Ateus adotam nova estratégia: ir a público


04.05.2009 - Dois meses após uma organização ateia local colocar um cartaz dizendo: "Você não acredita em Deus? Você não está sozinho", os 13 membros do conselho do grupo reuniram-se na sala de Laura e Alex Kasman para lidar com as consequências.

O problema não foi que o grupo, os Humanistas Seculares de Lowcountry, tinha virado alvo de hostilidades. Foi o oposto. Mais de 100 pessoas apareceram para seu simpósio público, e os membros do conselho estavam discutindo se não era hora de encontrar um espaço maior.

E agora os pais estão pedindo programas orientados para a família, nos quais possam se reunir com outros ateus de mente parecida.

"Todo mundo é a favor de patrocinar um piquenique para humanistas com famílias?", perguntou o presidente do conselho, Jonathan Lamb, meteorologista de 27 anos, ouvindo um coro de "sim".

Mais do que nunca, os ateus dos EUA estão se unido e se expondo - mesmo aqui na Carolina do Sul, lar da Universidade Bob Jones, das Leis Blue e de uma câmara legislativa que no ano passado aprovou unanimemente uma placa de carro cristã com uma cruz, uma janela de vitrais e as palavras "Eu Acredito". (A medida foi vetada por um juiz e agora irá a julgamento.)

Eles estão se conectando via Internet, fazendo reuniões em bares, colocando anúncios em cartazes e ônibus, se voluntariando para cozinhas comunais, catando lixo na beira da estrada e conquistando o reconhecimento de grupos ateus em avisos para adotar uma estrada. Eles comparam sua estratégia com a do movimento dos direitos homossexuais, que cresceu quando os membros da minoria marginalizada decidiram ir a público.

"Não é uma questão de protestar. A coisa mais importante é sair do armário", disse Herb Silverman, professor de matemática do Colégio de Charleston, que fundou o grupo dos Humanistas Seculares de Lowcountry, que tem cerca de 150 membros na costa das Carolinas.

As pesquisas mostram que as fileiras de ateus estão crescendo. Na Pesquisa de Identificação Religiosa Americana, grande estudo publicado no mês passado, o único grupo demográfico que cresceu em todos os 50 Estados nos últimos 18 anos foi o dos "sem religião".

Nacionalmente, os "sem religião" na população quase dobraram, de 8% em 1990 para 15% em 2008. Na Carolina do Sul, eles mais do que triplicaram, de 3% para 10%. Nem todos os "sem religião" são necessariamente ateus ou agnósticos fervorosos, mas perfazem uma amostra de possíveis patrocinadores do movimento.

Organizações locais e nacionais ateias prosperaram nos últimos anos, alimentadas por uma revolta com a adoção do direito religioso pelo governo Bush. Uma série de livros de sucesso sobre ateísmo também popularizou a noção que a descrença não é apenas um argumento, mas uma causa, como a ecologia ou a distrofia muscular.

Dez organizações nacionais que se identificaram como ateias, humanistas, livres pensadoras e outras que não acreditam em Deus recentemente se uniram para formar a Coalizão Secular da América, da qual Silverman é presidente. Esses grupos, que já foram rivais, agora estão reunindo recursos para fazer um lobby em Washington pela separação da Igreja e o Estado. Uma onda de doações, algumas de milhões de dólares, permitiu a contratação de mais organizadores profissionais, disse Fred Edwords, líder ateu antigo que acaba de começar seu próprio grupo, a Coalizão Unida da Razão, que planeja inaugurar 20 grupos locais em torno do país no próximo ano.

Apesar da mudança de atitude, as pesquisas continuam mostrando que os ateus têm classificação inferior a qualquer outra minoria ou grupo religioso quando se pergunta aos americanos se votariam em alguém do grupo ou aprovariam o casamento de seu filho com um membro daquele grupo.

Em um almoço com alguns novos membros dos grupos ateus em restaurante que servia camarão em Charleston, uma jovem mãe disse que seu marido tinha medo de permitir que ela se expusesse como ateia porque ele poderia perder chances de emprego.

