06.02.2009 - O papa Bento 16 está incomodado com a continuidade do debate em torno de sua decisão de suspender a excomunhão do negador do Holocausto, Richard Williamson. As críticas prosseguem apesar dos esforços de reconciliação na quarta-feira. Alguns até mesmo acham que o papa poderia renunciar.
O papa Bento 16 deixou claro na quarta-feira que lamenta o alvoroço causado ao trazer de volta à Igreja o bispo negador do Holocausto, Richard Williamson. De fato, o Vaticano exigiu que Williamson se distanciasse de suas posições antes que pudesse ser plenamente reabilitado.
Ainda assim, segundo um político alemão que se encontrou com Bento após a audiência papal na quarta-feira, o papa está furioso com o tom das críticas alemãs. "O Vaticano está horrorizado com a discussão na Alemanha", disse Georg Brunnhuber, um parlamentar da União Democrata Cristã (CDU), o partido da chanceler Angela Merkel, ao "Financial Times Deutschland". "A impressão é de que todos os ressentimentos anticatólicos escondidos sob a superfície na Alemanha agora estão vindo à tona."
Os comentários de Merkel, em particular, provocaram espanto no Vaticano e em outros lugares. Na terça-feira, a chanceler alemã disse que a negação do Holocausto era inaceitável e que o papa Bento 16 não apresentou "esclarecimento suficiente" sobre a postura da Igreja em relação aos comentários de Williamson sobre o Holocausto. Alguns creditaram a Merkel o incentivo de quarta-feira pelo Vaticano para que Williamson se retrate publicamente de suas posições. Muitos, entretanto, veem os comentários dela como uma interferência inaceitável em um assunto interno da Igreja.
Reinhard Marx, o arcebispo de Munique e Freising, disse ter ficado "pasmo" com a audácia de Merkel. "Eu estou surpreso com estes comentários políticos neste contexto", ele disse à televisão alemã na noite de quarta-feira. O parlamentar europeu Bernd Posselt, da União Social Cristã (CSU) -o partido bávaro irmão do CDU de Merkel- alertou a chanceler a não posar como "mestre" do papa. O colega de partido de Posselt, o parlamentar alemão Norbert Géis, disse ao "Mitteldeutsche Zeitung" que os comentários de Merkel foram "impróprios".
Comentando sobre o debate em geral, o presidente do Parlamento alemão, Norbert Lammert, disse que "muito daquilo que o papa vem sendo acusado é malicioso e certamente não é justo", em uma entrevista ao "Hamburger Abendblatt". Ele disse que o debate se desenvolveu em uma espécie de "disputa retórica que não é nem razoável e nem de ajuda".
A controvérsia está centrada na ultraconservadora Sociedade do Santo Pio 10 (SSPX). Em 24 de janeiro, o Vaticano anunciou que revogaria a excomunhão de quatro bispos da SSPX, incluindo Williamson. O Vaticano disse na quarta-feira que não sabia da reputação de Williamson como negador do Holocausto. Williamson tinha aparecido na televisão sueca poucos dias antes, entretanto, dizendo -em uma entrevista gravada em novembro de 2008- que não acreditava que os nazistas tinham usado câmeras de gás para matar 6 milhões de judeus como uma "política deliberada". Ele reconheceu apenas que 200 mil a 300 mil judeus europeus morreram em campos de concentração, e fez referência à literatura conhecida de negação do Holocausto para apoiar sua posição.
Não demorou muito para que o escândalo chegasse às primeiras páginas por toda a Europa, mas a crítica foi particularmente intensa no país natal de Bento, a Alemanha. Franz Müntefering, o chefe do Partido Social Democrata de centro-esquerda e ele próprio um católico, disse que é "um péssimo erro histórico que a Igreja precisa corrigir o mais rápido que puder". Ele disse que uma declaração do Vaticano não seria suficiente. O chefe da Igreja Católica, ele disse, "demonstrou claramente que mesmo o papa não é infalível".
