06.02.2009 - No vasto espaço de um museu nos Estados Unidos, um grupo de missionários que combate a teoria da evolução de Darwin reproduziu o ambiente do Gênesis bíblico em uma exposição, na qual dinossauros convivem em perfeita harmonia com Adão e Eva no Jardim do Éden.
O Museu da Criação, uma iniciativa de US$ 27 milhões, tem como objetivo principal dar vida à Bíblia e seus relatos, aproximando-os das pessoas. “Preparem-se para acreditar”, diz o folheto entregue aos visitantes na entrada da exposição.
“O que estamos tentando fazer aqui é deixar as pessoas terem acesso a informações que são amplamente censuradas do público, e certamente censuradas nas escolas públicas dos EUA, onde a evolução é ensinada como um fato”, disse o co-fundador do museu criacionista, Ken Ham.
Para isso, seus idealizadores fazem um desafio direto às teorias da evolução do ser humano desenvolvidas pelo naturalista britânico Charles Darwin, nascido 200 anos atrás, em 12 de fevereiro de 1809. No livro “A origem das espécies”, publicado em 1859, Darwin estabeleceu um marco na ciência, ao expor suas idéias sobre a evolução através da seleção natural.
Ao mesmo tempo, lançou um desafio àqueles que acreditam em uma interpretação literal das escrituras, afirmando que Deus criou o mundo e todas as espécies em seis dias. “As pessoas discutem as origens do universo, mas nós não estávamos lá. Ninguém viu o Big Bang”, argumenta Ham, um missionário australiano e ex-professor de biologia radicado nos Estados Unidos. Ele admite que os criacionistas têm um longo e árduo caminho pela frente.
“Nos Estados Unidos, você não tem liberdade acadêmica nas escolas do governo, eles expulsaram Deus e a Bíblia e redefiniram a ciência como naturalismo”, disse. “Em outras palavras, tudo precisa ser explicado por processos naturais. Isso, na verdade, é uma postura religiosa. É a religião do ateísmo”. Além disso, Ham alega que, ao contrário do que muitos pensam, as evidências da natureza na verdade apóiam a teoria criacionista.
“Um evolucionista e um criacionista possuem crenças diferentes, e ambos possuem posturas religiosas diferentes. Mas nós utilizamos a mesma ciência de observação para confirmar nossas posições”, afirmou. “A evolução tenta confirmar a evolução, nós não negamos isso. O que nós dizemos é que ela confirma a descrição bíblica da criação. Eles dizem que não”, acrescentou o missionário.
Os dinossouros povoaram a Terra por milhões de anos, mas foram extintos cerca de 65 milhões de anos atrás, muito antes da aparição dos primeiros seres humanos, há aproximadamente 200 mil anos. Entretanto, uma vez dentro dos 6,5 mil m² do exuberante complexo do Museu da Criação, dinossauros ‘animatronics’ caminham ao lado de exemplares de Homo sapiens, em cenários criados por Patrick Marsh, diretor de arte responsável pelas atrações dos filmes King Kong e Tubarão no parque temático da Universal Studios, na Flórida.
Ao todo, 160 cenas e explicações recriam os relatos do Velho Testamento. Há um Jardim do Éden completo, com a árvore do conhecimento e a serpente tentando Adão e Eva. Caminhando pelo Vale das Sombras, os visitantes vêem as conseqüências da queda do homem. Há também uma representação da Arca de Noé, com os animais embarcando para escapar do Grande Dilúvio, além de um planetário que leva os visitantes aos confins do universo.
Apesar de muito criticado pela comunidade científica, que acusa os criacionistas de disfarçarem suas crenças com o conceito de ‘design inteligente’ e tentarem inflitrar o criacionismo nas escolas americanas, o Museu da Criação afirma já ter recebido mais de 500 mil visitantes desde 2007, quando foi inaugurado.
Para marcar o bicentenário de Darwin, o Museu da Criação dedicou a última edição de sua revista quinzenal Answers (”Respostas”) ao naturalista britânico e à revolução que suas teorias causaram no mundo científico. A publicação, que conta com 50 mil assinantes, insiste em dizer que, se Darwin tivesse enquadrado suas descobertas, feitas ao longo de anos de pesquisa em vários lugares do mundo, sob uma perspectiva bíblica, certamente teria chegado a conclusões bastante diferentes.
“Vim aqui porque esse museu diz a verdade sobre o criacionismo”, disse Kelly Page, de Buffalo, Nova York, que viajou ao Kentucky com a mulher e os dois filhos pequenos. “Você não pode ter a evolução e Deus”. No Museu da Criação, os dinossauros são apresentados como mais uma criação de Deus, que escaparam do dilúvio na Arca de Noé. Alguns visitantes acreditam que eles eram apenas lagartos grandes, que não existem mais.
Robert Carr, executivo aposentado e colaborador do museu, afirma que, nos primeiros dias do universo, o tempo passava de maneira diferente. “Quando o universo era menor, o efeito gravitacional era enorme, e o tempo na Terra passava um bilhão de vezes mais devagar”, estima Carr. “Isso explicaria porque Deus criou a Terra em apenas seis dias”.
Fonte:Terra
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Lembrando...
