15.10.2008 - A fome não pára de crescer e, hoje, afeta 923 milhões de pessoas nos quatro cantos do planeta, após a alta dos preços dos alimentos, decorrente da subida no valor das matérias-primas e do petróleo e da atual crise financeira, que ameaça agravar esse quadro.
Antes do encarecimento dos produtos alimentícios e dos distúrbios de setembro passado, o número de pessoas que passam fome era de 850 milhões, total que, em menos de dois meses, sofreu um forte aumento de mais 75 milhões, informou a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), na véspera do Dia Mundial da Alimentação.
Apenas na Europa e nos Estados Unidos, as autoridades mobilizaram, nos últimos dias, 3,1 trilhões de dólares para resgatar os bancos em risco de quebra e evitar o colapso do sistema financeiro internacional.
Segundo o jornal francês Le Monde, que cita uma ONG, seriam necessários 30 bilhões de dólares por ano para erradicar a fome no mundo - "ou seja, menos de 5% do Plano Paulson", afirma o jornal, referindo-se ao plano de resgate bancário de 700 bilhões de dólares elaborado pelo secretário do Tesouro americano, Henry Paulson.
A América Latina, por exemplo, já retrocedeu em grande parte do que havia avançado em 15 anos de sua luta contra a fome e conta, agora, com 51 milhões de pessoas nessa situação, de acordo com dados divulgados esta semana pela FAO, em Santiago.
Em setembro, o diretor-geral da FAO, o senegalês Jacques Diouf, já falava de cifras alarmantes e acusava os dirigentes do mundo inteiro de terem ignorado as advertências desse órgão da ONU sobre a crise alimentar, avaliando que faltou vontade política e meios para contê-la.
Segundo a FAO, os investimentos em agricultura caíram de 17% para 3% entre 1980 e 2006, enquanto que a população mundial cresceu, nesse período, em 78,9 milhões. Já os biocombustíveis privaram o mundo de 100 milhões de toneladas de cereais de milho, ou de trigo, destacou a FAO.
"Há anos, insistimos na falta de apoio ao desenvolvimento da agricultura do Sul (...) mas os fundos suplementares, se forem finalmente entregues nesse momento de crise financeira, não serão suficientes", garante a diretora do Comitê Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento da Terra Solidária (CCFD), Catherine Gaudard.
Para Caroline Wilkinson, da Ação contra a Fome, "a urgência hoje em dia é tratar os 55 milhões de crianças desnutridas".
Em agosto passado, o Programa Alimentar Mundial (PAM) havia anunciado que iniciaria um programa de ajuda contra a crise de alimentos, no valor de 142 milhões de euros, em 16 países particularmente afetados pela fome, como Afeganistão, Haiti, Libéria, Moçambique, Etiópia e Somália.
Segundo essa agência da ONU, em 2008, a ajuda alimentar internacional caiu a seu nível mais baixo em 40 anos.
Fonte: Terra notícias
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Lembrando...
Caritas Italiana adverte para o risco de fome Mundial
15.04.2008 - Roma - "Superamos o limiar de alarme e os pobres começam a rebelar-se. É preciso intervir agora, imediatamente, para não desperdiçar todos os resultados obtidos até agora na luta contra a fome no mundo." É o que afirma a Caritas italiana a propósito do alarme lançado pelo Banco Mundial sobre o aumento dos preços dos bens de primeira necessidade nos países do sul do mundo.
"É necessário fazer frente à emergência; do contrário, as revoltas aumentarão", afirma Paolo Beccegato, responsável da área internacional da Caritas italiana. Segundo ele, as pessoas que dependem das ajudas humanitárias correm realmente o risco de morrer de fome, já que os depósitos alimentícios estão diminuindo.
Diante dessa situação, Beccegato considera fundamental disponibilizar ajudas econômicas imediatas e políticas de soberania alimentar e de desenvolvimento a longo e médio prazos.
