2304.2009 - Assim cantava uma música do nosso querido Padre Zezinho. Gostava muito de ouvi-la quando era pequeno. Sim. De fato, nós somos as crianças do Reino, do Reino de Jesus. Essa música, apesar de demonstrar claramente seu aspecto infantil, mostra aquilo que Jesus sempre nos exortava: que devemos ser como crianças para entrar no Reino de Deus. Só com um coração puro e casto como o de uma criança poderemos sermos literalmente “pessoas do Reino de Deus”. Infelizmente, esse aspecto de pureza que todos nós devíamos possuir vem sendo perdido devido à mentalidade egoísta e totalmente anticristã que a nossa sociedade está cultivando nas famílias, através dos meios de comunicação em geral.
Se queremos ser de fato essas crianças do Reino, precisamos ser radicais em nossa vida. Assim como um pai que sabe dizer “não” a seu filho quando ele o implora que faça algo que não lhe é bom, precisamos também nós dizer não à essa cultura de morte que o mundo está a nos pregar. Parece até mesmo ser uma contradição: ao mesmo tempo em que somos crianças, somos pais a dizer não. Mas, isso é na verdade uma forma de controle sobre os nossos desejos. A criança só vai amadurecer, ou seja, começar a entender definitivamente o discernimento do bem e do mal, do certo e do errado, quando começar a aprender a controlar os seus impulsos. E essa é uma regra crucial para que possamos viver no mundo de hoje: precisamos pôr um limite em nossos desejos, nossas atrações, nossas vontades. Tudo aquilo que é pecado e que cultivamos em nosso coração na forma de um vício ou na forma de um desejo mesmo precisa ser arrancado para que possamos viver realmente na pureza da “infância”.
Se por um lado amadurecemos com a fé, por outro, nunca podemos deixar de ser crianças. No tempo da adolescência, nós jovens sofremos mudanças comportamentais e físicas. Para aprender a lidar com elas, não podemos agir como adultos - se não vamos acabar metendo os pés pelas mãos - mas, como crianças. Ora, vivemos 10, 11 anos de infância. Temos experiência nesse tempo de vida porque agimos como crianças. As nossas atitudes na juventude não podem ser bruscas. Não podemos querer agir como adultos enquanto ainda estamos em fase de transição, da mesma forma como não podemos partir do leite direto para a carne. É preciso adaptar-se. E esse processo de adaptar-se acontece na medida em que vamos aprendendo a controlar nossos impulsos.
Infelizmente, os jovens levaram o sentido dessa adaptação para o lado errado. Vamos na onda de tudo que essa sociedade “moderninha” nos prega. E o que ela nos ensina? “Compre roupas e mais roupas, pois só assim você será feliz; transe, transe com quantas pessoas quiser, pois só assim você vai se adaptar; emagreça, emagreça, tenha um corpo ideal, porque se não as pessoas não vão te desejar; critique, critique a Igreja, pois foi dessa maneira que os revolucionários alcançaram fama”. Ora, e quem disse que precisamos ter a melhor roupa? Quem disse que precisamos de sexo para alcançarmos felicidade? Quem disse que precisamos de ser desejados para nos sentirmos bem? Quem disse que é pela fama que vamos ser realizados? As pessoas estão canalizando a fonte absoluta de felicidade, que é Deus, para as coisas do mundo. Estão distorcendo o valor de amizade, alegria, religião, Deus e da vida casta e santa.
Tudo isso hoje se tornou um atraso e uma “bobeira”. Como os tempos mudam, não é? Até tempos atrás vivíamos num mundo totalmente divino, onde as pessoas atribuíam à Divina Misericórdia tudo o que faziam e iam fazer. Por isso, viviam felizes. Infelizmente, hoje vivemos de guerras, epidemias, fome, terremotos, tsunamis, coisas que até então eram totalmente desconhecidas. E por que só agora elas se nos estão sendo manifestas? Por que só nesse momento da história essas coisas ruins foram acontecer? Porque quanto mais longe o homem se afasta de Deus, mais ele entra em conflito consigo, com os outros, com o mundo e, consequentemente, mais ele se perde. Papa Bento XVI, na sua Encíclica Spe Salvi, dizia sobre aquelas pessoas que ainda não conheceram Deus: “Estavam ’sem Deus’ e, consequentemente, achavam-se num mundo tenebroso, perante um futuro obscuro” (2).
Mas, invertem-se totalmente os valores: a Idade Média, onde a pessoa realmente amava a Deus, orava e vivia feliz é… Idade das Trevas! Idade Moderna, onde o homem se “livrou” de Deus, começou a pregar o antropocentrismo, começou a ir contra a Igreja, começou a praticar incessantemente a usura… Idade da Luz! Novas idéias, ataques à Igreja, ataques a Deus, ateísmo… Iluminismo! E ainda muitas outras “metáforas históricas” que temos que ouvir. Isso tudo porque não vivemos como crianças, mas como jovens que querem ser adultos e ainda não têm nenhum conhecimento de valores, por isso, vivemos frustrados, infelizes, tristes e decaídos. Estamos nesse mundo para buscarmos a felicidade. Todos a buscam, mas a procuram em lugares errados. A priori, aquela “fonte de alegria” parece até satisfazer nossos desejos. Mas depois percebemos que isso que o mundo tem a nos oferecer é só euforia, ou seja, é passageiro, efêmero.
E, contudo, apesar de tudo o que sofremos e vivemos, não queremos mudar. Somos uma pedra tão dura que não adianta nem a água bater. Somos como a música canta, um coração de pedra, magoado, frio, sem vida. Mas isso porque não vivemos felizes, em Deus, como as crianças. Estão a todo momento rindo. Por quê? Porque não têm preocupações, porque amam seu semelhante, porque não conheceram a corrupção da carne. Só que essas crianças que hoje são crianças amanhã são frutos da nossa educação. Se ela chegar lá na frente, não mais como criança, mas como uma pessoa contaminada pelo mal do pecado, grande parcela da culpa é nossa, que não damos amor e carinho a elas.
Então, resumindo: devemos ser como crianças, para que possamos fazer das nossas crianças “eternas crianças”. Só assim poderemos construir um Reino de amor e paz, que seja capaz de levar a todos - até quem não é criança - o canto do Reino dos céus. Dessa forma, a ‘profecia’ da música cumprir-se-á: “Nós somos as crianças do Reino, do Reino de Jesus; gostamos de cantar cantigas alegres, cantigas de paz e de luz.”
"Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus. Aquele que se fizer humilde como está criança será maior no Reino dos céus. (São Mateus" 18,3-4)
Graça e paz.
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com