Padres casados querem voltar à Igreja, sem abrir mão da família


17.11.2008 - A Igreja Católica tem no Brasil aproximadamente 18 mil padres, mas o número já foi maior. Estima-se que pelo menos sete mil padres deixaram o altar para assumir o casamento.

Nos últimos anos, muitos resolveram assumir o relacionamento que mantinham secretamente, se casaram e por isso foram obrigados a abandonar a batina.

Expulsos da igreja, hoje 2 mil fazem parte do movimento nacional dos padres casados. Muitos deles hoje querem ser aceitos de volta na Igreja Católica, sem abrir mão da família.

"Eu não vou dependurar a batina não. Eu vou continuar trabalhando humildemente", afirmou o padre Osiel, 62 anos, casado, cinco filhas, cuja principal bandeira é o celibato opcional. Esta semana ele foi afastado oficialmente das atividades religiosas pelo arcebispo de Goiânia.

"Ele não pode exercer o ministério. Mas ele será padre para sempre", diz o arcebispo de Goiânia, d. Washington Cruz, sobre o episódio.

História

O conflito com o celibato na Igreja Católica é um dos grandes desafios do sacerdócio. Perturba os padres há séculos e é um problema para o Vaticano. Mas nem sempre foi assim. O celibato só se tornou obrigatório no século 16.

"Penso eu que a igreja não tende a modificar isso, tanto é que o Código do Direito Canônico foi promulgado em 1983 e continua com esta prescrição: o celibato para o sacerdote", diz D. Ancelmo Chagas de Paiva, doutor em direito canônico.

"O celibato não tem nada a ver com o dogma. É uma opção política e jurídica da igreja. O Papa pode, quando quiser, se quiser, dizer: acabou o celibato", diz o coordenador do movimento dos padres casados, padre João Tavares.

Com duas filhas e uma neta, o padre português João Tavares, que chegou ao Maranhão 40 anos atrás, largou a batina em 1979 para se casar. Nos últimos anos organiza reuniões com outros padres casados.

Na periferia de São Luís, no Maranhão, o padre Caetano, celibatário por 18 anos e casado há quatro, ingressou na igreja vétero católica, uma dissidência da igreja romana, para poder continuar celebrando ritos religiosos. No lugar, nós encontramos um grupo de padres casados.

"Eu passei a sentir necessidade, vontade de constituir uma família, então, para não haver escândalo, problema, escandalizar, eu disse: prefiro sair", conta o padre Ronaldo Farias.

"Eu tenho um processo no Tribunal Rota-Romano, eu poderia tranquilamente voltar para exercer minhas funções como padre casado", diz o padre José Caetano Souza
"O celibato é uma questão disciplinar dentro da igreja. E como tal, essa questão pode ser mudada. Eu não diria em que momento vai ser mudada. Acho que é imprevisível", afirma o arcebispo de São Luís do Maranhão, Dom José Belisário.

Para chegar a uma cerimônia de ordenação, um seminarista precisa se dedicar muito. Quando termina o equivalente ao Ensino Médio, ainda precisa estudar filosofia e teologia, e aí, sim, está pronto para se tornar um padre da Igreja Católica Apostólica Romana. E é nesse momento que ele faz os votos mais cruciais da sua vida: pobreza, obediência e castidade.

Fonte: G1

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Lembrando...

Sobre o Celibato dos Padres

25.09.2006 - Muito se tem discutido sobre este assunto e parece que não são os padres os mais empenhados nessa discussão, mas outras pessoas empenhadas em dar destaque ao tema.
O Cardeal Basil Hume, primaz católico de Inglaterra, a 17 de Setembro de 2005, declarou aos microfones da BBC, que a lei do celibato não é divina, mas eclesiástica e portanto passível de ser mudada. Acrescentou algo, de muito controverso: que as vocações aumentariam, se bem que a Igreja está a perder pessoas muito válidas porque não querem ser sacerdotes celibatários. Acrescentou também que o celibato conserva o seu valor na sociedade actual “obcecada pelo sexo”: “É bom haver gente que possa dar testemunho do amor sem sexo”.

