiúde elevam a ambição ao posto de virtude, por causa da propaganda comercial e dos meios de comunicação. Hoje, é inadmissível que um homem aceite seu estado de vida: ele deve subir na hierarquia social, e para isso, ganhar mais. Neste passo, deparamo-nos com a proibição do Cristo:
“Não podeis servir a Deus e a Mamon”
E tanto pior que desta ambição excessiva e materialista decorre uma vida muito atarefada: quantas vezes observei eu na Argentina pessoas que batalhavam em duas trincheiras diferentes: um comércio ou representação, e mais um emprego na estrada de ferro ou um cargo de professor...
Muitos argentinos só têm uma ambição: ganhar mais, ter sucesso, possuir um carro, que mais? As preocupações espirituais não ocupam mais um lugar de vulto em suas vidas – ainda que direita e honesta – muito apegadas a esta terra.
Poderíamos ainda continuar por bastante tempo o estudo das causas da tibieza entre cristãos pios: o orgulho, a falta da verdadeira caridade, i. é, o egoísmo etc., tudo leva à tibieza.
Os remédios também são fáceis de se indicar, mas menos fáceis de se tomar, pois:
“O Reino de Deus padece violência, e são os violentos que entram nele”.
Antes do mais, é forçoso organizar a vida de piedade, adotar uma norma de vida, hábitos rigorosos, se não, a vida dependerá do capricho do momento.
Por exemplo, a oração de joelhos, de manhã e à noite, com duração suficiente, respeitosa, séria, devota. É dizer que existem cristãos, que se tem na conta de bons cristãos, e não oram regularmente nem de manhã nem à noite! Contudo, isso é o mínimo que se exige... são com certeza tíbios...
O exame de consciência deve sempre estar presente na vida de piedade dum cristão fervoroso, a cada noite; o rosário, a cada dia; e se possível for, uns quinze minutos ou meia hora de meditação ou oração; ou então a leitura cotidiana de algumas passagens do Novo Testamento ou dum livro de espiritualidade.
Em seguida, deve-se alimentar da Santa Missa, e da Santa Comunhão e do sacramento da Penitência recebidos pelo menos uma vez por mês; ainda aqui, haveria muito a se falar da tibieza inconsciente de muitos cristãos tradicionalistas, que se contentam com duas ou três confissões por ano.
Há mister de se preparar para a Santa Missa, o que é dizer chegar antes de seu começo. Neste ponto, parece-me que os católicos ingleses são mais fervorosos; nunca os vi atrasados... enquanto entre nós o atraso é habitual, prova inconteste de tibieza.
Geralmente, um bom retiro é o remédio definitivo para essa doença, um que dure uns cinco dias...
Narra-se o fato seguinte da vida de São Bernardo: uma noite, estava ele no coro, recitando o ofício divino com seus monges, quando de repente vislumbrou ao lado de cada um deles um anjo, cada qual a escrever num livro de registro. Alguns escreviam em letras d’ouro; outros, com letras de prata; outros ainda, só com tinta. Havia também os que nada escreviam.
Deus, nesta visão, quis comunicar a São Bernardo a diferença de fervor entre os vários monges: os fervorosos e os menos fervorosos; os que tão-só pronunciavam as palavras, sem devoção; a última classe era a dos preguiçosos, que não oravam: estavam de corpo presente, mas a alma viajava.
A lição é evidente para todos. Como oramos? Como nos aproximamos dos sacramentos? Como assistimos ao Santo Sacrifício da Missa? Se o puderam transformar e distorcer tão a fundo, a ponto de não mais denominá-lo de Sacrifício, mas uma eucaristia, uma refeição, como queria Lutero, não foi por causa de nossa tibieza passada, da tibieza de milhões e milhões de cristãos?
Estamos a imitar aquela senhora que se lastimava com Monsenhor de la Motte, bispo de Amiens, da duração excessiva da missa paroquial. Respondeu-lhe o prelado:
“Senhora, se achais a missa excessivamente longa, talvez seja a vossa piedade excessivamente curta.”
Que não se repita conosco o mesmo, se quisermos crescer na vida espiritual, no amor de Deus que pode, por si só, contentar nossa alma plenamente, neste e no outro mundo.
Padre André
Fonte: http://www.recados.aarao.nom.br