27.03.2009 - “A cruz salvou e transformou o mundo, expulsou o erro, introduziu a verdade, tornou a terra em céu e os homens como anjos”.
São João Crisóstomo (347-407) Bispo e Doutor da Igreja
Assim profetizou o profeta messiânico Isaías: “Mas o Senhor quis feri-lo, submete-lo á enfermidade. Mas, se ele oferece a sua vida como sacrifício pelo pecado, certamente verá uma descendência, prolongará os seus dias, e por meio dele o desígnio de Deus há de triunfar” (Is 53,10).
Prega São Pedro Apóstolo: “Assim, porém, Deus realizou o que antecipadamente anunciara pela boca de todos os profetas, a saber, que seu Cristo havia de padecer” (Atos 3,18).
Os Santos Evangelhos proclamam a missão de Cristo na cruz.
“Ela dará á luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,21).
“Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45).
“Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10).
“Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16.17).
Como é abissal esse mistério da cruz de Cristo revelado a São Paulo Apóstolo, vejamos: “Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda pecadores. Quando mais, então agora, justificados por seu sangue, seremos por ele salvo da ira. Pois se quando éramos inimigos fomos reconciliados com Deus pela morte do seu Filho” (Rm 5,8-11).
“Com efeito, a linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus” (1 Cor 1,17.18).
“Eu mesmo, quando fui ter convosco, irmãos, não me apresentei como o prestígio da palavra ou da sabedoria para vos anunciar o mistério de Deus. Pois não quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado” (1 Cor 2,1.2).
“Todos os seres da terra e do céu foram reconciliados pelo sangue da cruz” (Cl 1,20).
São Paulo recebeu a revelação do escândalo da cruz! (Gl 5,11). Por isso gloriava-se na cruz do seu Senhor e Salvador Jesus Cristo (Gl 6,14).
O escândalo da cruz de Cristo foi à derrota radical do diabo, dos doutores da Lei, dos filósofos, dos ateus, do mundo e do pecado.
A estupenda missão de Cristo na cruz foi obra única da nossa eterna e bendita salvação realizada pela Santíssima Trindade.
Oh! Como é glorioso receber em nosso coração esse tão grande sacrifício do amor e de tão grande mistério do Amor Eterno.
O ser humano só é feliz de fato e de verdade se viver essa verdade da cruz de Cristo que liberta a pessoa de todo engano e toda ilusão desse mundo passageiro. A convicção desse fato faz a pessoa viver com segurança, fé, paz e amor.
Jesus de Nazaré é o perfeito modelo de tudo quanto há de bom, esplêndido e belo no mundo. Só n’Ele encontramos o verdadeiro sentido para vida e convicção da nossa morada nas Cidade Celestial.
Em Jesus temos a plenitude do amor, da felicidade e da eternidade já no presente.
A experiência com Cristo preenche todo o nosso ser que não sobra espaço para futilidades.
A experiência com Cristo toma a pessoa para dimensão transcendental, o universo da espiritualidade, da fé, da busca ardente de Deus, da imensurável santidade e de um mundo belo e fraterno.
Jesus Cristo é tudo para mim! Com Ele não vivo o teatro do vazio, a peça do monólogo, o mundo virtual e a dependência dos vícios.
Em Cristo eu vivo absolutamente livre.
FATOR HISTÓRICO
Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu no tempo do rei Herodes (Mt 2,1), ano em que houve 2.000 crucificações na Judéia.
Herodes era um monarca detestado. Casou-se com uma princesa asmonéia, mas a permanente paranóia de uma restauração real judaica induziu-o a assassiná-la. Além dela, Herodes matou também quatro filhos, a sogra e o cunhado. Também insultou a religiosidade dos judeus construindo templos pagãos e um hipódromo para lutas de gladiadores em plena Jerusalém. Mas deixou obras importantes, como o porto de Cesaréia, a fortaleza de Massada e a restauração do Templo, cujo muro ocidental, o Muro das Lamentações, continua de pé até hoje.
“Ora, no décimo quinto ano do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, e Herodes tetraca da Galiléia, e Felipe, seu irmão, tetraca da Ituréia e da Traconítides, e Lisânias tetraca da Abilina; sendo príncipes dos sacerdotes Anás e Caifás...” (3, Is).
