16.11.2008 - Entrevista a Dom Lawrence Saldanha, arcebispo de Lahore
Ameaças, torturas e terror: os extremistas muçulmanos exercem uma forte pressão sobre a minoria cristã no Paquistão, mas, apesar disso, a maior parte dos crentes em Cristo permanece solidamente ancorada em sua fé.
Alguns deles, contudo, se vêem obrigados a passar ao Islã, denuncia nesta entrevista concedida à Zenit o arcebispo de Lahore e presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, Dom Lawrence Saldanha.
A entrevista aconteceu em Berlim, depois de que o prelado apresentasse o novo «Informe sobre a Liberdade Religiosa no Mundo», redigido pela associação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
– Em uma carta enviada em setembro, o senhor lançou um chamado ao neo-presidente do Paquistão para que defenda os direitos das minorias. Que resposta obteve?
– Dom Lawrence Saldanha: Ele não disse nada. Recebeu minha carta, que espero tenha surtido algum efeito, mas não se pronunciou abertamente sobre a questão. Creio que, de qualquer forma, já é um fato positivo que a tenha aceitado.
– O problema da discriminação no Paquistão é ainda tão evidente como no passado?
– Dom Lawrence Saldanha: Sim, é, porque hoje a causa são os extremistas muçulmanos, os fundamentalistas islâmicos, que querem impor suas idéias sobre o Islã.
Sustentam concepções muito rígidas e pretendem sobretudo que se introduza o direito islâmico. Por exemplo, queriam que as mulheres usassem véu e que os homens deixassem a barba crescer. Se dependesse deles, a música seria abolida, assim como o cinema e a televisão.
Mas quem paga por este extremismo não são só os cristãos, e sim também os outros muçulmanos.
– Em 2007, houve várias tentativas de aprovar leis que proibissem a mudança de religião. Qual é a situação atual?
– Dom Lawrence Saldanha: Não foram introduzidas ainda, mas sempre poderia acontecer. Deste modo, todos – inclusive os próprios muçulmanos – teriam muitas dificuldades para mudar a própria religião.
Hoje acontece cada vez mais freqüentemente que os extremistas pressionam os cristãos para passar ao Islã. Isso é para nós um problema sério. Estão fazendo de tudo para converter ao Islã os cristãos e os hindus. Há moças que foram obrigadas a casar-se com muçulmanos e a mudar de religião. Uma coisa semelhante aconteceu com enfermeiras que prestavam serviço hospitalar. É um fenômeno mais estendido e que viola a liberdade religiosa. Por esta razão, cada vez com mais freqüência estamos obrigados a chamar a atenção sobre estes fatos.
– Como os cristãos enfrentam estes enormes desafios?
– Dom Lawrence Saldanha: Muitos não prestam atenção ao que se lhes diz, outros dizem que se trata de brincadeiras, enquanto outros têm medo. E algumas vezes são obrigados a passar para o Islã. Por exemplo, conheço em Lahore o proprietário de uma loja, que ganha bastante, e que no final foi obrigado por outros comerciantes a tornar-se muçulmano para que o deixassem em paz. Se não, teria de fechar a loja.
Como você pode ver, o problema de ser uma minoria está sobretudo no fato de que somos tratados em nossa terra como forasteiros, ainda sendo paquistaneses. Somos marginalizados em nossa própria sociedade e por isso às vezes nos vemos tendo de enfrentar grandes desafios.
– Há sinais de esperança para os cristãos no Paquistão?
– Dom Lawrence Saldanha: Agora temos um novo governo e nossa esperança é que se atenha ao programa sobre a liberdade religiosa. Outro sinal cheio de esperança é que a polícia cada vez com mais freqüência protege os cristãos em perigo.
O governo não está contra os cristãos. Há apenas um grupinho de extremistas que quer impor suas idéias. As pessoas têm medo deles porque recorrem à tortura, às ameaças, chegando inclusive a matar. Matam todos aqueles que não lhes agradam. Eles recorrem inclusive aos atentados suicidas com bombas para alimentar o medo e amedrontar as pessoas.
– O que espera desta visita à Europa?
– Dom Lawrence Saldanha: Esperamos que nossos amigos no Ocidente compreendam as dificuldades que temos de enfrentar. Somos uma escassa minoria e por isso nossa situação freqüentemente não é conhecida. Mediante o Informe sobre a Liberdade Religiosa no Mundo e a coletiva de imprensa, muitos conhecerão nossa situação e poderão nos apoiar.
Por outro lado, teremos problemas quando os extremistas souberem deste evento. Eles se vingarão. Já assassinaram muitos jornalistas. Cada ano há jornalistas que sofrem ameaças, e às vezes alguns deles morrem porque escrevem sobre suas atividades. Vivem em uma constante situação de temor: este é o problema do nosso país. Inclusive as emissoras de televisão recebem ameaças de atentados bomba.
– O que poderemos aprender dos cristãos de sua terra, que vivem em uma situação tão difícil?
– Dom Lawrence Saldanha: Eles possuem uma fé forte, são muito sólidos na fé em Cristo e põem sua esperança n’Ele. Confiam em que nosso Senhor Jesus Cristo os ajudará.
Agora vivem sua fé de maneira muito ativa, nutrem uma forte devoção, estão muito comprometidos e voltaram a vir à Igreja. Todos estes fatos, dos quais falamos, uniram os cristãos.
Oram e esperam que as coisas melhorem algum dia. Esta é uma lição que podemos aprender com eles: o fato de que continuam sendo fiéis ao seu credo.
Fonte: www.zenit.org