21.02.2009 - “A mistura de púlpito e política é parte fundamental da história americana”, afirma o pesquisador Timothy Nelson, da Kennedy School of Government, da Universidade de Harvard (1).

A primeira reação costuma ser de espanto, e é seguida de uma pergunta: como é que os cidadãos do país mais rico do mundo podem chegar a um nível financeiro tão desesperador? Em seguida, surgem entre eles próprios a segunda reação: lamentar-se com uma dose de constrangimento misturada á outra de vergonha. Os chamados “Centros de Carreira”, 2.942 postos federais de treinamento e ofertas de empregos, criados pelo Congresso dez anos atrás, jamais foram tão freqüentados como nos últimos meses. Eles passaram a ser definidos como “ pronto-socorros” da economia americana:
- O que estamos vendo é um show de horror! – afirmou Lawrend Mishel, presidente do Economic Policy Institute, um centro de pesquisas econômicas de Washigton. Cerca de 40milhões de pessoas nos Estados Unidos não têm o suficiente para comer. O número de americanos sobrevivendo graças a cupons alimentares distribuídos pelo governo já ultrapassou pela 1ª pela primeira vez, em novembro passado, a cifra de 30 milhões. Quem poderia imaginar que a superpotência do império americano chegaria a uma crise tão catastrófica. A crise financeira acarreta males terríveis e progressivos. Os danos são irreparáveis em todo seguimento social.
“Fracasso na promoção da solidariedade social pode ter outros custos, entre os quais os necessários para proteger a propriedade privada e manter encarcerados os criminosos”. “Estima-se que, dentro de poucos anos, os EUA terão mais gente trabalhando em segurança do que em educação”. “Um ano na prisão pode custar mais do que um ano em Harvard” diz Joseph E. Stiglitz, economista do Project Syndicate(3). Há 2,3 milhões de pessoas presas nos Estados Unidos e a população carcerária quadruplicou desde 1980. Tem uma taxa de 750 presos por cem mil habitantes a mais alta do mundo. Esbraveja o dramaturgo britânico e ganhador do Nobel de Literatura Harold Pinter: “Os crimes cometidos pelos EUA no mundo têm sido sistemáticos, constantes, clínicos, sem remorsos e amplamente registrados, mas ninguém fala sobre isso”(4).

CRISE RELIGIOSA

“Em 1900, as nações cristãs zelavam pela instituição da família, eram mais atentas ao uso excessivo de álcool e consideravam o domingo um dia sagrado. Nos cem anos que se seguiram, as nações cristãs se tornaram mais seculares. O modo de vida norte-americano fez propaganda do álcool e das drogas, além de tolerar aventuras sexuais e a rebeldia dos jovens. O consumismo e a moral frouxa que o Ocidente ostentava era através da televisão, dos filmes de Hollywood e do estilo de vida das estrelas pop internacionais”, escreve o renomado historiador e professor da Universidade de Harvard e da Universidade de Melbourne Dr. Geoffrey Blainey(5).
O leiloeiro disse á mirrada multidão reunida na frente do Tribunal de Justiça do Condado de Talbot, no Estado de Maryland, que o imóvel seria vendido “como está” – incluindo casa paroquial, torre do sino, bancos de cedro e vitrais. “Quem dá US$ 700.00, 700,700?”, gritou o leiloeiro. Apenas um homem, representante de um banco local levantou mão. “Vendido!”, berrou o leiloeiro, depois de tentar em vão obter um preço melhor. A igreja Anglicana St. Andrew acabara de ser comprada pelo banco que iniciara sua execução judicial. “É provavelmente bom para minha alma ter esta lição de humildade”, disse o reverendo Joel Marcus Johnson, pastor de St.Andrew, depois do leilão.
Neste amargo fim de ano em crise, nem mesmo a casa de Deus tem sido poupada. Os credores dizem que o número de igrejas com prestações da hipoteca atrasadas bateu recorde este ano nos Estados Unidos. “Temos visto mais problemas com igrejas do que em qualquer outro período da historia moderna”, diz Mark G. Holbrook, presidente da Evangelical Credit Union de Brea, na Califórnia, especializada em financiamentos para igrejas. Este ano, o banco teve executar judicialmente 5 igrejas de um total de 2.000 filiadas, e Holbrook diz que espera ter que fazer o mesmo com mais 5 em 2009(6).

Em dezembro de 2008, a igreja pentecostal de Detroit-EUA, colocou sobre o altar três carrões utilitários, um de cada marca: Ford, GM e Chrysler, para pedir proteção contra a falência das suas fábricas ao som da canção Em Busca de um Milagre. As três fabricantes enfrentam a maior crise da história.

ABANDONO DA PALAVRA DE DEUS

Será que a decadência religiosa americana não se deve a idolatria e a opulência dos templos e dos líderes religiosos? “Estou profundamente incomodado com a situação das nossas igrejas hoje. Estão cheias dos ídolos da civilização moderna. Achamos que podemos ter tudo que este mundo tem para oferecer e, de alguma forma ficar com Deus também”, disse o pastor Del Fehsenfeld Jr. fundador do ministério Life Action Ministries.
Será que não é por causa de projetos puramente humano? Diz o preclaro pastor David Wilkerson: “Estou cansado de tantas conferências sobre “como obter sucesso” porque não produzem nada”. Quando olho para o cenário religioso de hoje, o que vejo são invenções e ministério do homem, da carne. Na maior parte, não há poder, não há impacto sobre o mundo. Vejo o mundo entrando cada vez mais na igreja, impactando a igreja ao invéis de ser impactado por ela. “Vejo a música e o entretenimento tomando conta da casa de Deus, uma verdadeira obsessão com apresentações e entretenimentos” (7).

Será que não é por causa do abandono do ensino da Palavra de Deus por outros ensinos como:

1. Psicologia da auto-ajuda e do Evangelho Social.
2. Igreja e vida com PROPÓSITOS, sem o PROPÓSITO E A PROPOSTA do Evangelho de Jesus Cristo.
3. Liberalismo moral, teológico e divisões. Na vilania idéia: dividir para crescer numa nova liderança: a apostólica.
4. Onda gospel e a teologia da prosperidade, na crista do neopentecostalismo.

CONCLUSÃO

Resta tão somente, orarmos por um verdadeiro avivamento global, na dimensão individual, eclesial e social permanente. “Se o meu povo, sobre quem foi invocado o meu nome, se humilhar, orar, buscar a minha presença e se arrepender de sua má conduta, eu, do céu, escutarei, perdoarei seus pecados e sanarei seu país” (2 Cr 7,14). Disse Jesus: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5).
Multidões no mundo inteiro clamam por uma grande renovação espiritual. Aguardamos uma estupenda revolução de poder, de amor, de paz e de justiça, onde Jesus Cristo será o centro das atenções.

Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
E-mail: [email protected]

Notas:

(1) O Globo, 23/03/2008, p. 39.
(2) O Globo, 15/02/2009, p. 34.
(3) O Globo, 10/08/2008, p. 7.
(4) Jornal do Brasil, 26/12/2008, p .A19.
(5) Blainey, Geoffrey. Uma breve história do século XX, São Paulo, SP: Editora Fundamento Educacional, 2008, p. 296.
(6) Valor, 23,24 e 25 de dezembro de 2008, p.c4.
(7) O Arauto da Sua Vinda, março – Abril de 2008, p.1.