Escreve o Papa Bento XVI em seu livro Jesus de Nazaré: “É indicado o lugar temporal de Jesus na história do mundo com a nomeação do imperador romano: o ministério de Jesus não deve ser visto como algo mítico, que pode ao mesmo tempo significar tudo e nada; é um acontecimento histórico datável com rigor, com toda a seriedade da história humana verídica, com a sua unicidade, cujo modo de contemporaneidade com todos os tempos se distingue totalmente da intemporalidade do mito. Porém não se trata apenas de datação: o imperador e Jesus personificam duas diferentes ordens de realidade, as quais não devem excluir-se totalmente, mas que, na sua oposição, trazem em si o rastilho de um conflito ligado ás questões fundamentais da humanidade e da existência humana. “Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”, dirá Jesus mais tarde e assim exprimirá a essencial compatibilidade de ambas as esferas (Mc 12,17). Mas, quando o império interpreta a si mesmo como algo divino, como já está apontado na auto-apresentação de Augusto como o portador da paz ao mundo e como o redentor da humanidade, deve então o cristão “obedecer antes a Deus do que aos homens” (At 5,29); então os cristãos tornam-se “mártires”, testemunha de Cristo, o qual morreu na cruz sob Pôncio Pilatos como “a testemunha fiel” (Ap 1,5). Com a menção do nome de Pôncio Pilatos, a sombra da cruz já está presente no início do ministério de Jesus. A cruz anuncia-se também com os nomes de Herodes, Anãs e Caifás (1).
A CRUZ É A COROA DA VITÓRIA
Dos ensinamentos de São Cirilo, Bispo de Jerusalém no quarto século, para o dia 14 de setembro da solenidade da Exaltação da Santa Cruz.
“A cruz é a coroa da vitória. Trouxe luz para os cegos pela ignorância. Libertou os escravizados pelo pecado. De fato, redimiu toda a humanidade. Portanto, não tenha vergonha da cruz de Cristo, ao contrário, glorificai. Porque não foi meramente um homem que morreu por nós, mas o Filho de Deus, Deus feito homem. Na lei mosaica o sacrifício de um carneiro baniria o destruidor. Mas agora é o Cordeiro de Deus que assume o pecado do mundo. Com muito mais facilidade ele nos libertará de nossos pecados.
Ele não foi forçado a dar sua vida. Ele estava desejoso de ser sacrificado. Ouçam suas próprias palavras. Eu tenho o poder de dar minha vida e toma-la outra vez (Jo 10,17-18). Sim, ele livremente desejou submeter-se à sua própria paixão. Ele alegrou-se com seu objetivo; na salvação do homem ele regozijou-se. Ele não se envergonhou na cruz, porque através dela ele estava salvando o mundo. Não, não era um homem de baixa categoria que sofria, mas Deus encarnado.
Ele esticou suas mãos na cruz para que pudesse abraçar até o fim do mundo. Ele estendeu para frente mãos humanas, aquelas mãos espirituais que estabeleceram os céus, e elas foram presas com pregos. Sua masculinidade trazia os pecados dos homens e foi pregado no madeiro para que, uma vez morto, o pecado morresse com ele, e para que nós pudéssemos nos levantar outra vez corretamente.
Certamente em tempos de tranqüilidade a cruz deve lhe dar alegria. Mas mantenha a mesma fé em tempos de perseguição. De outra forma você se tornará um amigo de Jesus em tempos de paz e seu inimigo em tempos de guerra. Agora você recebeu o perdão de seus pecados e o generoso dom da graça de seu rei. Quando a guerra vier, mantenha-se corajosamente com ele. Jesus nunca pecou; entretanto, foi crucificado por você. Não é você quem dá presentes; você recebeu antes. Por sua vida ele foi crucificado no Gólgota. Agora você devolve o favor, você paga o débito que tem com ele”.
O VERDADEIRO MESSIAS
“A crucificação é a mais cruel e revoltante penalidade. A própria palavra cruz devia não apenas ficar longe do corpo de um cidadão romano, mas também de seus pensamentos, seus olhos e seus ouvidos”.
Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.).
O Maior Orador Romano e Político
Pelo fator histórico sabemos que Jesus foi mais um entre milhares de crucificados pelo poder romano na Palestina.
Jehohanan, judeu como Jesus, foi crucificado, e quase ninguém ouviu falar dele.
Se Jesus não fosse o verdadeiro Messias, filho de Maria, filho adotivo de José, o filho de Deus, batizado por João Batista e não tivesse se refugiado no Egito, certamente a sua vida mergulharia no esquecimento da História Universal.
O que Jesus trouxe para ser aceito e reconhecido como o verdadeiro Messias? Quem responde é o Papa Bento XVI: “A resposta é dada de um modo muito simples: Deus nos trouxe Deus. Jesus trouxe Deus e assim a verdade sobre a nossa origem; a fé, a esperança e o amor. Somente por causa da dureza do nosso coração é que pensamos que isso seja pouco”.
Foi o próprio Jesus que disse: “É pelos seus frutos que os reconhecereis” (Mt 7,20).
