17.11.2008 - Um dos conflitos mais sangrentos do planeta
CIDADE DO VATICANO - O porta-voz da Santa Sé denunciou «o massacre dos pobres» que acontece em Kivu Norte, República Democrática do Congo, perante a indiferença de boa parte da opinião pública.
O Pe. Federico Lombardi S.J., diretor da Sala de Informação da Santa Sé, dedicou a um dos conflitos mais sangrentos da atualidade o editorial do último número do jornal Octava Dies, produzido pelo Centro Televisivo Vaticano, do qual também é diretor.
«As notícias que continuam chegando da região de Kivu Norte nos enchem cada dia de angústia», reconhece o porta-voz vaticano, recordando que em 9 de novembro o Papa já havia denunciado «destruições, saques e violência de todo tipo» contra civis inocentes.
Desde o final de agosto, os combates provocaram uma situação humanitária catastrófica com mais de 250 mil pessoas desabrigadas, a maioria sem poder ser assistidas pelas organizações humanitárias por causa da insegurança.
Os combates acontecem entre o exército da República e o insurgente Laurent Nkunda, antigo general que lançou um movimento rebelde que, segundo ele diz, busca proteger os tutsis das milícias hutus que fugiram para o Congo após o genocídio de Ruanda de 1994, que deixou mais de 500 mil mortos, em sua maioria tutsis.
Seus críticos asseguram que, na realidade, Nkunda busca controlar o poder na região e as riquezas minerais.
Em um informe divulgado no princípio deste ano em Kinshasa, a organização humanitária «International Rescue Committee» assinala que os conflitos e as crises humanitárias que a República Democrática do Congo sofreu desde 1998 deixaram já um saldo de 5,4 milhões de mortos e continuam causando uma média de 45 mil vítimas mortais cada mês.
«E como sempre, nos conflitos contemporâneos a maior parte das vítimas são civis inocentes, atropelados por interesses inconfessáveis, ódios antigos e paixões perversas», afirma o Pe. Lombardi.
«O Mal – acrescenta –, o grande inimigo que se encarniça contra as criaturas de Deus, funde a razão em uma escuridão impenetrável, leva a suas extremas conseqüências o desprezo pela vida e parece impor-se. São lentas e tímidas as reações perante este massacre dos pobres».
«Antes de tudo isto, os crentes têm de armar-se de um amor a toda prova, capaz de resistir à violência seguindo o exemplo do Senhor».
«Mas para reconstruir a paz é necessário voltar ao respeito da dignidade de toda vida humana, é necessário comprometer-se verdadeiramente muito mais pela educação e o desenvolvimento e construir um contexto internacional que impeça de alimentar os conflitos e faça construir a paz. Do contrário, a África continuará morrendo», conclui Pe. Lombardi.
Fonte: www.zenit.org
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Lembrando...
Crianças ainda vão à guerra em pelo menos 13 países do mundo
05.02.2007 - Crianças ainda estão sendo recrutadas para atuar como soldados-mirins em pelo menos 13 países do mundo, do Afeganistão a Uganda, dez anos depois de um acordo internacional para eliminar a prática, disse na segunda-feira a instituição Save the Children.
A entidade disse que centenas de milhares de soldados-mirins estão sendo obrigados a lutar no mundo todo, apesar das diretrizes estabelecidas pelos Princípios da Cidade do Cabo, em 1997, que determinaram a idade mínima de 18 anos para o recrutamento.
"A situação ainda é terrível. Centenas de milhares de crianças ainda vivem na miséria devido à associação a grupos e forças armadas", disse a Save the Children num comunicado. "Os soldados-mirins são sujeitos a uma intimidação brutal, muitas vezes forçados a cometer atrocidades como 'treinamento' militar, e depois são usados na linha de frente", afirmou a instituição.
Muitas das crianças que são obrigadas a lutar estão na África, sob o controle de grupos rebeldes como o Exército da Resistência do Senhor (LRA), em Uganda - notório pela captura de milhares de crianças - ou de milícias como as que estão espalhando o terror no leste do Congo.
As crianças são muitas vezes raptadas de suas casas e começam a carreira com trabalhos forçados, realizando saques. Depois, são obrigadas a matar. "Se você não matar, eles matam você. Foi o primeiro assassinato que vi. Aquilo me fez ficar quieto e obedecer às ordens", disse um ex-soldado-mirim, Abubakar, que foi obrigado por rebeldes a lutar na guerra civil de Serra Leoa (1991-2002).
Abubakar contou à Reuters que matou pela primeira vez aos 13 anos de idade, com um fuzil AK-47. Ele não quis ter seu sobrenome publicado.
A Save the Children disse que crianças estão sendo recrutadas para lutar no Afeganistão, no Burundi, no Chade, na Colômbia, na República Democrática do Congo, na Costa do Marfim, em Mianmar, no Nepal, nas Filipinas, no Sri Lanka, na Somália, no Sudão e em Uganda.
O Unicef, agência da ONU para a infância, disse em 2003 que cerca de 8.000 soldados-mirins do Afeganistão haviam sido informalmente desmobilizados, mas não totalmente reintegrados à sociedade.
Os Princípios da Cidade do Cabo foram estabelecidos em um simpósio na África do Sul organizado pelo Unicef. Representantes de quase 60 países reuniram-se na França na segunda-feira para atualizar esses princípios nos chamados Compromissos de Paris, que visa a aumentar o empenho para impedir o uso de crianças em guerra e para reintegrar os soldados-mirins.
No sul do Sudão, forças do governo estão recrutando crianças de 8 anos, e há mais de 8.000 soldados-mirins em grupos rebeldes na África Ocidental.
Embora muitas das guerras africanas conhecidas pelo uso de soldados-mirins tenham acabado - como as de Serra Leoa e da Libéria - as crianças libertadas são muitas vezes rejeitadas pela sociedade. "Quero voltar à vida civil porque estou ficando velho. Mas estou acostumado com esta vida de soldado. Não há mais nada para fazer", disse Abubakar, já perto dos 30 anos. "Dizem que uma vez soldado, sempre soldado."
Fonte: Terra notícias