A respeito, interveio o arcebispo de Cidade da Guatemala e primaz da Igreja guatemalteca, card. Rodolfo Quezada Toruño.
"É preciso que todos os setores da sociedade demonstrem a vontade de mudar a situação para evitar graves conseqüências", disse o cardeal referindo-se ao aumento dos preços alimentícios e dos combustíveis, que também no país mais populoso da America Central estão agravando as condições de pobreza na qual se encontra 60% da população.
"Os preços aumentam, mas os salários permanecem estáveis. Sem uma solução imediata, podemos chegar a uma crise social", advertiu o purpurado em coletiva de imprensa depois da missa dominical.
No domingo à noite, o presidente da Guatemala, Alvaro Colom, anunciou um plano de emergência, afirmando que "a incapacidade dos governos precedentes de prever uma crise semelhante tornou os guatemaltecos vulneráveis".
Colom anunciou a criação de um "fundo de solidariedade", em que o governo invistirá cerca de 122 milhões de euros para o desenvolvimento agrícola e a assistência às famílias mais pobres. (BF)
Fonte: Rádio Vaticano
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Lembrando...
Profecia de catástrofe alimentar ainda pode se realizar
30.12.2007 - Fatos extraordinários estão acontecendo no mercado mundial de alimentos. O preço do trigo, da soja, do milho e de laticínios mais que duplicou nos últimos anos, enquanto a demanda superou a oferta pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. Por quê? A população mundial está crescendo, mas não em um ritmo acelerado. No entanto, milhões de pessoas pobres, especialmente na China, hoje podem comprar carne, e a produção de proteína animal exige muito mais insumos por quilo do que a de vegetais. O cidadão chinês médio come 30% mais carne hoje do que cinco anos atrás. Em segundo lugar, houve uma série de colheitas fracas ao redor do mundo. E terceiro, muitos países ocidentais estão subsidiando os agricultores para trocar o plantio de alimentos por colheitas de energia renovável.
Mais de 200 anos atrás, o demógrafo e economista político britânico Thomas Malthus afirmou que a população superaria a oferta de alimento e que se não houvesse limites rígidos à reprodução humana o mundo rumaria para um desastre. Até agora ele se mostrou totalmente enganado; a população mundial aumentou dez vezes e há menos fome do que em sua época. Mas a população global provavelmente crescerá de 6,5 bilhões para 9 bilhões até 2050, o que exigirá que os agricultores do mundo produzam mais alimento nos próximos 40 anos do que nos últimos 200. As previsões malthusianas estiveram erradas durante 200 anos, mas poderão se mostrar válidas nos próximos 50.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os governos europeus readotaram políticas protecionistas para aumentar a produção interna de alimentos. Mais tarde, a Política Agrícola Comum introduziu barreiras protecionistas e grandes subsídios, encorajando os agricultores europeus a produzir muito mais que o necessário. Nos últimos 20 anos, uma série de medidas foram adotadas para reduzir as cotas de produtividade, e há uma "reserva" compulsória para tirar terra arável da produção. Mesmo assim, a produção tendeu a superar a demanda, deprimindo os preços e reforçando ainda mais os subsídios.
Esse problema foi exacerbado pelo impacto da inovação científica e tecnológica na produtividade agrícola nos últimos 60 anos. A produtividade - por hectare, por vaca leiteira, por porco - triplicou. Os avanços em herbicidas, pesticidas e antibióticos conseguiram controlar a maioria das doenças animais e vegetais e também os predadores. Novas técnicas notáveis por meio de hibridação melhoraram a produtividade de plantas e animais. Aplicações químicas encurtaram e enrijeceram o caule das plantas, permitindo que elas absorvam mais fertilizante e suportem climas inclementes.
A revolução tecnológica foi ainda mais dramática. Depois da guerra, o cavalo ainda era a principal fonte de energia agrícola na Europa. Hoje, são o trator e a colheitadeira mista.
