02.11.2008 - O presidente de Cuba, Raúl Castro, fará em dezembro, ao Brasil, sua primeira viagem internacional desde que assumiu a chefia do governo em julho de 2006. Ele aceitou o convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para participar da primeira reunião em que só estarão presentes países da América Latina e Caribe. Na quinta e na sexta-feira, durante os dois dias de visita de Lula a Cuba, Raúl Castro sempre acompanhou o presidente brasileiro. E, com seu jeito de irritadiço que às vezes é engraçado, protagonizou momentos divertidos.
Quando caminhava com Lula perto de um quartel feito por Che Guevara e se dirigiam para ver a parte velha de Havana, Castro perdeu a paciência com os jornalistas, que dificultavam a passagem. “Ô povo indisciplinado”, afirmou, e jogou a mão para o ar. Acabou atingindo o olho direito de Lula. Ao perceber, Castro passou a mão na cabeça do brasileiro, enquanto Lula apertava o olho. Antes, ao ver o batalhão de repórteres e fotógrafos, Castro reivindicou: “Quero liberdade de locomoção”.
Na sexta-feira, durante solenidade em que a Petrobrás assinou convênio com a Cuba Petróleo para fazer prospecção no mar, Raúl Castro esqueceu-se de seu passado de ateu. “Somos um dos três países do Golfo do México. Estados Unidos têm petróleo, México tem petróleo. Não é possível que Deus seja tão injusto que só não dê petróleo a Cuba”, disse.
Na quinta-feira, no Palácio das Convenções, onde funciona o Congresso, Castro sugeriu ao brasileiro que, com ele, fizesse “cara” de parlamentar da União Européia, para que os fotógrafos registrassem a cena. Quando um fotógrafo pediu que os dois repetissem o gesto de aperto de mão, Raúl Castro tornou a resmungar: “Depois dizem que somos a ditadura do proletariado. Vivemos a ditadura do protocolo”.
Ao se despedir de Lula, no aeroporto de Havana, Castro comentou que o Brasil é gigantesco, com 192 milhões de habitantes. E previu que o crescimento demográfico vai zerar logo, porque, segundo ele, “as mulheres não querem mais trabalhar, no sentido da maternidade”. Lula emendou: “As brasileiras trabalham”.
O presidente Lula também teve momentos divertidos. Disse que, por causa do encontro com Fidel Castro, perdeu o almoço. “Queria almoçar no Bodeguita Del Medio (famoso restaurante de Havana Velha, freqüentado pelo escritor Ernest Hemingway), mas perdi. E minha assessoria, que só se importa comigo quando estou por perto, não se lembrou nem de trazer uma quentinha pra eu comer no avião.” (Fonte: Estadão)
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Lembrando...
Igreja lança ofensiva contra valores ateus
26.12.2007 - O Brasil aparece em 82º lugar entre os cem países que contam com a maior proporção de ateus em sua população, segundo levantamento do WCD (World Christian Database), base de dados elaborada pelo Seminário de Teologia Gordon-Conwell, dos EUA.
Pesquisa Datafolha feita em março deste ano mostra que 97% dos brasileiros dizem acreditar em Deus.
Ambos os números parecem favoráveis aos religiosos, ainda mais porque o mesmo WCD descobriu que a proporção de pessoas que seguem alguma das quatro grandes religiões monoteístas -cristianismo, islamismo, budismo e hinduísmo- cresceu de 67% em 1900 para 73% em 2005.
Mas, nesse caso, os números, escondem tanto quanto revelam. As pessoas se dizem religiosas, o que não significa obediência às doutrinas pregadas.
Tanto que está em curso uma ofensiva da Igreja Católica e de outras religiões contra a influência dos "valores ateus", especialmente os que se materializam em políticas de governo como a legalização do aborto e da eutanásia, e propagados por best-sellers como "Deus, um Delírio" (Cia. das Letras), do biólogo Richard Dawkins, publicado pela Companhia das Letras, e "Deus Não É Grande -como a religião envenena tudo" (Ediouro), do jornalista Christopher Hitchens.
No final do mês passado, o papa Bento 16 lançou sua nova encíclica, "Salvos pela esperança", e afirmou que o "céu não está vazio".
Disse que os projetos de emancipação do homem que apostaram na busca da felicidade sem Deus fracassaram: trocaram um sistema político pelo outro, até que o homem se esvaziou e perdeu o sentido.
No Brasil, o maior país católico do mundo, a Campanha da Fraternidade do próximo ano trará ao país uma agenda bastante comum na Europa, continente onde é normal não ter religião alguma: a defesa da vida, expressão usada no Velho Mundo pelos crentes para se contrapor aos ateus.
Durante todo o período da Quaresma, que vai da Quarta-feira de Cinzas à Páscoa, os católicos brasileiros debaterão esses assuntos em suas paróquias.
Já há algumas organizações que preparam um abaixo-assinado contra a legalização do aborto a ser passado nas igrejas no período.
Na Europa, isso já é comum. Em maio, organizações católicas promoveram o "Dia da Família", que reuniu mais de um milhão de pessoas no centro de Roma contra a união civil de pessoas do mesmo sexo.
Não à toa, o Uruguai, o país mais proporcionalmente ateu da América do Sul, é o único da região que abre esse direito aos homossexuais.
No Brasil, 65% das pessoas são contra a legalização do aborto, segundo o Datafolha. Mas 71% dos entrevistados são favoráveis ao divórcio, 94% aprovam a camisinha e 42% são simpáticos à união civil entre pessoas do mesmo sexo.
Ateísmo militante
Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, já manifestou diversas vezes preocupação com o "ateísmo militante".
Para ele, é preciso dizer que as pessoas precisam ter fé porque "ninguém neste mundo tem a explicação suficiente para as realidades que nos cercam. A religião é uma forma de se relacionar com Deus e de dar sentido à vida".
"Deus, um Delírio", a obra de Dawkins, vendeu 35 mil exemplares no Brasil desde agosto e está entre as cinco maiores sucessos da editora. "Deus Não É Grande", livro de Hitchens está esgotado e já vai para a segunda tiragem. A primeira teve 10 mil cópias.
Para d. Odilo, a explicação para esse fato é simples. "O assunto "Deus" é vital para as pessoas e continua a despertar interesse", afirma o cardeal.
"O sucesso especial de escritos contra Deus e a religião não significa que as pessoas concordem com o que lêem, pode indicar o desejo de verificar se o autor traz algo novo nessa matéria, ou até mesmo o desejo de rebater afirmações do autor. Os atuais escritos nada trazem de novo e reciclam velhos chavões, preconceitos e generalizações", conclui.
Fonte: Folha de S. Paulo