Bento XVI: «pároco é quem melhor pode conhecer o homem de hoje»


02.03.2009 - O confessionário «não está longe» da vida real das pessoas

ROMA.- «Nenhuma outra profissão, como a de sacerdote, permite conhecer melhor o homem como ele é realmente»: assim afirma o Papa Bento XVI em seu encontro com os párocos da diocese de Roma, realizado na quinta-feira passada, 26 de fevereiro.

Quando as pessoas vão ao confessionário, afirmou, «vão sem máscaras, com seu próprio ser. A sacristia não está no mundo, mas na paróquia. E lá, quem procura o pároco são os homens, geralmente sem máscaras, sem outros pretextos, mas em situação de sofrimento, de doença, de morte, de questões familiares», explicou o Papa.

«Quem melhor que o pároco conhece os homens de hoje? Nenhuma outra profissão, acho, dá esta possibilidade de conhecer o homem como é em sua humanidade, e não no papel que tem na sociedade», acrescentou.

Neste sentido, observou o Papa, os sacerdotes «podem estudar realmente o homem em sua profundidade, longe dos papéis, e aprender eles mesmos sobre o ser humano, ser homem na escola de Cristo».

O Bispo de Roma quis encontrar-se com seus párocos e responder pessoalmente a suas perguntas e inquietudes, em um encontro realizado na Sala da Bênção do Vaticano, como é tradicional cada começo de Quaresma.

À primeira pergunta, realizada pelo sacerdote Gianpiero Palmieri, pároco de San Frumenzio ai Prati Fiscali, sobre a adequação ou não da formação recebida pelos sacerdotes diante da situação do mundo atual, o Papa admitiu que «não é suficiente pregar ou fazer pastoral com a preciosa bagagem adquirida nos estudos de teologia».

«Isso é importante, é fundamental, mas deve ser personalizado: do conhecimento acadêmico, que aprendemos e sobre o qual refletimos, à visão pessoal da minha vida, para chegar a outras pessoas», acrescentou.

A chave está, explicou o Papa, na fé vivida pelo próprio sacerdote: «concretizar com a experiência pessoal de fé, no encontro com os paroquianos, a grande palavra da fé».

«Devemos, através do estudo e do que nos dizem os mestres de teologia e nossa experiência pessoal com Deus, concretizar, traduzir estas grandes palavras, de forma que entrem no anúncio de Deus ao homem de hoje.»

Neste sentido, acrescentou, é fundamental transmitir a experiência pessoal da própria fé com as ferramentas e a linguagem atuais.

«Não vivemos na lua – observou o Papa. O sacerdote é um homem deste tempo, se vive sinceramente sua fé na cultura de hoje, sendo alguém que vive com os meios de comunicação de hoje, com os diálogos, com as realidades da economia, com tudo.»

«Se é sincero consigo mesmo e começa a ver em si o que é a fé, com sua experiência humana neste tempo, bebendo de seu próprio poço, como diz São Bernardo de Claraval, também pode dizer aos demais o que deve dizer.»

Simplicidade

O Papa aconselhou também aos seus párocos que sejam «simples» na hora de expor a Palavra de Deus e as verdades da fé.

«Lembro de um amigo que, após ter escutado pregações com longas reflexões antropológicas para chegar juntos ao Evangelho, dizia: ‘Mas não me interessam estas aproximações, eu quero entender o que diz o Evangelho!’»

O pontífice acrescentou que o fundamental «é entender o que o Senhor nos diz», com simplicidade, mas «sem falsas simplificações».

«Os doze apóstolos eram pescadores, artesãos, desta província, Galiléia, sem preparação particular, sem conhecimento do grande mundo grego ou latino. E, contudo, foram a todos os lugares do Império, inclusive fora dele, até a Índia, e anunciaram Cristo com simplicidade e com a força da simplicidade do que é verdadeiro», acrescentou.

O Papa sublinhou a importância de «não perder a simplicidade da verdade. Deus existe e não é um ser hipotético, longe, mas próximo, falou conosco, falou comigo. E, assim, digamos simplesmente o que é e como se deve naturalmente explicar e desenvolver. Mas não percamos de vista o fato de que não propomos reflexões, não propomos uma filosofia, mas o simples anúncio do Deus que atuou».

Proximidade do Papa a seus diocesanos

Bento XVI manifestou também sua alegria ao encontrar-se com os párocos de sua diocese, encontro que definiu como um «descanso espiritual».

«Estamos juntos para que vós possais me contar vossas experiências, vossos sofrimentos, também vossos êxitos e alegrias», acrescentou o Papa afetuosamente. «Estamos em um intercâmbio familiar, no qual para mim é muito importante, através de vós, conhecer a vida nas paróquias, vossas experiências com a Palavra de Deus no contexto de nosso mundo de hoje.»

Ele mostrou seu interesse particularmente por «aprender deles»: «Vós viveis no contato direto, dia a dia, com o mundo de hoje», afirmou.

O Papa quis também compartilhar com eles sua própria experiência, afastada da vida paroquial, mas também em contato, especialmente através das visitasad limina, com os católicos do mundo inteiro.

Concretamente, explicou a última visita antes do encontro, com os bispos da Nigéria, que definiu «uma Igreja como a vemos nos Atos dos Apóstolos, onde está a alegria fresca de ter encontrado Cristo, de ter encontrado o Messias de Deus».

«Ver que não há apenas uma Igreja cansada, como se encontra frequentemente na Europa, mas uma Igreja jovem, cheia de alegria do Espírito Santo, é certamente um refresco espiritual. Mas também é importante para mim, com todas estas experiências universais, ver minha diocese, os problemas e todas as realidades que vivem nesta diocese!», acrescentou.

Fonte: www.zenit.org


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