02.10.2008 - O medo continua impulsionando muitos cristãos a abandonarem o Iraque, denuncia o arcebispo de rito latino de Bagdá, Dom Jean Sleirman, em uma sincera avaliação da crise do país, oferecida a 427 pessoas durante o encontro anual de Ajuda à Igreja que Sofre do Reino Unido, em 27 de setembro passado.
O arcebispo, carmelita descalço, pastor de uma comunidade de cinco mil fiéis de rito latino, insistiu em que muitos cristãos desejam abandonar o país apesar da diminuição da violência em Bagdá e seus arredores, assim como a massiva reconstrução que se está levando a cabo no norte do Curdistão.
A migração contínua supôs um desastre para a comunidade cristã, que perdeu mais da metade de seus fiéis: de um milhão de fiéis passou aos atuais 400 mil. O arcebispo qualificou o sonho da migração como «não realista», ainda que as pessoas o vejam como «uma espécie de salvação».
Os atentados contra os cristãos – que qualificou de «autêntica perseguição» – em algumas áreas continuam sendo uma grande ameaça, denunciou o arcebispo, explicando que em outras regiões existe uma «co-existência sob pressão», o que significa que os cristãos são forçados a adotar práticas islâmicas, inclusive na vestimenta, para evitar ser expulsos do país.
O arcebispo, que falou em uma sala da Catedral de Westminster, reiterou esta mensagem em encontros com autoridades e arcebispos do Reino Unido, inclusive com o cardeal Cormac Murphy-O’Connor, arcebispo de Westminster.
Dom Sleiman, que antes havia celebrado uma missa na catedral pela Ajuda à Igreja que Sofre, sublinhou que há também sinais de esperança provenientes de organizações humanitárias e de ajuda como esta.
Após a intervenção do arcebispo Sleiman, o chefe de imprensa da AIS informou sobre sua viagem ao Iraque, onde esta organização foi chamada a apoiar uma série de projetos pastorais e humanitários.
Bagdá, Mosul e outras regiões, informou o arcebispo Sleiman, são ainda pontos fortes de perseguição e violência contra os grupos minoritários, em particular contra cristãos.
O arcebispo, que reconheceu que era perigoso para ele caminhar em Bagdá, advertiu que o crescente extremismo islâmico está reduzindo os não-muçulmanos a cidadãos de segunda classe, obrigados a usar o véu e a assumir outras práticas islâmicas.
Estas informações do arcebispo ressoam depois do anúncio do parlamento iraquiano de planos para retirar a quota de cadeiras nos conselhos provinciais reservada aos grupos minoritários, inclusive os cristãos.
O arcebispo Sleiman disse que «a melhor forma de proteção, não só dos cristãos, mas de todos os cidadãos, é devolver o império da lei ao Iraque».
Sobre o plano de situar um enclave cristão em torno da antiga cidade de Nínive, o arcebispo se mostrou contrário, dizendo que promove «um gueto».
Ajuda à Igreja que Sofre é uma organização dependente da Santa Sé que apóia os fiéis onde são perseguidos, oprimidos ou precisam de ajuda pastoral.
Fonte: www.zenit.org