1. Todas as profecias do Antigo Testamento se cumpriram com precisão em Jesus Cristo (Lc 24,44).
2. O único a ser gerado por obra e graça do Divino Espírito Santo no seio de uma virgem. É assim foi aceita como esposa de um homem justo (Mt 1,19).
3. Testemunhos de várias pessoas: a mulher cananéia: “Senhor, filho de Davi” (Mt 16,22). Simão Pedro: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” (Mt 16,16). O centurião e os que com ele guardavam a Jesus, ao verem o terremoto e tudo mais que estava acontecendo, ficaram muito amedrontados e disseram: “De fato, este era o Filho de Deus” (Mt 27,54). Nicodemos, um notável entre os judeus, mestre de Israel. Á noite ele veio encontrar Jesus e lhe disse: “Rabi, sabemos que vens da parte de Deus como um mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com ele” (Jo 3,1.2).
4. Milagres, curas, libertação dos oprimidos dos demônios e ressurreição de mortos. “Quem é este a quem até os ventos e o mar obedecem?” (Mt 8,27). “Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos de um cego de nascença. Se esse homem não viesse de Deus, nada poderia fazer” (Jo 9,32.33). “Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição”. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. Crês nisso? Disse Marta: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que vem ao mundo” (Jo 11,25-27). “Pois tinha mais de quarenta anos o homem em quem se operara aquele milagre de saúde” (Atos 3,1-8.16; 4,22).
5. Julgamento de um homem inocente que só fez o bem e amou a todos. Seu julgamento injusto, controvertido, que envolveu o Império Romano, o Sinédrio, o rei, Herodes e o povo. “Vendo Pilatos que nada conseguia, mas, ao contrário, a desordem aumentava, pegou água e, lavando as mãos na presença da multidão, disse: Estou inocente desse sangue. A responsabilidade é vossa” (Mt 27,24). Esta é a principal cena do mais importante julgamento da História que jamais será apagada e esquecida.
6. Ressuscitado dos mortos. O primeiro historiador da Igreja Lucas escreve: “É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” (Lc 24,34). São vários testemunhos da ressurreição do Messias: “Maria Madalena”, “os apóstolos” (Jo 20,11-30). “Os dois discípulos no caminho de Emaús” (24,13-35). “Ao apóstolo Paulo e por mais de quinhentos irmãos” (1 Cor 15,1-8). Depois dessas provas irrefutáveis, temos do Espírito Santo a revelação divina que cremos pela graça da fé.
CONCLUSÃO
Somente o sangue imaculado de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo derramado na dolorosa cruz do Calvário tem o poder de purificar todo o pecado na alma do mais vil pecador.
Esse é único sacrifício que a humanidade depende para salvação.
A missão de Cristo na cruz é o único meio que faz transportar a pessoa do erro para verdade, das trevas para luz, do pecado para o perdão e santificação, da maldição para benção, da perdição para salvação do inferno para o céu.
O escândalo da Cruz de Cristo é uma obra de maior feito e riqueza na História do mundo que ainda é para muita gente incompreensível e não aceito.
Esse tão rico tesouro e tão profundo é esse mistério, é revelado aos filhos de Deus por graça e fé na pessoa do Redentor.
A cruz é contraditória e paradoxal para mente racional, no entanto, nela centraliza toda justiça e a radicalidade do amor de Deus para remissão do gênero humano.
É ao pé da Cruz do Redentor que todos precisam se ajoelhar para contemplar seu estado de pecador e ao mesmo tempo de perdoado e regenerado pelo sangue do Cordeiro Imaculado e depois contemplar as mansões celestiais.
Foi no Calvário que se abriu no coração de Jesus Cristo a nossa morada eterna.
O nosso lar celestial no coração de Jesus nasceu no Calvário e graças à misericórdia do amor bom Deus.
A missão de Jesus Cristo na cruz foi obra perfeita e única da redenção humana. A maior expressão do amor de Deus.
Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História de Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
E-mail; [email protected]
NOTAS E BIBLIOGRAFIA
(1) RATZINGER, Joseph. Bento XVI. Jesus de Nazaré: Primeira Parte: do Batismo no Jordão á Transfiguração, São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007, pp. 29 e 54.
Veja, 12/04/1995, p.78.
Jornal do Brasil, 13/02/1993, p.4.
GOMES, C. Folk. Antologia dos Santos Padres, São Paulo: Paulinas, 1985.
CHESTERTON, G. K. Ortodoxia, São Paulo: Mundo Cristão, 2008.
VERMES, Geza. Jesus, o Judeu, São Paulo: Edições Loyola, 1990.