16.04.2009 - “Desde o primeiro momento, Paulo compreendeu que a salvação não dizia respeito apenas aos judeus ou a um certo grupo de homens, mas tinha um valor universal e era para todos, porque Deus é o Deus de todos” (1). Papa Bento XVI
No dia 28 de junho, o Papa Bento XVI abriu de maneira solene as portas da Basílica de São Paulo para dar início ao Ano Santo Paulino, que terminará na mesma data em 2009.
Há pouco mais de um ano, em junho, o Papa convidou os fiéis do mundo inteiro a celebrarem com ele o Ano Santo Paulino.
Com a celebração do Ano Paulino, o Papa visa à revitalização de nossa fé e a busca da unidade dos cristãos, já que Paulo é chamado de apóstolo dos gentios, ou seja, dos que não eram judeus, à época do seu apostolado. É um ano de jubileu pelos dois mil anos de seu nascimento.
Ano Santo é um tempo de graça do Senhor que se costuma chamar de Kairós. Esta palavra grega significa tempo tanto quanto chronos. Mas, enquanto esta significa o tempo físico, marcado por nossos relógios, aquela se refere ao convite divino para aproveitarmos um momento forte de oração. Neste caso, descobriremos a gigantesca e especial figura de São Paulo Apóstolo. Certamente nos admiraremos pelo jeito peculiar e até empolgante daquele apóstolo testemunhar sua fé no seu Senhor e salvador Jesus Ressuscitado (1 Cor 15,1-15).
De fato, pelas narrativas do Livro dos Atos doa Apóstolos e por suas diversas cartas dirigidas às comunidades primitivas por ele fundadas, podemos aquilatar o zelo que ele tinha pela Santa Igreja de Deus. Paulo foi o maior Apóstolo de todos os tempos ao lado de Pedro, o primeiro Papa de Cristo na Igreja. Fez três grandes viagens, fundando e visitando comunidades cristãs da Ásia Menor até a Europa. Antes de Marcos ter escrito o Primeiro Evangelho – embora na Bíblia o Evangelho de Mateus venha em primeiro lugar -, Paulo escreveu o primeiro documento do Novo Testamento: a Primeira Carta aos Tessalonicenses, cerca do ano 50 d.C. Depois vieram a Carta aos Gálatas, as 1ª e 2ª Cartas aos Coríntios, aos Filipenses, a Filemon – escrita provavelmente de próprio punho – e aos Romanos. As demais, conforme os estudiosos foram escritas mais tarde por outras gerações de comunidades, embora atribuídas a ele. Sem dúvida, essa é uma ocasião propícia para procurarmos curso, lermos livros que nos expliquem o contexto em que aqueles documentos foram escritos, por que foram enviados àquelas comunidades, qual era a cultura em que estavam inseridos os problemas por elas experimentados e, sobretudo, para conhecermos o amor abissal de Paulo por Cristo. Ele recebeu de Cristo toda a revelação feita aos demais apóstolos, durante todo o tempo que seguiram Jesus como seus discípulos.
Escreve Paulo: “Com efeito, eu vos faço saber, irmãos, que o Evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, pois eu não o recebi nem aprendi de algum homem, mas por revelação de Jesus Cristo. Quando, porém, aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça, houve por bem revelar em mim o seu Filho, para que eu o evangelizasse entre os gentios”. (Gálatas 1.11-16)
“Este é o testemunho dados nos tempos estabelecidos e para o qual eu fui designado pregador, apóstolo e doutor dos gentios na fé e na verdade” (1 Timóteo 2.7).
SOFRIMENTO DE PAULO
Mas o Senhor disse a Ananias: “Vai, porque este homem é um instrumento que escolhi para levar o meu nome às nações pagãs e aos reis, e também aos israelitas. Pois eu vou lhe mostrar o quanto ele deve sofrer pelo meu nome” (Atos 9.15, 16).
Toda essa profecia se cumpriu literalmente na vida do grande apóstolo de Cristo.
“Sofri perigos nos rios, perigos por parte dos ladrões, perigo por parte dos meus irmãos de estirpe, perigos por parte dos gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos por parte dos falsos irmãos” (ler todo texto de 2 Cor 11.22-33).
“Que é o homem, quão grande é a dignidade da nossa natureza e de quanta virtude é capaz a criatura humana, Paulo o demonstrou mais do que qualquer outro. Cada dia, ele subia mais alto e se tornava mais ardente, cada dia lutava com energia sempre nova contra os perigos que o ameaçavam. Só se alegrava no amor de Cristo, que era para ele o maior de todos os bens”, disse São João Crisóstomo (2).
O fundador da Obra Internacional de Schoenstatt, o célebre padre alemão José Kentenich fala da coragem de São Paulo Apóstolo, dizendo: “O alpinista para nós é São Paulo com sua atitude heróica de amor a cruz, que tudo vence. Realmente, ele tinha de suportar muito sofrimento por amor a Cristo. Sofreu grandes perseguições, foi oprimido pelos enigmas da vida e podia dizer de si: longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo” (3).
CONCLUSÃO
Com certeza, Paulo foi o maior de todos os apóstolos, estrategista por excelência na obra missionária e o maior teólogo na história do cristianismo.
Paulo também é considerado o “Apóstolo da Graça”. “Por Jesus Cristo recebemos a graça e a missão de pregar, para louvor do seu nome a obediência da fé entre os gentios” (Romanos 1.4,5).
Paulo recebeu de Cristo a missão de pregar o Evangelho da graça de Deus (Atos 20.24).
Paulo realizou missões monumentais, sofreu terrivelmente, alcançou a mística abissal e tornou-se mártir: pela graça e amor a Cristo, seu Senhor. “Mas pela graça de Deus sou o que sou” (1 Coríntios 16.22).
Para Paulo, tudo era graça e só a graça lhe basta (2 Coríntios 12.9)
Em suas cartas aparecem à palavra graça (charis) 100 vezes contra 55 vezes no restante do Novo testamento.
“Graça e amor” (Efésios 2.4,7; 6.24) são duas palavras – duas práticas – juntas que fundamentam toda obra de Paulo: missionária e teológica.
Portanto, irmãos e irmãs, vamos fazer a santa obra de Deus no exemplo do Apóstolo dos Gentios e da Graça Salvadora.
Ele pede: “Sede meus imitadores, como eu mesmo o sou de Cristo” (1 Coríntios 11.1).
Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
E-mail: [email protected]
NOTAS:
(1) Texto do Papa Bento XVI de 25 de outubro de 2006.
(2) Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo, século IV – in ofício das Leituras das Horas, 25 de janeiro.
(3) Livro de arquivo L.Q. – 1º volume.