Artigo de Jorge Ferraz: Quando as autoridades se calam


30.04.2009 - Algumas coisas me surpreendem verdadeiramente. A missa do dia primeiro de maio, celebrada na Catedral de São Paulo, deveria este ano - segundo disse Dom Odilo Scherer, cardeal arcebispo, no ano passado - fugir da politização e “reunir trabalhadores e empresários em torno do altar”, conforme esta notícia que foi dada no Estadão. No entanto, será - de novo! - uma missa voltada só para os trabalhadores, porque “a Pastoral Operária, da Arquidiocese de São Paulo, resistiu à mudança”!

Quem diabos pensa a “Pastoral Operária” paulista que é, para resistir à determinação de seu Cardeal Arcebispo? Por que misterioso motivo o senhor Cardeal - data maxima venia - não fez valer o báculo que carrega e a púrpura que veste, ao invés de permitir esta absurda insubordinação? Acaso a Igreja Católica virou agora uma democracia moderna, onde a voz do povo é a voz de Deus, ao invés de precisar se conformar à voz de Deus? Acaso agora as ovelhas gritam e os pastores condescendem? Tempos terríveis! O povo católico - as pessoas têm que entender isso - precisa de pastores! Se os legítimos pastores se calam, não vão faltar oportunistas usurpadores do lugar deles.

Escândalo! O “metalúrgico aposentado Waldemar Rossi, militante da Pastoral Operária”, que foi ouvido pelo Estado de São Paulo, chegou ao cúmulo de afirmar: “Os sindicatos e movimentos comprometidos com a luta por Justiça repudiam as atividades com caráter de conciliação com o empresariado, em conluio com o capital explorador”. Desde quando as pessoas que trabalham em pastorais são chamadas de “militantes”? E de onde vem o absurdo sem tamanhos de que um católico, com vida paroquial ativa, venha a público dizer que repudia “as atividades com caráter de conciliação”?! É este espírito que anima a “militância” da Pastoral Operária, repudiar a conciliação? Ninguém nunca disse ao sr. Rossi que tal espírito imundo não é o dos Evangelhos?

São essas as ovelhas [?] que mandam na Igreja em São Paulo, ousando afrontar publicamente a autoridade do bispo diocesano? No entanto [não sei se para o bem ou para o mal], dom Odilo não irá celebrar esta missa. Não sei se como sinal de discordância das “exigências” da Pastoral Operária. Não sei se isso é bom porque preserva a dignidade cardinalícia desta palhaçada, ou se é ruim porque abre espaço para que o sacrilégio alcance patamares ainda maiores.

Quem celebrará a Missa será Dom Pedro Stringhini, bispo da Região Episcopal Belém, que - já o afirmou - aproveitará as sugestões dadas pela Pastoral Operária para a homilia. Quais são elas? “Que os ricos paguem pela crise que eles criaram, não nós”, que seja feita “uma análise sobre acumulação de riquezas, especulação financeira e distribuição de lucros com acionistas, desfalcando as empresas”, que se denuncie o “assalto ao dinheiro público para ’salvar’ empresas que se dizem em crise”, e ainda que Sua Excelência “defenda os direitos dos trabalhadores, aponte a precarização do trabalho (contratos temporários, bicos), fale do achatamento de salários e a pressão dos poderosos contra o movimento social”. Está de bom tamanho? Quando as autoridades se calam, os delinqüentes fazem a festa!

Ao Estadão, Sua Excelência ainda “informou que a nota [da CNBB] sobre o 1.º de Maio, que a Assembleia Geral de Itaici vai divulgar, seguiu a mesma linha da Pastoral Operária de SP”. Desgraçadamente, é verdade; este excremento de nota tornada pública ontem (sim, que o lixo seja chamado por aquilo que é, com todo o respeito devido à dignidade episcopal dos senhores bispos cuja parcela de responsabilidade na publicação desta porcaria eu não sei e nem quero saber, a qual a benedicência me obriga a considerar que foi nula ou quase nula) fala nos “direitos sociais do povo”, nas “conseqüências do atual modelo capitalista de desenvolvimento, incapaz de assegurar a dignidade humana, garantir os direitos sociais básicos e preservar a vida em nosso planeta”, no “sistema neoliberal globalizado”, no “clamor dos trabalhadores por vida e dignidade”, etc. Nas últimas cinco linhas (e somente nelas), o documento cita “Jesus Cristo Ressuscitado”, “Nossa Senhora Aparecida e São José Operário”. Quando os mestres se calam, os idiotas desandam a falar (e a escrever). Isto é uma vergonha. Senhores bispos, por Cristo Crucificado, tenham misericórdia para conosco! Como podem os católicos brasileiros seguirem o ensino da Igreja e condenarem o socialismo, se as exatas mesmas coisas por nós (e pela Igreja) condenadas estão presentes nos documentos emanados pela Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil?

Que Nosso Senhor Se compadeça da Sua Igreja, e dos Seus fiéis que estão como ovelhas guiadas por lobos. E, amanhã, rezemos a São José Operário, em desagravo por estes descalabros perpetrados por nossos bispos. Que a Virgem Santíssima, Mãe da Igreja, santifique o clero. Que o Deus Altíssimo tenha misericórdia desta Terra de Santa Cruz.

Fonte: http://www.deuslovult.org/


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