30.09.2008 - Mais de 2,5 milhões de crianças brasileiras entre cinco e 15 anos trabalham várias horas por semana em troca de baixo salário ou de graça em tarefas domésticas, segundo um estudo publicado hoje pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A análise se baseia em dados de 2007 levantados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
"Os dados da Pnad de 2007 mostram que ainda existem 2.500.842 crianças e jovens de cinco a 15 anos trabalhando, ou 6,6% do total nessa faixa etária", afirma o relatório.
Do total de crianças de sete a 15 anos que trabalham e não vão à escola, 55% o fazem por mais de 40 horas semanais.
Cerca de 11% das que estudam e exercem alguma atividade dedicam esta mesma quantidade de horas ao trabalho, segundo a análise.
No entanto, em números absolutos, percebe-se uma redução na quantidade de crianças que trabalham, já que, em 2004, 2,8 milhões delas o faziam.
"Apesar de a incidência de trabalho infantil estar diminuindo, essa redução está sendo lenta", diz o estudo.
Das crianças entre sete e 15 anos, 89,7% apenas estudam, e 7% estudam e trabalham.
Outras 2,5% não trabalham e nem estudam, mas se ocupam de tarefas domésticas dentro de suas casas.
"Mais de 600 mil crianças estariam possivelmente impedidas de freqüentar a escola por estar desenvolvendo atividades de trabalho ou atividades domésticas", assegura o documento.
As crianças que só trabalham ganham em média R$ 226 por mês, e as que trabalham e estudam recebem R$ 151.
O relatório admite que o programa Bolsa Família não está conseguindo retirar essas crianças do trabalho.
"A maioria das crianças não recebe rendimento pelo seu trabalho: 65% das crianças trabalhadoras que estudam, e 45% das que não estudam, têm rendimento zero", acrescenta.
"A não freqüência à escola cria um cenário desfavorável para o futuro das crianças, uma vez que continuarão analfabetas ou lhes faltarão habilidades e conhecimentos para obter melhor trabalho e, conseqüentemente, aumento de renda", conclui o documento do Ipea.
Fonte: Terra notícias
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Lembrando...
Crianças ainda vão à guerra em pelo menos 13 países do mundo
05.02.2007 - Crianças ainda estão sendo recrutadas para atuar como soldados-mirins em pelo menos 13 países do mundo, do Afeganistão a Uganda, dez anos depois de um acordo internacional para eliminar a prática, disse na segunda-feira a instituição Save the Children.
A entidade disse que centenas de milhares de soldados-mirins estão sendo obrigados a lutar no mundo todo, apesar das diretrizes estabelecidas pelos Princípios da Cidade do Cabo, em 1997, que determinaram a idade mínima de 18 anos para o recrutamento.
"A situação ainda é terrível. Centenas de milhares de crianças ainda vivem na miséria devido à associação a grupos e forças armadas", disse a Save the Children num comunicado. "Os soldados-mirins são sujeitos a uma intimidação brutal, muitas vezes forçados a cometer atrocidades como 'treinamento' militar, e depois são usados na linha de frente", afirmou a instituição.
Muitas das crianças que são obrigadas a lutar estão na África, sob o controle de grupos rebeldes como o Exército da Resistência do Senhor (LRA), em Uganda - notório pela captura de milhares de crianças - ou de milícias como as que estão espalhando o terror no leste do Congo.
As crianças são muitas vezes raptadas de suas casas e começam a carreira com trabalhos forçados, realizando saques. Depois, são obrigadas a matar. "Se você não matar, eles matam você. Foi o primeiro assassinato que vi. Aquilo me fez ficar quieto e obedecer às ordens", disse um ex-soldado-mirim, Abubakar, que foi obrigado por rebeldes a lutar na guerra civil de Serra Leoa (1991-2002).
Abubakar contou à Reuters que matou pela primeira vez aos 13 anos de idade, com um fuzil AK-47. Ele não quis ter seu sobrenome publicado.
A Save the Children disse que crianças estão sendo recrutadas para lutar no Afeganistão, no Burundi, no Chade, na Colômbia, na República Democrática do Congo, na Costa do Marfim, em Mianmar, no Nepal, nas Filipinas, no Sri Lanka, na Somália, no Sudão e em Uganda.
O Unicef, agência da ONU para a infância, disse em 2003 que cerca de 8.000 soldados-mirins do Afeganistão haviam sido informalmente desmobilizados, mas não totalmente reintegrados à sociedade.
Os Princípios da Cidade do Cabo foram estabelecidos em um simpósio na África do Sul organizado pelo Unicef. Representantes de quase 60 países reuniram-se na França na segunda-feira para atualizar esses princípios nos chamados Compromissos de Paris, que visa a aumentar o empenho para impedir o uso de crianças em guerra e para reintegrar os soldados-mirins.
No sul do Sudão, forças do governo estão recrutando crianças de 8 anos, e há mais de 8.000 soldados-mirins em grupos rebeldes na África Ocidental.
Embora muitas das guerras africanas conhecidas pelo uso de soldados-mirins tenham acabado - como as de Serra Leoa e da Libéria - as crianças libertadas são muitas vezes rejeitadas pela sociedade. "Quero voltar à vida civil porque estou ficando velho. Mas estou acostumado com esta vida de soldado. Não há mais nada para fazer", disse Abubakar, já perto dos 30 anos. "Dizem que uma vez soldado, sempre soldado."
Fonte: Terra notícias