Localizador de pessoas do Google põe privacidade em xeque


16.02.2009 - Você buscou palavras no Google, pessoas no Orkut e possivelmente agora vai começar a caçar amigos no Latitude, um serviço gratuito do gigante da internet que promete apontar em mapas -- exibidos na tela do computador ou do telefone celular -- a exata localização de seus conhecidos. E também mostrará a essas pessoas onde você está. Apesar de esse serviço de localização não ser uma completa novidade, a entrada do Google no setor acelera sua popularização, reforçando também as polêmicas relacionadas a esse tipo de ferramenta.

Assim como aconteceu com o surgimento do telefone celular e das redes sociais, ainda não se sabe exatamente como a novidade será integrada à vida de seus usuários, e quais os efeitos ela terá sobre atividades cotidianas.

Se o celular de certa forma acabou com o seu direito de se isolar e ficar incomunicável – a não ser, é claro, que você o desligue ou invente desculpas como “estou em uma área sem sinal” ou “vou entrar no túnel agora, deve cair a linha”, o Latitude vai limitar, inclusive, seu direito de ir para lugares onde você não gostaria de ser descoberto. Sim, você pode ligar e desligar o radar, e até mesmo “mentir” para a máquina, alterando sua localização. Mas até isso gera novos problemas e questões morais.

O G1 ouviu especialistas na área de tecnologia para entender o quanto o Latitude ameaça os direitos dos usuários, e qual é o uso adequado desse localizador. Confira abaixo perguntas e resposta sobre o novo serviço do Google.

A ferramenta invade a privacidade dos usuários?

Depende de como ele usar o Google Latitude e de quanta informação estiver disposto a compartilhar com seus contatos. Enquanto alguns acham absurda a possibilidade de serem localizados na tela dos celulares, outros podem não se importar em exibir sua localização em tempo real. É possível ainda usar a ferramenta de maneira parcial: ela pode ser desabilitada temporariamente e apontar uma localização falsa, onde o usuário não está naquele momento.

André Lemos, professor da faculdade de comunicação e pesquisador de cibercultura, acredita que os usuários de tecnologia já estão acostumadas a abrir mão de parte de sua privacidade. “O celular já é usado dessa forma, a primeira pergunta é ‘onde você está?’. Em geral, as pessoas estão se mostrando mais e vendo mais informações do outro também”, diz.

“O Latitude foi criado para pessoas que queiram dizer onde estão e para que elas encontrem amigos em seus movimentos pelas cidades. Usa quem quer: a pessoa diz quem poderá saber onde ela está e o nível de detalhe da sua localização”, continua Lemos, reforçando que todos têm direito à privacidade e ao anonimato. “Quem tem algo a esconder vai esconder [mesmo com o Latitude], pois já faz isso de uma forma ou outra.”

O professor e pesquisador Silvio Meira acredita que todos deveriam se preocupar com a privacidade antes de perdê-la e ter de lutar para recuperá-la

“Quem pensa que não tem algo a esconder que se imagine fotografado nu, na privada, e a foto publicada no G1”, provoca o professor de engenharia de software do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, e cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R). “A assimetria de informação [nenhuma pessoa saber tudo sobre outra] é parte essencial da infraestrutura de relacionamento da humanidade.”

Quais os riscos apresentados pelo Google Latitude?

O usuário que acessa esse serviço tem em mente que apenas as pessoas por ele autorizadas poderão visualizar sua localização, nos momentos em que ele permitir. O problema surge quando aqueles sem autorização se apoderam dos dados - caso de hackers, ladrões ou até mesmo empresas interessadas nos hábitos de consumidores.

“Dados pessoais e identidade podem ser furtadas. Os próprios cônjuges, hoje aos beijos, amanhã podem estar no pior dos mundos e recorrer à bisbilhotagem eletrônica. Se as informações caírem nas mãos de delinquentes, corremos o risco de sermos vigiados, seguidos, perseguidos e chantageados, onde quer que estivermos. É pouco?”, questiona Ethevaldo Siqueira, escritor especializado em novas tecnologias.

Já Lemos diz que o maior perigo dessa ferramenta não está na possibilidade de ver a localização de um usuário, mas na geração de perfis que podem ser usadas por empresas de marketing, publicidade, seguradoras e governos. Ele exemplifica, dizendo que uma seguradora de saúde pode cobrar mais de um cliente depois de traçar seu perfil e descobrir que ele gosta de feijoada, compra muitos alimentos gordurosos e vai sempre a churrascarias.

A Garota sem fio faz coro. “Não é apenas o fato de pessoas saberem sua localização que está em discussão. A dúvida maior é: o que o Google faz com essas informações? As políticas de privacidade do Google não detalham quem e como acessa esses dados. É a mesma discussão que acontece com o Gmail. Pelos anúncios mostrados nas páginas das mensagens, sabemos que a empresa acessa seus dados, ainda que de forma não-humana.”

 

Fonte: G1

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