11.03.2009 - Durante anos, a mistura entre fé e política fez mover na pequena cidade de Siauliai (pronuncia-se algo como "chu-lei"), no norte da Lituânia, uma pequena montanha. Sobre ela, uma a uma, foram sendo plantadas cruzes e toda espécie de imagens religiosas, chegando a cerca de 50 mil demonstrações de crença e persistência.
Sem visitar o local, é difícil ter uma proporção exata do fenômeno. A questão não é nem a quantidade de cruzes - que vão de grandes cruzeiros de pedra a pequenos medalhões -, mas sim a história que cada uma sustenta. Olhando com atenção, nota-se que quase todas levam uma inscrição: um nome, uma data ou, frequentemente, uma mensagem. São cruzes de agradecimento ou esperança, que carregam ambiciosos pedidos de paz mundial ou simples desejos de saúde para o neto que vai nascer.
A primeira menção escrita ao Monte das Cruzes foi feita em 1850, mas acredita-se que sua história tenha começado em 1831, quando diversas famílias se viram proibidas de prestar a última homenagem a jovens rebeldes mortos em um confronto contra a ocupação russa. O número de cruzes aumentou após um segundo embate, em 1863.
O local já era considerado um sítio sagrado na virada para o século XX, embora em 1900 se encontrassem sobre o monte apenas 130 cruzes. O grande aumento ocorreu durante o regime soviético. Anonimamente, os lituanos colocavam suas cruzes no local como forma de protesto silencioso contra o regime comunista.
Moscou não demorou a considerar o monte uma provocação e, durante anos, tentou demolir o local. Entre 1973 e 1975, cerca de 500 cruzes eram destruídas ao ano. Em vão. Mesmo com o exército soviético e a KGB montando guarda, mesmo com estradas bloqueadas pela polícia e com os boatos de epidemias na região, ainda assim, as cruzes continuavam reaparecendo sobre o monte a cada manhã.
Com o fim da União Soviética, o estatuto do Monte das Cruzes mudou. O local foi ganhando fama mundial, especialmente após 1993, quando o papa João Paulo II visitou o santuário e ficou emocionado com uma cruz colocada por sua saúde em decorrência do atentado de 1981.
Ninguém administra o Monte das Cruzes, que não requer bilhetes para entrar nem tem horário de visitas. De comércio, apenas alguns vendedores ambulantes ofertando, entre outras, cruzes para cada turista deixar ali seu pedido e uma contribuição para que a coleção continue crescendo.
Especial para Terra