Abstinência é a solução para a Aids, diz Papa


18.03.2009 - O papa Bento XVI declarou nesta terça-feira que a distribuição de preservativos não é a forma correta de combater a disseminação do vírus HIV e da aids. O pontífice insistiu que a Igreja Católica Romana está na vanguarda da luta contra a epidemia na África.

A bordo do avião papal para uma viagem pelo continente, Bento XVI alegou ainda que a distribuição de camisinhas “piora o problema”. A máxima autoridade da Igreja Católica já chegou a Iaundê, capital da República de Camarões, na tarde desta terça-feira.

A África é a região do planeta mais afetada pela aids. De acordo com estimativas elaboradas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2008, de 30 milhões a 36 milhões de pessoas vivem atualmente com o vírus HIV no organismo. Destas, pelo menos 22 milhões estão na África.

O Vaticano encoraja a abstinência sexual como forma de combater a disseminação da síndrome da imunodeficiência adquirida. O antecessor do atual pontífice, João Paulo II, geralmente dizia que a abstinência, e não o preservativo, era a melhor forma de se evitar a transmissão da doença. Bento XVI disse que uma atitude responsável e moral em relação ao sexo ajudariam a combater a doença.

Esta é a primeira viagem de Bento XVI ao continente africano como papa. Ele deixou o aeroporto de Roma com destino a Camarões na manhã desta terça-feira. Ele também irá a Angola.

Em Camarões, o papa foi recebido hoje pelo presidente Paul Biya, que governa o país desde 1982 e tem sido acusado pela Anistia Internacional de abusos contra a oposição política. O papa não fez referências à situação política em Camarões, mas disse em declarações gerais sobre a África que “um cristão não deve permanecer nunca em silêncio” face à “violência, pobreza, fome, corrupção e abuso de poder.”

CRÍTICAS - A chefe de políticas, comunicação e pesquisa da organização Treatment Action Campaign, da África do Sul, Rebecca Hodes, criticou a posição do papa. Segundo ela, o religioso põe seus dogmas como “mais importantes que as vidas dos africanos”.

Rebecca disse concordar com o fato de que os preservativos não são a única solução para a epidemia de aids. Porém ressaltou que eles são um dos poucos mecanismos de fato efetivos no combate ao problema.

Mesmo alguns padres e freiras já questionaram a oposição da Igreja em relação à camisinha, em meio à gravidade do problema no continente africano. Altos funcionários do Vaticano pregam a fidelidade no matrimônio e a abstinência de sexo antes do casamento como as principais armas de combate à aids.

O cardeal Alfonso Lopez Trujillo, morto em 2008, disse em 2003 que os preservativos poderiam ajudar a espalhar a aids, pela falsa sensação de segurança que passariam. Então chefe do Conselho Pontificial do Vaticano para a Família, Trujillo alegou que a camisinha não era efetiva para bloquear a transmissão do vírus.

Bento XVI encontrou-se com uma multidão de fotógrafos e cinegrafistas nesta terça-feira, ao desembarcar em Camarões. A África é o continente onde mais cresce o número de adeptos da Igreja Católica, onde essa religião disputa os fiéis com o Islamismo e as igrejas evangélicas.

CRISE - O papa disse que espera fazer um apelo por “solidariedade internacional” para a África, em face da crise econômica global. Segundo ele, apesar de a igreja não propor soluções econômicas específicas, ela pode dar sugestões “espirituais e morais”.

Bento XVI descreveu o atual momento como fruto de “um déficit de ética nas estruturas econômicas”. “É aqui que a igreja pode fazer uma contribuição.”

Fonte: Bem Parana / Associated Press


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