Apostasia no Mundo: Nepaleses elegem menina de três anos como deusa viva


07.10.2008 - Sacerdotes budistas e hindus cantaram hinos sagrados e jogaram flores e grãos de arroz sobre a menina de três anos que foi eleita a nova deusa viva do Nepal, nesta terça-feira (7).

Em roupas de seda e flores vermelhas em seu cabelo, a pequena Matani Shakya recebeu a aprovação dos padres e do presidente Ram Baran Yadav, em uma tradição que já dura séculos e que tem laços profundos com a monarquia nepalesa, abolida em maio.

A nova “kumari” (deusa viva) foi carregada desde a casa de seus pais até um antigo templo no centro da capital Katmandu, onde ela viverá até a puberdade – momento em que perderá seu estatus de divindade.

Até lá, ela será adorada por budistas e hindus como a encarnação da deusa Taleju.

Uma equipe de juízes conduziu uma série de cerimônias para escolher a deusa, entre crianças de dois e quatro anos. Foram lidos os horóscopos das crianças e suas imperfeições físicas foram analisadas.

A deusa viva precisa ter cabelo, olhos e dentes perfeitos, uma pele sem cicatrizes e não deve ter medo do escuro. Como último teste, ela deve passar uma noite sozinha em um quarto, entre cabeças de búfalos e bodes sacrificados em rituais sagrados – sem demonstrar medo.

A escolhida viverá em isolamento quase completa no templo e poderá voltar à sua família quando menstruar, e então uma nova deusa será eleita para substituí-la.

“Sinto-me um pouco triste, mas estou orgulhoso que a minha filha vai se tornar uma deusa viva”, declarou o pai de Matani Shakya, Pratap Man Shakya.

Críticos dizem que a tradição viola as leis internacionais e nepalesas dos direitos infantis. As crianças geralmente sentem dificuldade em readaptar-se à vida normal quando voltam para suas casas.

Além disso, o folclore nepalense diz que homens que se casam com uma ex-kumari morrem cedo, o que faz com que muitas dessas meninas permaneçam solteiras e enfrentem uma vida de dificuldades.

Fonte: G1

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Lembrando...

Sobre Reencarnação.

Por  Dom Eugênio de Araújo Salles - Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro,

A reencarnação é a crença que ensina a alma humana assumir outros corpos após a morte. Neste caso, ocorreriam existências sucessivas. Há inúmeras modalidades de ser apresentada com aspectos diferentes. Substancialmente trata-se de surgimento de vida, uma depois da outra, até alcançar um determinado grau de perfeição. Religiões diversas incluem em seu conteúdo doutrinário conotações filosóficas. Os dados que a história nos proporciona sobre a origem dessa crença não são muito claros. E onde era aceita, seu teor ficava escondido sob o véu do mistério, proibido de ser comunicado aos não-iniciados.

A partir do VII e VI séculos antes de Cristo, cresce a consciência de algo que sobrevive após a morte. Sem o auxílio da revelação divina, apelam para cultos como o orfismo. Este, sob a visão dualista do mundo (a matéria é má e o espírito é bom) buscava purificar a alma através de reencarnações. No hinduismo, por uma seqüência de vidas, pela filosofia também do budismo, do carma, se alcança a beatitude. Na experiência do Gautama Sakiamuni, (Buda, o Iluminado), a transmigração é um instrumento de libertação. No início do século passado, sociedades teosóficas ocultistas e outras, promoveram um modelo ocidental hoje muito difundido.

