14.01.2009 - Intervenção no Congresso Mundial das Famílias
CIDADE DO MÉXICO.- O Pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, assegurou nesta quarta-feira que os próprios cristãos «precisam redescobrir o ideal bíblico do matrimônio e da família», para poder propô-lo ao mundo de hoje.
Na conferência inaugural do Congresso Teológico Pastoral, o Pe. Cantalamessa indicou que não se deve apenas «defender» a idéia cristã de matrimônio e família, mas o mais importante é «a tarefa de redescobri-lo e vivê-lo em plenitude por parte dos cristãos, de maneira que se volte a propô-lo ao mundo com os fatos, mais que com as palavras».
O sacerdote dedicou sua intervenção, no primeiro dia do Congresso Teológico Pastoral do VI Encontro Mundial da Família, a explicar que durante séculos, o próprio pensamento cristão deixou em segundo plano, frente à visão institucional, o significado esponsal do matrimônio, presente com força na Bíblia.
No fundo das atuais propostas «inaceitáveis» de «desconstrução relativista» da família tradicional, há uma «instância positiva» que é preciso acolher, e é a revisão da visão do matrimônio como união e doação entre os cônjuges.
«Mas esta crítica se orienta no sentido originário da Bíblia, não contra ela», advertiu o sacerdote capuchinho. «O Concílio Vaticano II recebeu esta instância quando reconheceu como bem igualmente primário do matrimônio o amor mútuo e a ajuda entre os cônjuges».
«Inclusive casais crentes tampouco chegam a reencontrar – às vezes mais que os outros – essa riqueza de significado inicial da união sexual por causa da idéia de concupscência e de pecado original associada a tal ato durante séculos.»
É necessário redescobrir a união sexual como imagem do amor de Deus, explicou o Pe. Cantalamessa.
«Duas pessoas que se amam – e o caso do homem e da mulher no matrimônio é o mais forte – reproduzem algo do que ocorre na Trindade – explicou. Nesta luz se descobre o sentido profundo da mensagem dos profetas acerca do matrimônio humano, que portanto é símbolo e reflexo de outro amor, o de Deus por seu povo.»
Isso supõe «revelar o verdadeiro rosto e o objetivo último da criação do homem e da mulher: o de sair do próprio isolamento e ‘egoísmo’, abrir-se ao outro e, através do êxtase temporal da união carnal, elevar-se ao desejo do amor e da alegria sem fim».
O pregador pontifício assinalou, neste sentido, a acolhida «insolitamente positiva» que teve em todo o mundo a encíclica «Deus caritas est», que insiste nesta visão do amor humano como reflexo do amor de Deus.
Outra questão, acrescentou, «é a igual dignidade da mulher no matrimônio. Como vimos, está no próprio coração do projeto originário de Deus e do pensamento de Cristo, mas quase sempre foi desatendida».
Não rebater, mas propor
O Pe. Cantalamessa explicou que diante da atual situação de «rejeição aparentemente global do projeto bíblico sobre sexualidade, matrimônio e família», é necessário «evitar o erro de passar todo o tempo rebatendo as teorias contrárias».
A estratégia não é «combater ao mundo», mas «dialogar com ele, tirando proveito até das críticas de quem a combate», afirmou.
Outro erro que se deve evitar é «dirigir tudo para leis do Estado para defender os valores cristãos».
«Os primeiros cristãos mudaram as leis do Estado com seus costumes; não podemos esperar hoje mudar os costumes com as leis do Estado», admitiu.
Com relação à atual «deconstrução da família», ou «gender revolution», o sacerdote explicou que tem uma certa analogia com o marxismo, e recordou que frente a este, a reação da Igreja foi «aplicar o antigo método paulino de examinar tudo e ficar com o que é bom», desenvolvendo «uma doutrina social própria».
«Precisamente a escolha do diálogo e da auto-crítica nos dá direito a denunciar os projetos desencaixados do gender revolution como inumano, ou seja, contrários não só à vontade de Deus, mas também ao bem da humanidade», acrescentou.
«Nossa única esperança é que o senso comum das pessoas, unido ao ‘desejo’ do outro sexo, à necessidade de maternidade e de paternidade que Deus inscreveu na natureza humana, resistam a estes intentos de substituir Deus, ditados mais por atrasados sentimentos de culpa do homem que por um genuíno respeito e amor pela mulher», concluiu o Pe. Cantalamessa.
Fonte: www.zenit.org