Estas palavras foram interpretadas, pela imprensa, como uma proposta que o Cardeal fazia para rever a lei do celibato. Logo a seguir o próprio Cardeal no Daily Telegraph, declarou: “Não proponho mudar a lei. Creio que o celibato é a solução adequada para a Igreja. (...) É um valor que devemos preservar”.

Muitos acenam com o que se passa nas igrejas protestantes, onde os pastores não assumem o celibato. Será que isso resolve tudo?

O então Cardeal Ratzinger (hoje Papa Bento XVI) no seu livro O Sal da Terra, afirma a dado passo: (...) “Quanto mais pobre é uma época no que respeita à fé, mais frequentes se tornam as quedas. Desse modo, o celibato perde credibilidade, e o que significa realmente não se manifesta. Mas é preciso perceber que épocas de crise do celibato são também épocas de crise do casamento. Porque hoje não observamos apenas rupturas do celibato, o próprio casamento torna-se cada vez mais frágil como fundamento da nossa sociedade. Para o celibato a escolha tem de ser livre. Antes da ordenação, até tem de se fazer uma promessa solene, confirmando que é o que se quer e que se faz livremente. Por isso, não me agrada muito que depois se diga que se tratou de um celibato obrigatório, e que foi imposto. Isso contradiz a palavra dada no início. (...) Para dizer de uma forma linear: depois da abolição do celibato só teríamos outro tipo de problemática com os padres divorciados”.

O Cardeal Hume referiu que é difícil o celibato, “mas seria ingênuo crer que a vida matrimonial é mais fácil. Atualmente 40 % dos matrimônios desfazem-se - uma proporção muito mais elevada que a do abandono do sacerdócio”.

Mas para avaliar as vantagens de suprimir a lei do celibato, ninguém melhor do que uma pessoa que conhece pessoalmente o assunto - Pamela Nightingale, casada com um sacerdote católico que antes fora ministro anglicano. Também ela hoje é católica.

“33 anos de vida matrimonial fizeram-me compreender bem o heroísmo que pedimos aos nossos sacerdotes para que vivam, geralmente, sós, sem ninguém com quem compartilhar intimamente as necessidades físicas, mentais e espirituais; (...) também é fácil esquecer a lealdade e a dedicação de tempo que o matrimônio exige a um homem. Qualquer pai ou mãe sabe os cuidados e as preocupações que os filhos dão, o esforço econômico que exige a sua educação. (...) Como poderia um bispo católico atender as numerosas paróquias da sua diocese, se os sacerdotes tivessem de colocar em primeiro lugar as necessidades das suas famílias? (...) O celibato sacerdotal é uma jóia da Igreja católica que só se tem posto em causa desde que começamos a ficar obcecados com a realização sexual, em vez de pensar na outra forma de realização que oferece o sacerdócio. Olhemos para o Papa João Paulo II e nele vemos uma pessoa totalmente íntegra na qual os dons intelectuais e os dotes físicos se combinam com uma profunda piedade e simpatia”.

A tudo o que foi escrito queria contrapor algo dito por Pamela Nightingale, acerca da falta de disponibilidade dos padres casados, com palavras do então Cardeal Ratzinger: “(...) Não se trata simplesmente de poupar tempo, porque, como não sou pai de família, até disponho de um pouco mais de tempo; isto seria demasiado primitivo e ingénuo. Trata-se, realmente, de uma existência que aposta inteiramente em Deus e que omite aquilo que normalmente torna uma existência humana adulta e auspiciosa”.

E para terminar cito uma frase que ouvi de um sacerdote católico, acerca deste assunto, e dita de uma forma jocosa: “Por que será que tanta gente quer que nós (os padres) tenhamos sogra?”.

Fonte: Universo Católico
 


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