Esses avanços transformaram a produtividade agrícola. Máquinas de alta velocidade resultam em colheitas mais curtas e rápidas, com menos alimento perdido para a intempérie. Uma área maior de terra é usada em agricultura. Ao mesmo tempo, há necessidade de menos pessoas para lidar com esses enormes aumentos de produção. Sessenta anos atrás, uma fazenda arável de 350 hectares podia empregar 40 pessoas. Hoje meu filho administra uma fazenda desse tamanho com apenas mais uma pessoa.
Em conseqüência disso tudo, apesar de a população mundial ter triplicado durante a minha vida, o mundo está mais bem-alimentado do que nunca. Quando ainda ocorre escassez, como na África, a fome surge por causa de fracassos logísticos e políticos. Há alimento disponível, mas ele está no lugar errado.
A população global continuará crescendo. As economias dos países mais pobres também vão prosperar, o que resultará em pessoas mais bem-alimentadas e comendo carne. A demanda por alimentos aumentará entre 50% e 100%, dependendo da escala da mudança de consumo vegetariano para carnívoro. A mudança climática vai distorcer os padrões do tempo com desvantagem para a maioria dos agricultores, mas aqueles no norte temperado e rico poderão se beneficiar. E, finalmente, muitos governos continuam comprometidos com um grande aumento da energia renovável a partir de vegetais.
Nos últimos 200 anos, foi possível suprir as crescentes demandas por alimentos colocando mais terra em produção. Mas hoje estima-se que só existam mais 5% de terra disponível para esse fim. A produção alimentar absorve 70% da chuva que cai sobre o solo. Devido à mudança climática, o suprimento de chuva se tornará mais volátil, com mais enchentes e secas, ambas as quais dificultam a vida dos agricultores.
Se os agricultores do mundo não conseguirem suprir a demanda de alimentos, haverá sérias conseqüências econômicas e políticas. A inflação alimentar poderá ameaçar o crescimento econômico e a escassez alimentar poderia criar instabilidade política no mundo em desenvolvimento. A liberalização do comércio global, que foi um fator chave para reduzir as tensões políticas internacionais, poderá ser revertida se os países decidirem proteger seus suprimentos internos de alimentos. Os países mais pobres poderão se tornar dependentes demais dos alimentos das zonas temperadas mais afluentes, nos EUA e na Europa, o que por sua vez exacerbaria os problemas de escassez de mão-de-obra nessas regiões, resultando em novas migrações polêmicas.
Para evitar essa catástrofe malthusiana, várias coisas precisam acontecer. Como antes, a inovação científica e tecnológica será chave, mas desta vez a tarefa não é cultivar mais terra, e sim melhorar substancialmente a produtividade da terra já cultivada. Mas, no Ocidente, os grupos ambientalistas resistem a essa inovação, notadamente, mas não exclusivamente, com relação às modificações genéticas.
A tese contra o uso irresponsável da ciência e da tecnologia não pode ser facilmente rejeitada, mas nos últimos anos os regulamentos foram reforçados e os cientistas reagiram à preocupação pública. Os ambientalistas devem reconhecer isto e preparar-se para fazer compromissos. A maneira mais rápida de realizar a terrível predição de Malthus seria que o mundo se tornasse totalmente orgânico.
Para que isso não ocorra, nós, como indivíduos, devemos parar de usar energia no ritmo em que o fazemos e de desperdiçar alimentos na medida em que o fazemos. Atualmente, desperdiçamos quase a metade do alimento que produzimos, jogando fora produtos perfeitamente bons em nossas cozinhas, restaurantes e lojas.
A agricultura atingiu um divisor de águas, e se as pessoas continuarem a se comportar de maneira egoísta ou irracional, as previsões malthusianas se realizarão. Prevê-se que depois de 2050 a população mundial deverá se estabilizar ou até declinar. Enquanto isso, devemos confiar na engenhosidade e no bom senso humanos para superarmos as dificuldades.
*Chris Haskins é fazendeiro e ex-presidente da Northern Food, uma indústria de alimentos britânica.
Fonte: UOL notícias