10.11.2008 - Na Espanha, pesquisadores questionam se o cálice foi usado por Cristo. O fato dele ser decorado com ouro e pedras preciosas gera a dúvida.
Um congresso internacional em Valência, na Espanha, reúne os maiores especialistas do mundo sobre o cálice sagrado a partir desta sexta-feira (7). A relíquia, venerada por todos os papas, está na Espanha desde o ano 258. Guardado em uma capela especial na Catedral de Valência, o cálice de 17 cm de altura virou tema de debates e enigmas.
Apesar do respaldo do Vaticano, muitos especialistas questionam se o cálice é o mesmo usado por Cristo, principalmente, porque está decorado com ouro e pedras preciosas.
“É compreensível essa desconfiança. A todos nós vêm à mente as cenas pobres com os discípulos sentados no chão e Jesus com um humilde cálice de barro. Mas não foi assim”, diz o professor de história de Universidade de Valência e historiador da catedral Valênciana, Vicente Martínez.
“O filho do carpinteiro escrevia em hebreu, era chamado de rabi — mestre em hebraico — e esteve com famílias com posses como a de Lázaro. É só consultar o evangelho”, afirmou.
‘Parte sagrada’
A relíquia sagrada em si seria apenas a parte superior do cálice. Uma copa alexandrina de ágata que os arqueólogos consideram de origem oriental criada entre os anos 50 e 100 antes de Cristo. As asas e a base de ouro com pedras preciosas são do século XVI.
O catedrático Valênciano diz que pode haver dúvidas de que seja o mesmo usado na última ceia, mas afirma que existem cada vez mais informações que confirmam o fato.
“A tradição israelita que ainda permanece é a de manter um cálice especial de benção para as ceias de Páscoa. Os Evangelhos dizem que Jesus celebrou os ritos de Páscoa em uma sala decorada e com pompas”.
“Os apóstolos puderam conservar o cálice da primeira eucaristia. E se esse permaneceu intacto todo esse tempo pode ser porque o sagrado mistério o protege”, disse Martínez.
Aniversário
A data do I Congresso Internacional do Santo Cálice coincide com o 1750º aniversário da chegada da relíquia à Espanha.
O cálice teria sido enviado de Roma pelo mártir São Lourenço para que ficasse protegido, já que o santo sofria uma perseguição, na época, que o levaria à morte.
Dos mais de 150 especialistas que participam do congresso, alguns, como a investigadora americana e professora da Universidade de Colorado Janice Bennet, já têm teorias próprias.
Ela lançou o livro “São Lourenço e o Santo Graal” em que relata como o santo teria cuidado do cálice e o mandado à Espanha.
Outros, como o antropólogo e historiador alemão Michael Hessemann, relacionam o cálice com lendas medievais, o que daria origem aos enigmas do Santo Graal.
O catedrático de arqueologia da Universidade de Zaragoza Antonio Beltrán, por sua vez, dará uma visão científica, apresentando um informe sobre as últimas técnicas de investigação que podem dar mais pistas sobre a origem do cálice.
O congresso contará ainda com especialistas israelenses que discutirão a criação e o trajeto da relíquia desde a Palestina, no século I a.C., passando por Roma — o cálice teria sido usado também por São Pedro –, a custódia de São Lourenço e a etapa espanhola, onde teria passado por perseguições de muçulmanos e guardado por reis e religiosos até chegar à Valência em 1424.
As conclusões serão apresentadas no domingo na Universidade Católica de Valência.
Fonte: G1