Professor defende a evolução com espaço para Deus
03.05.2008 - Para um professor universitário, Francisco Ayala passa muito tempo na estrada. Biólogo evolutivo e geneticista da Universidade da Califórnia em Irvine, ele realiza freqüentes palestras em universidades, igrejas, diante de grupos sociais e em muitos outros lugares, em defesa da teoria da evolução e contra os argumentos do chamado "criacionismo" e seu primo ideológico o "design inteligente". Usualmente, o público que assiste às suas palestras já concordava com ele antes de ouvi-lo. Mas nem sempre.
À medida que continuam a surgir desafios a que a teoria da evolução seja parte dos currículos escolares, legisladores debatem medidas sob as quais o ensino do criacionismo equivale a liberdade a acadêmica e um novo filme vincula Darwin a males que variam da supressão da liberdade de expressão ao Holocausto, "muita gente que assiste às minhas palestras não sabe bem o que pensar", diz Ayala. "Ou eles acreditam no design inteligente mas ainda assim querem me ouvir".
Ayala, ex-monge dominicano, diz que informa às suas audiências não só que a evolução é uma teoria científica muito bem corroborada como também que acreditar em evolução não impede que uma pessoa acredite em deus. De fato, diz ele, a evolução "é mais compatível com a crença em um deus pessoal do que o design inteligente. Se Deus projetou organismos, ele teria muito por que responder".
Considerem, por exemplo, o fato de que pelo menos 20% das gestações se encerram em abortos espontâneos. Se isso é resultado de uma anatomia concebida por inspiração divina, diz Ayala, "então Deus é o maior dos aborcionistas". Ou considerem, ele propõe, o "sadismo" dos parasitas que devoram seus hospedeiros para sobreviver, ou os hábitos de acasalamento de insetos como os mosquitos-pólvora, cujas fêmeas fertilizam seus ovos consumindo os genitais - e todo o resto - de seus parceiros.
Para os mosquitos-pólvora, disse Ayala, "isso faz sentido em termos evolutivos. Se você é macho e se acasalou, a melhor coisa que pode fazer por seus genes é ser comido". Mas caso Deus ou outro agente inteligente tivesse ordenado as coisas dessa maneira propositadamente, diz o professor, então "Ele seria sádico, certamente faz coisas muito estranhas e é um engenheiro bastante incompetente".
É essa a mensagem de seu mais recente livro, Darwin's Gift to Science and Religion (O que Darwin deu à ciência e à religião), no qual ele conta que, quando estudante de teologia na Espanha, foi ensinado que a evolução "oferecia o 'elo perdido' para a explicação de todo o mal do mundo" - uma defesa da bondade e da onipotência de Deus a despeito da existência do mal.
Ayala faz cerca de 50 palestras por ano, ele contou em recente entrevista em Nova York, um dia depois de uma aula inaugural de um ciclo de palestras sobre genética no City College. Devido a sua posição eminente - ele é membro da Academia Nacional de Ciências, ex-presidente da Associação Norte-Americana para o Progresso da Ciência e ganhador da Medalha Nacional de Ciências -, Ayala desfruta de posição privilegiada para falar.
Ayala, 74 anos, nasceu em Madri e estudou teologia na Faculdade Pontifical de San Esteban de Salamanca antes de imigrar aos Estados Unidos em 1961, para uma pós-graduação em genética na Universidade Colúmbia. Ele se naturalizou norte-americano em 1971.
Ayala se declara surpreso com o número de norte-americanos que acreditam que a teoria da evolução é contrária à crença em Deus, ou a vêem como errônea, ou até mesmo fraudulenta. (Na verdade, não existe contestação científica confiável a ela como explicação da diversidade e complexidade da vida na Terra.)
Ocasionalmente, diz, as pessoas vêm às suas palestras dispostas a desafiá-lo, usualmente brandindo os argumentos criacionistas mais conhecidos. Mas ele diz que até agora não encontrou argumento que não fosse capaz de rebater.
Ayala também descarta o argumento de que seria justo e equilibrado ensinar tanto a teoria da evolução quanto a teoria da criação, sem tomar partido perante a controvérsia. "Não ensinamos alquimia ao mesmo tempo em que ensinamos química", ele diz. "Não ensinamos bruxaria e medicina como se fossem complementares. Não ensinamos astrologia e astronomia".
Ayala se declara entristecido quando se depara com a teoria da evolução descrita como, em suas palavras, "ateísmo explícito", a exemplo do que acontece nos livros do biólogo evolutivo Richard Dawkins ou de outros escritores que tomam ciência e religião como tema.
Nem a existência de Deus e nem a sua não existência são suscetíveis de prova científica, argumenta Ayala, e equiparar ciência ao abandono da religião "se enquadra aos preconceitos" dos proponentes do design inteligente e de outras teorias de base criacionista.
"Ciência e religião tratam de áreas não sobrepostas do conhecimento humano", ele escreve em seu novo livro. "É só quando são realizadas asserções que vão além dos limites em que deveriam se enquadrar legitimamente que a teoria evolutiva e a crença religiosa parecem ser antitéticas".
É importante ressaltar o fato de que Ayala "não é um crítico ou adversário da religião", diz Eugenie Scott, do Centro Nacional de Educação para a Ciência, uma organização que defende o ensino da evolução e se opõe ao ensino do criacionismo nas escolas públicas. "Os criacionistas sempre tratam os inimigos da religião, no mundo da ciência, como se eles falassem por todos os cientistas. Mas é evidente que eles não falam por Francisco e por muitos outros cientistas".
Mas ainda assim Ayala se recusa a discutir se continua ou não acreditando em religião. "Não quero ser rotulado", afirma. "Por um lado ou pelo outro".
Fonte: Terra notícias