06.05.2009 -Abaixo, uma excelente reflexão de DIETRICH VON HILDEBRAND em seu “Cavalo de Tróia dentro da Igreja”, pp. 109-110.
"Assistimos, hoje, a uma deformação do movimento litúrgico quando muitos tentam substituir os sublimes textos latinos da Liturgia por traduções nativas, com gíria. Chegam mesmo a mudar, arbitràriamente, a Liturgia no intuito de “adaptá-la aos nossos tempos”. O Canto Gregoriano vai dando lugar, na melhor hipótese, à música medíocre, quando não ao jazz ou ao rock and roll. Essas grotescas substituições empanam o espírito de Cristo incomparàvelmente mais do que o fizeram certos tipos antigos e sentimentais de devoção. Esses eram inadequados. Aquêles, além de inadequados, são antitéticos à sagrada atmosfera da Liturgia. É mais do que uma deformação; isso lança o homem em uma atmosfera tipicamente mundana. Apela no homem para algo que o torna surdo à mensagem de Cristo.
Mesmo quando se substitui a beleza sagrada, já não pela vulgaridade profana, mas por abstração neutra, incorre-se em sérias conseqüências para as vidas dos fiéis, pois, como indicamos, a Liturgia católica se dirige à personalidade total do fiel. O fiel não é atraído ao mundo de Cristo apenas por sua crença ou por símbolos estritos. São levados a um mundo mais alto pela beleza da igreja, por seu ambiente sagrado, pelo esplendor do altar, pelo ritmo dos textos litúrgicos, pela sublimidade do Canto Gregoriano ou por músicas verdadeiramente sacras, tais como a Missa de Mozart ou de Bach. Até mesmo o perfume do incenso tem função significativa, nesse sentido. O emprêgo de todos os canais capazes de introduzir-nos no Santuário é profundamente ree-lista e profundamente católico. É autênticamente existencial e realiza função notável em ajudar-nos a elevar nossos corações.
Se é verdade que considerações de cunho pastoral poderão recomendar como desejável o uso do vernáculo, o Latim da Missa - na missa silenciosa, dialogada e, especialmente, cantada com o Gregoriano - jamais deveria se abandonado. Não se trata de guardar o Latim de Missa por certo tempo até que os fiéis se habituem à missa em vernáculo. Como a Constituição da Sagrada Liturgia claramente determina, é permitido o uso do vernáculo, mas a Missa em Latim e o Canto Gregoriano conservam tôda sua importância. Foi essa a intenção do motu proprio, de São Pio X, que afirmou ser o Latim da missa, como o Canto Gregoriano, responsável também pela formação da piedade dos fiéis, através da atmosfera sagrada e única gerada por sua dição. Assim os anseios de muitos católicos e do movimento Una Voce não se dirigem contra o uso do vernáculo, mas contra a eliminação da Missa em Latim e do Canto Gregoriano. Eles apenas estão pedindo que se cumpra, realmente, a Constituição da Sagrada Liturgia.
Contudo, certos católicos de hoje manifestam o desejo de mudar a forma exterior da Liturgia, adaptando-a ao estilo de vida de nossa época dessacralizada. Esse desejo denota cegueira com relação à natureza da Liturgia, bem como ausência de respeito reverencial e gratidão pelos dons sublimes de dois mil anos de vida cristã. Acreditar que as formas tradicionais podem ceder o lugar a algo melhor é dar provas de uma ridícula auto-suficiência. E êsse conceito é particularmente incongruente nos que acusam a Igreja de “triunfalismo”. De um lado, eles consideram falta de humildade da Igreja proclamar que Ela só é detentora da plena revelação divina (em vez de perceber que essa proclamação se fundamenta da natureza da Igreja e decorre de sua missão divina) . De outro lado, demonstram ridículo orgulho quando simplesmente assumem que nossa época moderna é superior às anteriores.
Podem-se ouvir, hoje, vozes de protesto declarando, por exemplo, que o texto do Glória e de outras partes da Missa estão repletos de expressões cansativas de louvor e glorificação a Deus, quando deveriam fazer mais referências a nossas vidas. É um contra-senso que revela como tinha razão Lichtemberg ao dizer que, se fôsse dado a um macaco ler as epístolas de São Paulo, êle veria sua própria imagem refletida nelas. Admiram-se os nossos “teólogos” modernos não apresentarem, dentro em breve, uma nova versão do “Pai Nosso”, como o fêz Hitler. O “Pai Nosso” claramente enfatiza o primado absoluto de Deus, tão distante da mentalidade típica moderna. Um único pedido diz respeito ao bem-estar terrestre : “o pão nosso de cada dia” … O restante diz respeito ao próprio Deus, a seu Reino, a nosso bem-estar eterno".
Fonte: http://salterrae.org/