Resposta a Leonardo Boff, por Dom Estêvão Bettencourt OSB


25.04.2009 - O ex-frade franciscano Leonardo Boff tem-se pronunciado amargamente, na imprensa, contra a Igreja e seus artigos de fé e disciplina, causando sur­presa e perplexidade em muitos leitores. O povo de Deus tem pedido esclarecimentos acerca dos pon­tos abordados por esse pensador. Não seria lícito deixar de atender a essa demanda dos fiéis católicos desejosos de saber afinal o que ensina a Igreja sobre tais questões: Eis por que oferecemos este opúsculo no intuito de dissipar dúvidas e equívocos a respeito da doutrina da Igreja. Teremos em mira uma das mais expressivas entrevistas de L. Boff publicada pelo periódico PASQUIM, de 02/04/2002, cobrindo quatro pá­ginas desse jornal.

1. Sexo e celibato

O primeiro tema explanado (aliás longamente explanado) refere-se a sexo e celibato.

Boff: “O Catolicismo sempre entendeu a se­xualidade sob o âmbito do proibido, do perigoso e do pecaminoso”.

Resposta: A Igreja sabe que Deus criou o homem e a mulher para que se complementem mu­tuamente tanto no plano espiritual como no corpo­ral. O Senhor abençoou a união matrimonial desde o início (cf. Gn 1,28); Cristo elevou-a à dignidade de sacramento, de modo que o lar cristão deve ser uma “igreja doméstica”. Quem tem a vocação, ma­trimonial, é chamado a ser santo vivendo o seu casamento. E houve - como também há - muitos santos casados; em outubro 2001 o Papa João Paulo II beatificou um casal como casal: Luigi e Maria Beltrame. Os pais de Santa Teresinha estão em processo de Beatificação.

Acontece, porém, que o instinto sexual é par­ticularmente forte, provocando estupros, adultéri­os, engravidamento de meninas… Estes fatos ine­gáveis e cada vez mais freqüentes obrigam a sã pedagogia a acautelar os jovens contra os exces­sos do impulso sexual, que podem bestializar o ser humano. Feita esta observação, continua a afirma­ção de que o ato sexual efetuado dentro do matri­mônio segundo a lei natural (que é a lei do Criador) é algo de plenamente justificado.

Boff: “A Igreja lê de forma moral as proibições meramente rituais do Antigo Testamento”.

Resposta: L. Boff, que foi professor de Teo­logia, deve saber muito bem que a Igreja distingue o plano meramente ritual do plano moral: a Moral católica reconhece que as impurezas rituais do Antigo Testamento (ejaculação espontânea, mens­truação) não eram pecaminosas.

Boff: “A Igreja é uma instância de profunda desumanização do ser humano.

Resposta: Basta considerar a história para encontrar clamoroso desmentido de tal afirmação. Com efeito; até época recente a Igreja era a gran­de mantenedora dos hospitais, asilos, orfanatos, que, em grande parte, eram dirigidos por celibatári­os e celibatárias; tenham-se em vista São Vicente de Paulo, São João Bosco, Dom Orione, Santa Luisa de Marillac, Santa Ângela Merici, Madre Te­resa de Calcuttá, Irmã Dulce… O celibato favorece a dedicação enternecida ao próximo carente sem depender de esposo(a) e filhos. A continência se­xual não é uma castração, mas uma harmonização dos sentimentos e afetos, que permite mais pura e desinteressada entrega a Deus e ao próximo.

Boff: “A Igreja impõe o celibato por razões de propriedade, porque a pessoa celibatária não tem que dividir, não tem que deixar herança”.

Resposta: Tal é a explicação socialista do ce­libato; não é a genuína. São Paulo recomenda a vida una ou indivisa porque permite ao cristão con­centrar-se mais nos interesses do Reino de Deus, que já começou a se implantar pela vinda de Cris­to; ver 1 Cor 7,25-35. Conscientes disto, muitos clé­rigos foram espontaneamente adotando o celibato. Somente no século IV (307 aproximadamente) o Concílio regional de Elvira (Espanha) legislou a res­peito. Outros Concílios regionais fizeram o mesmo até o Concílio geral do Latrão II (1139), que esten­deu à Igreja inteira a lei do celibato’. O celibato é o testemunho de que alguém se pode realizar plena­mente procurando, tanto quanto possível, somente os valores eternos. Quando o Senhor dá a voca­ção para o sacerdócio, dá também o carisma do celibato.

L. Boff engana-se ao afirmar que a lei do celibato para toda a Igreja só foi promulgada pelo Concílio de Trento (1545­1563).

Boff: “Para impedir o acesso ao sexo, a igre­ja sataniza o prazer: É o demônio!’. Então o Cristi­anismo torna-se a religião da tristeza”.

Resposta: A igreja não é contrária ao pra­zer; ela o abençoa quando desfrutado segundo as leis de Deus, também por ocasião das relações sexuais. Há, porém, dois tipos de prazer: o carnal e o espiritual; este último consiste em usufruir da união com Deus, que já o Batismo propicia, fazen­do do cristão o templo de Deus (cf. 1 Cor 6,19; Jo 14,23). Quem descobre o deleite da vida espiritual, abstém-se espontaneamente de prazeres carnais, como aliás diz o Senhor em Mt 19,12: “Há eunucos que se fizeram tais por amor do reino dos céus”.

Religião de tristeza? - Jamais o Cristianismo foi tal. Diz-se em linguagem popular: “Um Santo tris­te é um triste Santo”. Pondere-se o cultivo das ar­tes, especialmente o da música e o do canto, por parte dos cristãos através dos séculos. A verda­deira alegria não está em satisfazer a todos os im­pulsos; ela só pode resultar do autocontrole que promova a harmonia da pessoa e de sua’ conduta.

Boff e seus entrevistadores pleiteiam a aboli­ção do celibato como remédio para os desvios registrados em clérigos. - Tal, porém, não seria a solução, pois também as pessoas casadas come­tem escândalos sexuais; seja citado, entre outros, o caso do Dr. Eugênio Chipkevitch, pediatra de São Paulo, que abusava dos seus pacientes de menor idade e foi preso por causa disto (cf. VEJA; 27/03/02, pp. 90s). A solução para se levar uma vida casta é a educação dos instintos naturais mediante disciplina, autocontrole ou ascese; se esta não existe, nenhu­ma vocação é isenta de graves quedas. Todavia o reinante hedonismo da sociedade contemporânea di­ficulta a valorização dessa autêntica solução.

Boff equipara as freiras aos clérigos, como se estas também fossem coagidas a abraçar a vida una. - Mais uma vez o teólogo esquece…; ele de­veria saber que as Religiosas abraçam a vida indivisa estritamente por espontânea vontade ou precisamente porque se querem consagrar total­mente a Deus, sem visar ao sacerdócio. O seu ins­tinto maternal se realiza ricamente no plano espiri­tual - o que lhes proporciona grande paz e felicida­de. Em suma, as objeções contra a vida una são, em grande parte, inspiradas pela falsa persuasão de que, só existe o prazer dos sentidos e da corporeidade.

Fonte: Sal Terrae  -  http://salterrae.org
 


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