Violência sem limites: Latrocínio, estupro e roubo de carga crescem em São Paulo


30.01.2009 - A ocorrência de crimes de latrocínio (roubo seguido de morte), estupros e roubos de carga no estado de São Paulo cresceu em 2008 em comparação com o ano anterior. Em relação a 2007, os crescimentos foram de 21,4%, 4,16% e 2,45% no número total por 100 mil habitantes, respectivamente. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (30) pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo e fazem parte da estatística da criminalidade de 2008.

Em números absolutos, foram 267 roubos seguidos de morte, 3.387 estupros e 6.344 roubos de carga no estado em 2008. Embora a secretaria não tenha uma explicação efetiva para o crescimento percentual do latrocínio em relação ao ano anterior, o coronel Daniel Rodrigueiro, subcomandante geral da Polícia Militar, responsabilizou a má fiscalização em todo o trecho de fronteira do país.

“Para você ter uma idéia, na semana passada a Polícia Rodoviária apreendeu na SP-425, km 296, um carregamento de 20 pistolas israelenses com 47 carregadores. De onde vem esse material? Com certeza da tríplice fronteira”, disse.

O delegado geral adjunto da Polícia Civil, Paulo Bicudo, afirmou que a polícia vem percebendo também que a sociedade está mais violenta. “Se percebe que o tipo de arma utilizada é mais forte. Um marginal usando uma arma com maior poder de fogo, mais capacidade de repetição (do tiro) tende a fazer um estrago maior”, afirmou, acrescentando que o crime ocorre, na maior parte das vezes, porque a vítima esboça reação. De acordo com ele, o percentual de esclarecimento desses crimes cresceu 47,2% em 2008 em relação ao ano anterior.

Estupro

Depois do latrocínio, o crime que cresceu de forma mais expressiva no estado foi o estupro, segundo o levantamento. Foram 8,18 crimes a cada grupo de 100 mil habitantes. Para o coronel Rodrigueiro, o crime é de difícil prevenção e prisão porque, em muitas vezes, corre em locais fechados, dentro de residências, por exemplo. “Aconteceu ontem um estupro de um avô contra duas crianças no interior de uma casa. Como a polícia vai prevenir esse tipo de delito?”. Segundo ele, é importante que as pessoas denunciem à polícia caso “elas percebam que na própria casa, uma criança está sendo admoestada”.

Tráfico de drogas

O total de apreensões relacionadas ao tráfico de drogas teve um dos maiores crescimentos percentuais. Em 2008, aumentou 106% em relação a 1999 a 34% no comparativo com 2006. Mas, de acordo com o delegado geral adjunto da Polícia Civil, não é possível saber se esse maior número de apreensões se deve a maior quantidade de drogas circulando pelo estado. “Acredito em uma ação da polícia mais eficiente que acabou resultando em um número maior de apreensões.”

Redução da criminalidade

Ainda de acordo com a pesquisa, todos os outros crimes contabilizados sofreram quedas no comparativo com o ano anterior no número por 100 mil habitantes: furto (-7,46), furto de veículos (-7,52), homicídio culposo (-3.63), homicídio doloso (-10,05), lesão corporal dolosa (-12,5%), lesão corporal culposa (-6,07%), roubo (-0,06%), roubo de veículos (-13,41%), tentativa de homicídio (-11,57) e roubo a banco (-1,05).

A queda mais enfatizada pela secretaria foi a de homicídios dolosos, com intenção de matar. Segundo a polícia, em 2008 foi registrado o menor índice desde 1999, quando a secretaria começou a fazer uma estatística estadual dos crimes. Naquele ano, foram registrados 12.818 homicídios intencionais no estado e, em 2008, foram 4.426. A queda foi de 70% no período. Em relação ao ano de 2007, a queda também foi expressiva, de 10,05%. Foram 10 homicídios por grupo de 100 mil habitantes, menos da metade da média nacional, de 24,5, e considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde da ONU.

Para o subcomandante geral da Polícia Militar, a diminuição nos índices de criminalidade se deve ao trabalho feito em conjunto pelas três polícia existentes no estado - militar, civil e científica – ao longo dos anos. “Esse é um processo lento que vem acontecendo no estado desde 1999. Um trabalho técnico, perseverante, das três policiais que trabalham de forma integrada. Por parte da PM, nós temos aplicado nesse período de 1999 para cá ações de policiamento. Também trabalhamos com a polícia inteligente. Onde está acontecendo crime, o dia, o local e o horário, a gente encaminha policiamento para lá.”

Bicudo creditou a diminuição nos índices aos investimentos em tecnologia. “Esse investimento forte torna a investigação mais científica.”

Fonte: G1

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Lemnrando...

Crianças estão se tornando alvos constantes da violência no Rio de Janeiro

24.05.2007 - Em 10 meses, pelo menos 30 crianças foram baleadas ou mortas. 'Esses atos criminosos não podem cair na banalidade', afirma padre.

