Artigo Extra - www.rainhamaria.com.br
15.03.2009 - O Brasil todo se chocou com o que aconteceu nos últimos dias na cidade de Alagoinha, em Pernambuco: uma menina de 9 anos que foi estuprada por seu padrasto e que estava grávida de gêmeos. Não demorou muito para que a população entrasse na dúvida cruel, que estava pondo em cheque a vida de três crianças: a menina deveria abortar ou não? A Igreja não demorou se manifestar. Dom José Cardoso Sobrinho, Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, declarou, antes de darem a decisão se fariam ou não o aborto, que essa prática não deveria acontecer.
Mas, foi inevitável: o aborto ocorreu. E agora, foi certo? Foi certo matar duas crianças por causa do erro de um criminoso, o pai, o estuprador? Foi certo usar o argumento de que a criança poderia morrer caso levasse a gravidez adiante para matar duas vidas? O Brasil se dividiu. Aqueles que eram católicos se mostraram verdadeiros ‘lobos’ em pele de cordeiros. Atacaram a Igreja Católica e a sua opinião sobre o aborto, principalmente quando Dom José proclamou uma lei do Código de Direito Canônico da Igreja e disse que o aborto incorre em excomunhão latae sentenciae. E aí, quem está certa? A Igreja? A equipe médica?
É fato que nunca podemos deixar de analisar um aborto sem pensar em condições exteriores, que o causem. Devemos sempre analisar aquilo que provoca um aborto e o que induz a essa prática. Mas, é fato também que, na análise dos fatores externos, conclui-se sempre que não é certo abortar, pois, desse modo, trata-se o problema com uma solução repugnante: a morte. Não importa o que aconteça, se foi estupro, anancefalia cerebral, riscos, a vida é um direito de todos. Pelo menos, é o que diz a Constituição Federal.
Dizendo que não deveria ocorrer o aborto, não está se desprezando o caso de estupro horrível que a menina sofreu. Mas, espera aí, o que é pior: a morte ou o estupro? A vida das duas crianças era uma chance da família da vítima desse estupro se redimir e dar a volta por cima tendo uma gravidez arriscada, mas, que seria (tenho certeza) cumulada das graças de Deus, já que eles tiveram a consciência de que algo repugnante como o estupro não merecia um tratamento ‘na mesma moeda’ (ou em moeda pior). Mas, preferiram contradizer aquilo que a Igreja ensinou, praticando algo de caráter imoral.
Por mais que a lei do Brasil permita que ocorra o aborto no caso de estupro, isso não quer dizer que o aborto seja moral. Nesse caso, o aborto é legal - de acordo com a lei humana. Mas, de matéria moral o aborto não tem nada, nem na lei humana, nem na lei divina. A Igreja, como instituição que tem por finalidade principal a defesa da vida, se manifestou: “Nossa Santa Igreja Católica sempre condenou todas as violações graves da lei de Deus (p. ex. injustiças, homicídios, pedofilia, estupro, etc.), mas colocou em evidência quais são as violações mais graves, sobretudo o aborto que é a supressão de uma vida de um ser humano inocente e indefeso” (Declaração da Arquidiocese de Olinda e Recife, 10/03/09).
A Igreja estava errada? Estava errada em pôr em primeiro lugar a vida? Estava errada em defender que a atitude criminosa de um estupro não pode ser tratada com a morte? Errado? Quem estava errado era Jabor quando chamou Dom José de inquisidor, sendo que era ele o homem que lutava pela vida de duas indefesas crianças. Errado? Quem estava errado era aquele que pensava que uma vida valia por duas.
Quando percebe-se que aqueles que estavam errados eram os certos e, aqueles que estavam supostamente ‘certos’ eram os errados, só nos resta exclamar com Isaías aquilo que entalava em nossa garganta como um espinho de peixe há tanto tempo: “Ai daqueles que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que mudam as trevas em luz e a luz em trevas!” (5,20).
Fonte: Ecclesia Una