25.04.2009 - “Sou agradecido para com aquele que me deu força. Cristo Jesus, Nosso Senhor, que me julgou fiel, tornando-me para o seu serviço, a mim que outrora era blasfemo, perseguidor e insolente. Mas obtive misericórdia, porque agi por ignorância e na incredulidade” (1 Tm 1,12.13).
George Lyttleton, um inglês agnóstico do século XIX, estava convencido de que era impossível um homem como Saulo de Tarso, mais tarde apóstolo Paulo, mudar radicalmente o curso de sua vida, como o Novo Testamento relata. Decidiu escrever um livro para defender seu ponto de vista e semear dúvida na cristandade, mostrando que a conversão de Saulo foi somente aparência. Depois de uma intensa investigação, esse foi o resultado de seus estudos: “Concluindo, a conversão de Paulo e seu apostolado provam que a conversão ao cristianismo é conseqüência de uma revelação divina”.
O mesmo Lyttleton acabou se tornando cristão ao confiar em Cristo como seu Senhor e Salvador pessoal.
Lucas, autor do livro de Atos dos Apóstolos, considerava a conversão de Paulo como um acontecimento de grande importância. Ele contou essa história três vezes (Atos 9, 22 e 26) com muitos detalhes. A vida de Paulo é o exemplo de uma conversão radial que vai além das palavras e de uma decisão intelectual; ela afeta todas as áreas da vida de uma pessoa e provoca um apego incondicional ao bom Deus.
Não existe no mundo algo tão belo e monumental do que uma alma que se converte ao Senhor e Salvador Jesus Cristo.
“Eu vos digo que do mesmo modo haverá mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento” (Lc 15,7).
Disse o pai do filho pródigo: “Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado” (Lc 15,31.32).
Realmente, estupendo é o milagre da conversão operado pelo bom Deus no coração do ser humano. O arrependimento que Deus gera em nossos corações é para a nossa salvação e eterna alegria (Rm 2,4; 2 Tm 2,25.26).
Uma vida convertida na radicalidade do amor a Jesus Cristo tem como missão: testemunhar pelo exemplo de santidade e pela proclamação do evangelho para todas as pessoas que não conhecem Jesus Redentor.
São Paulo Apóstolo é o maior exemplo dessa missão. Diz ele: “Sê para os fiéis um modelo na palavra, na conduta, na caridade, na fé, na pureza” (1 Tm 4,12). “Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho!” (1 Cor 9,16).
TUDO PARA TODOS
“Paulo desempenhou um papel maior na evangelização dos primeiros cristãos”.
Jerome Murphy – O’Connor
Biblista e professor da Escola Bíblica e Arqueológica de Jerusalém.
Dentre os homens e mulheres que o Senhor Jesus Cristo escolheu, Paulo de Tarso brilha como estrela de primeira grandeza na história da Igreja. Alguns o chamaram o “décimo terceiro apóstolo”. Não há dúvidas de que, depois de Jesus, Paulo é o personagem do cristianismo primitivo de quem mais temos informações. Seu nome originário era Saulo (cf At 7,58; 8,1), era um judeu da diáspora, estando na cidade de Tarso, situada entre a Anatólia e a Síria. Tinha ido muito cedo a Jerusalém para estudar profundamente a Lei mosaica aos pés do grande Rabi Gamaliel (cf. At 22,3). Tinha aprendido também uma profissão manual e áspera, era fabricante de tendas (cf At 18,3).
Foi no caminho para Damasco, no início dos anos 30, que Saulo, segundo as suas palavras, foi “alcançado por Cristo” (Fl 3,12). Este encontro marca, de maneira definitiva, a sua vida. Mais tarde ele dirá que viu o Senhor (cf. 1 Cor 9,1), e o encontro com o Ressuscitado revelará, sobretudo, sua vocação de anunciador do Evangelho entre os gentios (cf Gl 1,15-16).
Paulo foi “apóstolo por vontade de Deus” (2 Cor 1,1; Ef 1,1; Col 1,1) e não por sua própria iniciativa; sua vida foi marcada por uma intervenção divina. Foi esta intervenção que o levou a afirmar: o que era para mim lucro tive-o como perda, por amor de Cristo. Mais ainda: tudo considerei perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por ele, perdi tudo e tudo tenho (cf Fl 3,7-8).
Aquele que tinha como centro das suas preocupações a Lei mosaica, agora tem como centro da sua vida Jesus Cristo e a rica ocupação de anunciar a Boa Nova de salvação.
A identidade do apóstolo Paulo será distintamente marcada pelo encontro e comunhão com Jesus Ressuscitado. Essa comunhão fará de Paulo um homem novo, seus valores mais autênticos serão recuperados e, se necessário, purificados. Desse modo, Paulo fará de sua vida uma entrega total por meio do apostolado, tornando-se tudo para todos (cf 1 Cor 9,22).
São Paulo Apóstolo não media esforço para falar de sua nova vida, de sua experiência mística, de seus sofrimentos e de seu amor pela cruz de Cristo.
Nenhum sacrifício o impedia de missionar o Evangelho Libertador (2 Cor 11,16-33).
Tudo era válido para fazer Jesus conhecido e amado. Paulo é o missionário para o mundo todo, para que todos tomem conhecimento do único meio de salvação: Jesus Cristo (Rm 15,19-21).