A administradora escolar aposentada Beverly Long, que agora ensina educação na Citadel, contou sobre quando se mudou de Toronto para Charleston, em 2001: "A primeira pergunta que me faziam era à qual igreja eu pertencia". Ela participou de jantares em uma igreja metodista, pela interação social, mas nunca se sentiu em casa. Desde jovem, ela duvidou da existência de Deus, mas não discutia suas opiniões com os outros.

Ela encontrou os humanistas seculares por meio de um anúncio no jornal e participou de um encontro. Agora ela está pronta para assumir suas ideias, especialmente após fazer uma pesquisa genealógica. "Tive ancestrais que lutaram na Revolução Americana, então posso falar o que penso", disse ela.

Até recentemente, os Humanistas Seculares de Lowcountry eram párias. Silverman - cuja placa de carro, uma das muitas oferecidas pelo Estado, diz: "Na Razão Confiamos"- foi convidado a fazer uma invocação no Conselho da Prefeitura de Charleston, certa vez, mas metade dos membros deixou a sala. O capítulo local do grupo Habitat para a Humanidade não deixou os Humanistas Seculares se voluntariarem para construir casas usando camisetas que diziam "Organização sem Profeta", disse ele.

Em janeiro, quando os humanistas criaram o cartaz com seu endereço na Web proeminente, eles acreditavam que receberiam correspondências agressivas.

"Contudo, a maior parte dos emails era de agradecimento", disse Laura Kasman, professora assistente de microbiologia e imunologia da Faculdade de Medicina da Carolina do Sul.

A reunião dos membros do conselho na sala de estar dos Kasman era uma mistura improvável que incluía um dono de uma loja de presentes, um construtor, uma avó, um professor de enfermagem aposentado, um oficial da marinha na reserva, um administrador de um santuário de primatas e uma musicista de igreja. Os participantes também eram diversos em sua atitude em relação à religião.

Loretta Haskell, a musicista da igreja, disse: "Em certa altura, perguntei-me se deveria ou não fazer música nas igrejas, dada minha posição. Mas, ao mesmo tempo, gosto de usar minha música para elevar as pessoas, para dar-lhes conforto. E o que descobri foi que não sou uma humanista que acha que a religião é uma coisa ruim."

O grupo teve reações variadas ao presidente Barack Obama, que admitiu os descrentes em seu discurso inaugural. "Enviei a ele uma nota de agradecimento", disse Kasman. Porém, Sharon Fratepietro, casada com Silverman, disse: "Parecia uma longa cerimônia religiosa, com um momento de conversa".

Parte do que está dando impulso ao movimento á e proliferação de grupos em universidades. A Aliança Estudantil Secular agora tem 146 capítulos - tinha 42 em 2003.

Na Universidade da Carolina do Sul, em Columbia, 19 alunos apareceram em recente encontro noturno dos "Pastafarianos", nome nascido da Igreja do Monstro de Espaguete Voador -uma brincadeira popular da religião sonhada por um opositor do desenho inteligente, a ideia que os organismos vivos são tão complexos que a melhor explicação é que uma inteligência maior as desenhou.

Andrew Cederdahl, um dos fundadores de grupo, pediu voluntários para o banco de alimentos local e para um debate com um colégio cristão próximo. Depois, Cederdahl abriu o plenário para os membros contarem suas "experiências de quando se assumiram".

Andrew Morency, que frequentou uma escola cristã, disse que quando foi para a faculdade e estudou biologia evolucionária decidiu que os "criacionistas mentem".

Josh Streetman, que freqüentou o mesmo colégio cristão com quem os pastafarianos iam debater, disse que conhecia a Bíblia bem demais para ter segurança que a Escritura é verdadeira. Como Streetman, muitos dos outros alunos da reunião eram altamente conhecedores da Bíblia e da história da religião.

Os líderes pastafarianos dizem que seu objetivo não é o confronto ou mesmo conversões, mas mudar o estereótipo de ateus. Uma atividade pastafariana é reunirem-se em um ponto movimentado do campus com um cartaz oferecendo "abraços gratuitos" de "seu vizinho ateu amigável".

Fonte: UOL notícias

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Lembrando...

