29.10.2008 - Mary Ann Glendon, Embaixatriz dos Estados Unidos ante a Santa Sé, advertiu em um recente artigo publicado em L'Osservatore Romano (LOR) como o laicismo fundamentalista que não admite a fé na vida pública ameaça a seu país, e como isto termina sendo um atentado contra a chamada "laicidade positiva" e a liberdade das pessoas.
No artigo, a Embaixatriz faz uma recontagem histórica de como nos Estados Unidos se viveu a partir do século XIX a relação entre Igreja e Estado; e lembra a recente visita do Papa Bento XVI a seu país; em que o Pontífice advertia e recalcava a necessidade de fortalecer esta relação; e alentava aos católicos que são minoria no país– a não guardar sua fé no âmbito privado senão fazê-la parte de sua contribuição no debate público, como uma maneira explícita de ajudar a viver e forjar a liberdade.
Seguidamente lembra como uma decisão da Corte Suprema em 1962 proibiu que nas escolas se iniciasse as aulas com uma oração, um costume estendido por todo o país. "Esta decisão foi um shock para muitos protestantes tradicionalistas. Perceberam, pela primeira vez, que estavam enfrentando-se a uma forma de laicidade muito diversa a que conheciam de sempre: uma laicidade que queria eliminar todo vestígio de religiosidade das instituições públicas nos Estados Unidos", explica.
A Embaixatriz comenta logo que "a legitimidade de toda forma de cooperação entre as Igrejas e o Estado fica atualmente em dúvida. Então os hospitais, as escolas, e distintos serviços sociais que estão filiados às instituições religiosas se encontram ante o dever de confrontar eleições difíceis"; e põe como exemplo o caso das Catholic Charities em Massachusetts, que em 2006 tiveram que "abandonar seus esforços na adoção logo que o Estado ordenasse permitir a adoção também a pessoas homossexuais".
"As pressões sobre as organizações para que sacrifiquem seus próprios princípios são evidentemente fortes", adverte.
Em opinião da diplomática "a melhor descrição da situação jurídica atual é provavelmente a do professor Philip Hamburger (autor de um livro magistral sobre a história da liberdade religiosa nos Estados Unidos): 'A primeira emenda (da Constituição dos Estados Unidos), originalmente pensada para limitar ao governo, foi cada vez mais interpretada pela Corte para limitar a religião e confiná-la à esfera privada'. Esta interpretação –apoiada em um conceito muito individualizante da liberdade– tem como efeito limitar a liberdade religiosa de muitas pessoas: pessoas para as que a comunidade de culto é importante".
Para Glendon, "naturalmente há exceções a estas tendências", mas não é uma "exagero dizer que, na situação atual o 'modelo positivo' de laicidade está lutando por sua vida".
A Embaixatriz dos Estados Unidos ante a Santa Sé precisa que as instituições como as escolas públicas "dependem das famílias e a comunidade circundante" por isso "a preservação da sociedade livre pode depender –paradoxalmente– da proteção de certas instituições que não estão organizadas sobre a base de princípios liberais, quer dizer: as famílias, escolas, Igrejas e todos os outros corpos intermédios da sociedade civil".
Fonte: ACI
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Lembrando...
Arcebispo denuncia que laicismo pretende fazer da Espanha uma sociedade de ateus
29.03.2007 - MADRI - Em sua última carta semanal, o Arcebispo de Valência, Dom Agustín García-Gasco, denunciou que "o laicismo radical que nos encontramos atualmente na Espanha constitui uma utilização do poder do Estado para fundar uma sociedade como se todos os cidadãos fossem ateus, sem aceitar a realidade da liberdade religiosa e suas repercussões na vida social e pública".
Conforme informou a agência AVAN, em sua carta intitulada "Liberdade para crer", o Prelado explica que "na Espanha de hoje se detecta o interesse por estender um modo de vida onde a referência a Deus seja considerada como uma deficiência na maturidade intelectual e no pleno exercício da liberdade".
O Arcebispo de Valência considera "necessária e urgente" a tarefa de "desmascarar o `nacional-laicismo que tratam de impor", pois não deixa de ser "um fundamentalismo que nada tem que ver com a sã laicidade".
Dom García-Gasco assinalou que o laicismo radical "avança com freqüência pela falta de consistência dos próprios fiéis, que às vezes, somos atraídos pela tentação de ocultar nossa fé na vida pública".
Segundo o Prelado "resulta-nos mais fácil deixar de ser cristãos quando se chega ao trabalho, ao entrar na política, ao procurar as diversões com os amigos". Entretanto, "quem nega a Jesus Cristo e oculta sua condição cristã na vida pública, dificilmente pode acreditar que ama a Deus com sinceridade e com toda sua pessoa".
"Acreditar -ou deixar de fazê-lo- é um ato pessoal no que cada um utiliza sua liberdade para aceitar ou rechaçar a iniciativa de Deus sobre sua própria vida", adverte e esclarece que "o ato de fé é uma expressão elevada da dignidade do ser humano e da liberdade de cada pessoa" embora "tampouco tomamos esta decisão de um modo isolado".
O Arcebispo afirma que a Igreja, "que recebeu como missão própria a custódia do dom da fé", sabe que "ali onde se promove o engano, a mentira, a manipulação, a malícia, o ódio, o ressentimento, a chantagem, a coação, a fealdade, o descaramento, a injustiça, a opressão, a exploração ou qualquer tipo de violência se dificulta, até o extremo, que o ser humano possa descobrir sua própria dignidade, seu incomensurável valor e o dom do amor de Deus".
Em sua carta, anima a fomentar "uma reta compreensão da sã laicidade" que encontra "incompatíveis o exercício da coação e o ato de fé". A sã laicidade "protege quem não aceita a Deus, mas ao mesmo tempo reconhece o direito à liberdade religiosa com todas suas conseqüências que inclui o respeito de quem livremente deseja praticar sua religião de forma congruente".
Fonte: ACI