Essas e outras doutrinas, em nossos dias, propagam de forma diferente a multiplicação de existências sucessivas. Entre as razões alegadas que levam a aceitar a reencarnação, eis algumas: recordação em estado de transe atribuída ao Além; interpretação subjetiva de acontecimentos que teriam ocorrido em existência anterior; a impressão de já ter visto um lugar visitado pela primeira vez; a justiça da divindade se exerceria dessa forma para possibilitar um pleno desenvolvimento dos talentos. A saudade dos entes queridos, já mortos pressiona a esperança de entrar em contacto com eles e busca justificativas e fundamentos em uma memória psíquica, interpretada como vestígios de uma vida anterior, para comunicações com espíritos desencarnados. No entanto, não há necessidade de se recorrer a uma suposta reencarnação por causa de ocorrências ainda inexplicáveis totalmente no atual estado do conhecimento humano. Para esses episódios não há provas científicas. São, isto sim, objetos de opção pessoal e incluído no corpo doutrinário de uma crença. Evidentemente, merecem nosso respeito. Nós optamos, contudo, pela mensagem cristã, que nos dá outra perspectiva da vida e da morte, em contradição com a migração dos espíritos. A Sagrada Escritura é peremptória: não há lugar para a reencarnação.

Ao tratar, aqui, desse assunto, não me refiro a uma necessária passagem por uma fase de purificação após a morte, nem ao fato de reassumir o próprio corpo, na ressurreição final. Defendo o ensino cristão, que nega a hipótese de uma alma passar para outro corpo. Essa teoria contradiz frontalmente a Revelação divina, em seus ensinamentos a respeito da história de cada homem, do nascimento à morte. Conforme o Novo Testamento, faz parte da doutrina do cristianismo, que a salvação ou a perdição de cada homem se defina nesta vida, única e irrepetível. E a idéia de nova existência neste mundo é excluída por ser a negação de aspectos fundamentais da Mensagem cristã. Jesus veio uma só vez para operar, de modo definitivo e único, uma vez por todas, a salvação do mundo (Hb 7,27; 9,12). Cristo é a única e exclusiva resposta de Deus ao mundo. Nele é operado toda a salvação (2 Cor 1,20). De modo definitivo, está na glória do Pai e intercede por nós (Rm 8,34; Hb 7,25). O cristão já toma parte nessa vitória. Diz São Paulo: "Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos pelos nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo e com Ele, Deus nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus, em Cristo Jesus" (Ef 2,4-6). Essa é a doutrina basilar do Novo Testamento. Assim, quem recorre à reencarnação, transmigração de almas, nega e abandona algo essencial à Fé cristã. Reencarnação é uma apostasia do cristianismo: é negação do único Salvador, que, uma vez por todas, se imolou por nós e nos salvou. Pelo ensino de Jesus, o Batismo destrói pela raiz a idéia da reencarnação. O Novo Testamento usa a expressão "regenerar" (Tt 3,5) Nosso Senhor nos ensina: (Mt 19,28) "Em verdade vos digo que, quando as coisas forem renovadas, o Filho do Homem se assentará no seu trono de glória; também vós que me seguistes, vos sentareis em doze tronos". Não há lugar para uma regeneração de atos injustos que são resgatados pela força única do sangue de Cristo. Somos beneficiados "pela misericórdia divina, nós fomos salvos pelo batismo regenerante e renovador do Espírito Santo, que Ele abundantemente derramou sobre nós, por meio de Jesus Cristo" (Tt 3,5-6).

Para o Novo Testamento, toda iniciativa de salvação vem de Deus, não é nossa. Ela se baseia na Cruz e Ressurreição de Cristo, na qual temos parte pela Fé e pelo Batismo, "pela obediência à verdade que nos purifica (...) e pela prática do amor fraterno" (1 Pd 1,22).

A Fé cristã nos ensina que o corpo humano não deve ser visto como algo negativo, de que nos devemos libertar. Nele há más inclinações, fruto do pecado, a serem corrigidas. A vida do indivíduo é uma só e Cristo nos libertou da condenação.

Com a mesma clareza conclui o Novo Testamento: "Como é um fato que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem o julgamento, do mesmo modo Cristo foi oferecido uma vez por todas, para tirar os pecados da multidão. Ele aparecerá uma segunda vez, com exclusão do pecado, àqueles que O esperam, para salvação" (Hb 9,27-28).

São, portanto, inconciliáveis a crença na reencarnação e o cristianismo. São duas concepções diferentes do mundo e do aperfeiçoamento da criatura, da história da salvação da humanidade. É necessário fazer uma opção, pois se trata de matéria de Fé.

Fonte: Jornal "O Dia" - 30.03.2001


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