Explosão de soberba: A onda do ateísmo, um espectro sobre a Europa

02.02.2009 - Paira um espectro sobre a Europa. Não é o espectro do comunismo. Fere um dos mais profundos sentimentos do Ocidente. A crença em Deus. Em países, antes arraigadamente católicos, estende-se a onda do ateísmo.

Não se trata de manifestações individuais. Ao contrário, formam-se coletivos para o exercício de ativa militância contra o divino. Campanhas publicitárias se desenvolvem.

Nas laterais dos ônibus da cidade de Barcelona, cartazes refletem esta situação. Dizem: Provavelmente, Deus não existe. Viva e goze a vida. A iniciativa tende a se estender a outras cidades da Espanha.

A autoria dos dizeres é de uma associação de ateus e livres pensadores. Houve resposta. Apareceram faixas em oposição: Você verá, quando tudo fracassar, restará Deus.

O fenômeno não se restringe ao espaço ibérico. No leste europeu existem países com alto percentual de pessoas que se declaram ateus. Mais de setenta por cento na Hungria.

Os franceses são autores de uma extensa bibliografia. Um combate contínuo contra a figura de Deus. Certamente, originário do pensamento iluminista.

O iluminismo, como posteriormente o marxismo, pretendeu colocar o homem no centro do universo, concebendo um humanismo materialista. Este, em seus primórdios, exercia grande influência entre os intelectuais.

Com o passar dos séculos e o surgimento do consumismo sem limites, o ateísmo ingressou na consciência das pessoas comuns. Os valores religiosos foram substituídos por um hedonismo selvagem.

Vale consumir e aparecer. Não importa qualquer aproximação com o Superior. Daí um passo para a negação de Deus. Antes o agnosticismo e em seguida uma posição expressa de contestação.

Os ateus não querem aceitar uma figura além da História. Desejam ser senhores de suas trajetórias, sem qualquer intromissão externa. Querem ser deuses individuais.

De há muito, os não-crentes passaram a preocupar os membros das religiões monoteístas. Ordens religiosas católicas apontam para a presença do ateísmo nas universidades da Ásia, África e América Latina.

Aqui, segundo estas fontes, a motivação seria diversa da existente nas sociedades afluentes. Um novo aspecto é apontado. A presença da injustiça como um fator de descrença.

Exatamente isto: a injustiça presente em todos os desvãos das sociedades latino-americanas leva a juventude a descrer. Encontrar, nas imensas diferenças sociais, motivo de não-crença.

Nota-se, pois, o encontro de duas vertentes nos países latino-americanos. Aquela que leva ao materialismo pelo excesso de consumo e de benesses e a outra que aponta para a carência dos bens mínimos para a sobrevivência.

Caro que estas posições de ponta não atingem todos os países de igual maneira. Graças às raízes africana, indígena e portuguesa, no Brasil existe um misticismo disperso.

Este atinge todas as camadas da sociedade. A crença no divino é inerente à formação brasileira. Com um traço específico. Os cultos de origem africana e indígena possuem um forte contingente panteísta.

Este nem sempre é percebido, em virtude do sincretismo religioso oriundo dos tempos das práticas escravagistas. O que se assemelhava aos rituais cristãos continha as práticas dos cultos dos ancestrais.

A natureza é traço marcante destes cultos. Ela se mostra por inteiro na forma de viver dos brasileiros. Convivem com natureza em seus vários aspectos. A exibição desinibida dos corpos é um deles.

Pode-se adiantar que a militância dos não-crentes não terá êxito entre os brasileiros. É própria de povos frustrados e deprimidos. No entanto, não se deve esquecer que a divindade, por aqui, tem um traço panteísta.

Como praticada na Europa, a descrença pode conduzir a um niilismo sem igual. A perda de referências leva as pessoas a um individualismo sem precedentes.

A um mundo sem valores e propício à prática de quaisquer atos. A crise financeira dos países centrais, certamente, tem grande parcela deste individualismo contemporâneo. Alarmantemente sem valores.

Por: Cláudio Lembo é advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador.

Fonte: Terra notícias


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