Durante uma reunião de lideranças comunitárias, na quarta-feira (23), na favela Vila Cruzeiro, na Penha, bairro tradicional do subúrbio do Rio, uma criança de 6 anos levou os adultos às lágrimas ao reproduzir trechos de uma música que costuma cantarolar quando atravessa o fogo cruzado entre policiais e traficantes: "Lá-rá-rá-rá, não tô sentindo nada, Deus vai me proteger, nenhuma bala vai me pegar". A cantiga inocente em forma de oração feita pelo menino despertou uma preocupação latente nas pessoas: as crianças estão se tornando alvos constantes da violência urbana. De acordo com levantamento feito pelo G1, em 10 meses, pelo menos 30 crianças foram baleadas ou mortas em situações de violência no Rio.

“É preciso dar um basta nisso. Esses atos criminosos não podem cair na banalidade. Cada morte dessa destrói uma família, que vai definhando aos poucos com esse sofrimento”, afirmou o padre Serafim Fernandes, reitor do Santuário de Nossa Senhora da Penha, durante o encontro. “Eu percebo esse sentimento de tristeza nos pais que freqüentam a nossa paróquia. Nós, da Zona Norte, onde acontece o maior número dessas tragédias, vivemos por conta do descaso. Parece que existe o Rio de Janeiro e o Rio do Bueiro, que é aqui”, lamentou.

Ainda durante o evento, no Centro Cultural e Esportivo da Vila Cruzeiro, outras duas crianças emocionaram ao pedir que os tiroteios diários chegassem ao fim. Adriele, de 7 anos, e Wesley, de 10, que estudam na Escola Municipal Juraci Camargo, disseram que “querem voltar a estudar sem ter medo de sair à rua”. Dez escolas estão sem aulas desde que iniciaram os tiroteios na região, no início de maio. Nesse período, o conflito deixou 52 pessoas baleadas e 16 mortos na região.

Vítimas mais de uma vez

Nessa história de tragédia cotidiana, a mãe do menino da canção é uma das vítimas dessa estatística. No dia 6 de maio, Antônia Dalva de Souza, 32 anos, quase foi atingida por um tiro de fuzil quando uma bala atravessou a porta de sua casa. “Pensei que tivesse acertado alguma criança, porque todo mundo começou a gritar”. Felizmente, ninguém se feriu.

Mas, no dia seguinte, Antônia não conseguiu escapar de um outro confronto. Levou um tiro no braço direito quando tentava proteger o filho. “Ainda bem que acertou em mim e não aconteceu nada com ele”. O susto levou Antônia a lembrar de uma outra tragédia na família. Há 10 anos ela perdeu a filha Joyce, de 5 anos, durante um tiroteio na Favela da Chatuba, no mesmo local onde ela ainda mora com os cinco filhos. A menina foi atingida por uma bala perdida enquanto dormia.

O sentimento de perda também corrói o coração da diarista Edna Ezequiel, 31 anos, mãe de Alana, 11 anos, que morreu no dia 5 de março durante uma troca de tiros entre policiais e traficantes no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na Zona Norte. “Vai fazer três meses que minha filha morreu e não fui procurada por nenhuma autoridade. É muito descaso com a gente”, desabafou nesta quinta-feira (24).

A dor de Edna ainda era intensa quando, no mês seguinte, também perdeu o irmão, o office-boy Hélio José da Silva Ezequiel, 25 anos, em um outro tiroteio no morro. Revoltada, decidiu entrar com um processo na Justiça contra o estado. “Essa ameaça às crianças só vai terminar quando a polícia parar de fazer incursões nas favelas nos horários de saída e entrada das escolas. Agora mesmo tive que sair correndo do trabalho para pegar meus filhos no colégio por causa de um tiroteio. As mães estavam apavoradas, correndo com as crianças”, disse.

Sem confiança no Estado

Pais de João Hélio, o menino de 6 anos que foi arrastado por aproximadamente sete quilômetros preso ao cinto de segurança do carro, em fevereiro, Élson Lopes Vieites e Rosa Cristina Fernandes Vieites, ainda não recuperaram a confiança no Estado. “É duro ter a certeza de desproteção total", lamenta Élson. “As crianças estão ainda mais vulneráveis no meio desse bombardeio cotidiano. Esse derramamento de sangue tem que acabar”. Sua mulher, Rosa, acompanha o marido em eventos contra a violência, mas, a maior parte do tempo permanece em estado de depressão.

Situação semelhante vive Michele Pereira, 17 anos, mãe da menina de três anos que foi morta com um tiro acidental no pescoço quando estava no colo de Michele, na tarde do dia 20 de maio, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. De acordo com a polícia, o disparo foi feito por Jeferson da Silva e Silva, de 19 anos. O rapaz se exibia para a mãe da menina, rodando um revólver em um dos dedos quando a arma disparou.

“Não consigo entender essa violência batendo à nossa porta. Não sei o que dizer. Tenho um sentimento de revolta por ter perdido minha filha. Espero a Justiça

Fonte G1
 


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