Caçador de vírus explica como impedir futuras pandemias


06.05.2009 - Nathan Wolfe, talvez o principal "caçador viral" do mundo, é diretor da Iniciativa Global de Previsão Viral e professor de biologia na Universidade de Stanford. Ele conversou com o editor do "Global Viewpoint Network", Nathan Gardels, na sexta-feira (1).

Global Viewpoint: Quais são as condições comuns nas quais epidemias nascidas de outras espécies ou pandemias como HIV, Ebola, gripe aviária e agora a gripe suína emergem ou incubam? Quais condições combinam para criar um "hotspot" viral?

Wolfe: As condições para os surtos em "hotspots" como a Bacia do Congo na África Central ou partes do sudeste asiático são uma diversidade de vida selvagem e uma densidade populacional em interface próxima com animais domésticos. As doenças infecciosas que a humanidade hoje enfrenta são, em geral, de origem animal.

É claro que desde sempre os seres humanos e animais estão em contato. As pessoas vêm caçando há 5 milhões de anos de história humana.

O que mudou foi a conectividade intensificada entre humanos - aviões, trens, automóveis e também, até certo ponto, o movimento dos animais. Os seres humanos são o combustível para esses vírus. Eles precisam de seres humanos para realmente decolarem.

Se alguém em uma zona rural de baixa densidade populacional ou numa pequena aldeia é infectado, o vírus se move rapidamente pela pequena população. Os infectados morrem ou se tornam imunes. Isso mudou com a conectividade acelerada, especialmente nesses tempos de globalização. Em vez de os vírus desaparecerem, as doenças agora se espalham e vão sofrendo mutações, passando por grandes populações em vastas distâncias, como fizeram o HIV e o Sars e agora o H1N1 (gripe suína).

Global Viewpoint: Em Veracruz, México, os aldeões viviam perto de uma enorme criação de porcos, a jusante no rio e na direção do vento, e poderiam ter absorvido o vírus dos dejetos dos porcos, da água, pelo ar ou transportado por pássaros. Esse tipo de interface entre animais e humanos pode ter gerado o vírus H1N1?

Wolfe: Primeiro, algumas noções gerais. Todos os vírus de influenza são vírus de aves.

A diversidade de aves é muito maior do que a diversidade limitada de mamíferos. Há muito potencial para transmissão. Dentro da diversidade das aves, os vírus podem ir de um pássaro para galinhas domesticadas, destas para porcos, de pássaros domésticos ou selvagens para porcos, de porcos para humanos e de humanos para porcos.

Com esse vai e vem, "vírus filhos" podem ser formados que são mosaicos, pedaços de diferentes hospedeiros. Vírus cosmopolitas são criados, que podem ser uma mistura, digamos, de ave, porco e humano. Esse parece ser o caso do H1N1.

Agora, um menino no México, Edgar Hernandez, é chamado de "caso zero".

Mas ele não é o primeiro caso, apenas o primeiro caso confirmado. Ele definitivamente não é o indivíduo que foi primeiramente infectado. A atual hipótese do H1N1 é que é um vírus de porco que infectou humanos. Mas certamente não começou por meio de Edgar.

Pelo que sabemos sobre esse tipo de vírus, quando chega aos mamíferos, é um vírus respiratório. Isso significa que não pode ser contraído por contato com a carne ou com as fezes. Você só pode contrair a doença inicialmente por contato com um porco vivo infectado - em outras palavras, de aerossóis da respiração daquele porco. Portanto, suspeito que a ideia de contaminação por estar à jusante ou na direção do vento a partir daquela criação de porcos é uma falácia.

Global Viewpoint: Como impedir tais pandemias no futuro?

Wolfe: Certamente que precisamos desse tipo de resposta de brigada de incêndio que estamos vendo agora contra o H1N1 no México e em outras partes, mas seria muito melhor para a saúde pública impedir surtos no futuro monitorando de perto ou vigiando essas zonas propícias, nas quais as pessoas têm muita exposição a animais - o portal das doenças infecciosas. Desta forma, poderíamos pegar qualquer vírus antes dele ter a chance de entrar na população humana.

Em Camarões, onde minha equipe estudou os caçadores que estão expostos aos fluidos corporais e sangue de macacos, porcos selvagens e outros animais, pudemos descobrir e mapear os genes de um novo retrovírus que saltou dos gorilas para os humanos. Como agora temos a informação biológica necessária, podemos responder a esta doença assim que aparecer na população mais ampla com uma vacina ou outro tratamento.

Na área de doenças infecciosas, precisamos fazer o que foi feito na medicina para ataques cardíacos nas últimas décadas - mudar o foco do tratamento após o fato para a previsão e a prevenção.

Fonte: UOL notícias

 

 


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