O CORIFEU DA EXPANSÃO CRISTÃ
“Paulo foi a primeira e a maior personalidade cristã. Ele não inventou o cristianismo, nem o perverteu: ele o salvou da extinção”.
Paul Johnson, Historiador Inglês
Autor do Livro História do Cristianismo
A expansão do cristianismo deve muito ao judeu grego Saulo de Tarso ( 5 a.C. – 67 d.C.), um cidadão romano culto e cosmopolita que depois de perseguir muito cristãos teve uma revelação e virou missionário incansável: São Paulo. Esse é um personagem concreto, que deixou textos próprios, conhecidos pelos historiadores. Além disso, teve um papel decisivo na Santa Igreja de Deus.
Á revelia de Tiago, o irmão de Jesus, chefe dos judeus cristãos de Jerusalém – para quem o cristianismo era uma reforma religiosa do “povo eleito” -, Paulo batizava judeus e gentios dispostos a adotar a nova prática religiosa, indistintamente. Durante 16 anos, percorreu 20.000 quilômetros a pé, em quatro grandes viagens, pregando e fundando igrejas na Síria, na Ásia, na Grécia e em Roma. Escreveu treze Epístolas, as cartas que enviava às suas igrejas, por ele organizada.
Foi o primeiro autor cristão e o corifeu da expansão mundial do cristianismo.
No ano 56, Paulo viajou a Jerusalém para enfrentar Tiago. Polemizou com os judeus cristãos e foi acusado de introduzir gentios no templo. Preso pelos romanos ficou dois anos na fortaleza de Cesaréia. Em 60, foi levado para Roma, onde pregava o apóstolo Pedro, a quem Jesus confiara à edificação da Igreja. Apesar de viver sob prisão domiciliar, sua casa em Roma transformou-se em centro missionário.
Em 64, um violento incêndio iniciado nos bairros pobres, dos cristãos queimou Roma. Houve boatos de que teria sido encomendado por imperador Nero, para reconstruir a cidade por completo. A comunidade dos cristãos foi acusada e transformada em bode expiatório. Em meio a perseguições, torturas e suplícios, Pedro e Paulo foram presos. O primeiro foi crucificado. Paulo, como cidadão romano, teve o “privilégio” de ser decapitado.
Aquela altura, já havia mais cristãos fora da Palestina do que dentro. O culto á Jesus Cristo, cujo reino não era desse mundo e que oferecia salvação á humanidade toda, inclusive aos romanos. Paulo foi o maior mentor da expansão cristã na história da Igreja.
São Paulo Apóstolo escreveu 13 epístolas que sintetizam o seu pensamento eclesial. A sua influência na dogmática cristã se deve as suas cartas que representam quase metade dos 27 livros do Novo Testamento.
O renomado teólogo James D.G. Dunn, há mais de 40 anos é profundo estudioso da Teologia de São Paulo, ele afirma: “Paulo foi o primeiro e o maior teólogo cristão de todos os tempos”.
Não resta dúvida, São Paulo não é só maior teólogo, como é também o maior missionário de todos os tempos. Ele transformou o cristianismo numa religião mundial salvífica.
O seu mote era: “Jesus Cristo: crucificado, ressuscitado, Senhor e Salvador de Todos”.
Escreve o papa Bento XVI: “Desde o primeiro momento ele compreendeu que a salvação não dizia respeito apenas aos judeus ou a um certo grupo de homens, mas tinha um valor universal era para todos, porque Deus é o Deus de todos” (1).
CONCLUSÃO
O que adianta o homem ter fortunas, poder, títulos, conhecimento e posição social e não ser um convertido ao Senhor e Salvador Jesus Cristo.
A decisão mais importante na vida humana é viver convertido ao Cristo Redentor.
De convertido ao evangelho de Cristo, São Paulo tornou-se pregador, apóstolo e doutor dos gentios (2 Tm 1,11).
São Paulo brilha como o maior missionário das nações de todos os tempos. Seu legado nos inspira pela sua radicalidade ao sacrifício pela obra de Deus. Ele mesmo disse: “Sede meus imitadores como eu o sou de Cristo” (1 Cor 11,1).
Realmente, a conversão de São Paulo é algo misterioso, todavia qualquer que seja uma conversão verdadeira, brilha nas trevas do pecado de igual modo.
Que possamos viver o compromisso da nossa conversão, como luz num mundo tão tenebroso.
A Igreja celebra a conversão de São Paulo Apóstolo no dia 25 de Janeiro. Foi uma escolha simbólica para homenagear o grande servo de Deus. Já que não se sabe o dia exato de sua conversão.
Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
e-mail: [email protected]
NOTAS E BIBLIOGRAFIA
(1) Texto do Papa Bento XVI de 25 de Outubro de 2006.
Revista Super Interessante, dezembro de 2003, p.56.
Revista Super Interessante, Abril de 1996, p.57.
DUNN, James D. G. A Teologia do Apóstolo Paulo, São Paulo: Paulus, 2003.
HOLZNER, Josef. Paulo de tarso, São Paulo: Quadrante, 1994.
MURPHY-O’Connor, Jerome. Paulo-Biografia Crítica, São Paulo: Edições Loyola, 1996.
Para Estudos: www.saopauloapostolo.net