O Conselho Central dos Judeus na Alemanha agora diz que a Igreja Católica deveria dar as costas à SSPX, dizendo que não é possível manter um diálogo se a Igreja aceita o grupo ultraconservador como membros formais. Williamson não é o único negador do Holocausto entre os seguidores da Santo Pio 10, e seu site na Internet argumenta que os judeus são culpados de "deicídio" por terem crucificado Jesus.
Por mais frustrado que o papa possa estar com a continuidade do debate, pelo menos um membro do Vaticano pensa que Bento poderia até mesmo considerar oferecer sua renúncia. O padre Eberhard von Gemmingen, chefe da equipe de língua alemã da Rádio Vaticano, disse que o papa "se encontra contra a parede", em comentários para a rádio alemã. "Como conheço o papa", ele disse, "então é certamente possível que ele tenha pensado: 'A certa altura eu posso ter que renunciar para que o papado seja respeitado'".
Fonte: UOL notícias
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Lembrando...
Teólogo pede renúncia do papa após reabilitação de bispo que negou Holocausto
31.01.2009 - O teólogo heterodoxo suíço Hans Küng pediu a renúncia do papa Bento 16 após o escândalo gerado pela reabilitação à Igreja Católica do bispo Richard Williamson, que nega o Holocausto e recentemente teve sua excomunhão suspensa.
Para Küng, a reabilitação de Williamson é apenas um equívoco a mais na série de erros com os quais Bento 16 vem pondo novos obstáculos no diálogo que as Igrejas cristãs travam entrem si e com outras religiões.
"Primeiro, ele questionou se os protestantes formam uma Igreja. Depois, em seu infeliz discurso de Regensburg, chamou os muçulmanos de desumanos. E agora ofende os judeus permitindo o retorno à Igreja de um negador do Holocausto", disse Küng em declarações ao jornal "Frankfurter Rundschau".
"É hora de substituí-lo", acrescentou Küng, que foi companheiro do papa quando ambos eram professores de teologia católica na Universidade de Tübingen.
O Vaticano proibiu Küng de ensinar a teologia católica em 1980, depois que ele questionou o dogma da infalibilidade papal.
Desde então, teólogo heterodoxo suíço, que permaneceu dentro da Igreja Católica, mas sem poder atuar como padre, se dedica ao diálogo entre as religiões.
Já Williamson e outros três bispos seguidores do cismático ultraconservador Marcel Lefebvre foram reabilitados pelo papa há uma semana.
Fonte: Folha
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Lembrando...
Bispo que negou Holocausto pede perdão ao papa por sua imprudência.
O bispo tradicionalista Richard Williamson, que negou a existência das câmaras de gás durante o Holocausto, lamentou nesta sexta-feira os "sofrimentos" que causou ao papa Bento 16 por suas "observações imprudentes", em carta publicada em seu site.
Monsenhor Williamson endereçou a carta ao cardeal Dario Castrillon Hoyos, o prelado encarregado das negociações com os católicos da Fraternidade São Pio 10.
Lembra, sem citá-las, suas "observações imprudentes" feitas à televisão sueca e expressa ao cardeal Castrillon Hoyos "sinceros arrependimentos por ter causado ao senhor mesmo e ao Santo Padre tantos sofrimentos e penas inúteis".
A televisão sueca divulgou as declarações negacionistas de Richard Williamson no dia 22 de janeiro, dois dias antes do anúncio, pelo Vaticano, do levantamento, por Bento 16 da excomunhão de quatro bispos da Fraternidade, incluindo ele próprio, Williamson.
O bispo afirmou na ocasião que "não existiram as câmaras de gás na Alemanha nazista" e que só morreram "200 mil a 300 mil judeus" e não os seis milhões que se calcula.
As declarações do bispo ultraconservador Richard Williamson sobre o holocausto nazista, "perturbaram o papa e a Igreja Católica", admitiu na quarta-feira o secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone.
O assunto levantou uma onda de indignação entre associações judaicas e católicas.
Logo em seguida, o Papa Bento 16 condenou com firmeza o negacionismo.
Fonte: Folha