29.09.2008 - NOVA DÉLI, segunda-feira, 29 de setembro de 2008 (ZENIT.org).- Os bispos católicos da Índia exigiram formalmente do governo que faça todo o possível para deter a onda de violência contra os cristãos, que já dura mais de um mês e que causou dezenas de vítimas fatais.
Em um comunicado difundido pela agência AsiaNews na sexta-feira passada, 26 de setembro, o cardeal Varkey Vithayathil, presidente da Conferência Episcopal da Índia, em nome de todos os prelados do país, acusa formalmente os grupos radicais hindus pela tragédia, e pede que estes grupos sejam ilegalizados.
«Pessoas inocentes foram assassinadas, mulheres violentadas, igrejas e lugares religiosos profanados, casas de cristãos foram destruídas em Kandhamal e em outros distritos de Orissa», acusa o cardeal.
O comunicado pede «uma ação forte e urgente» contra os violentos, assim como «a proibição de todos os grupos fundamentalistas que treinam terroristas sob a insígnia de ‘Hindutva’ ou outros nomes».
Para os bispos, é «evidente que os autores destas ações malvadas são agentes treinados do ativismo radical ‘Hindutva’, que se movem com instruções e seguindo um plano pré-concebido de destruição».
O cardeal Vithayathil lamenta especialmente a atitude de «apatia e inação» do governo central e das autoridades locais dos Estados afetados.
«O governo continuou assegurando que tudo está dentro da normalidade e que a segurança era perfeita. Mas quando foi criticado, desculpou-se dizendo que era incapaz de controlar as gangues que destruíam as propriedades eclesiais e atacavam os religiosos e a população cristã.»
Esta violência descontrolada «está humilhando a antiga civilização indiana e valores como a Ahimsa (não-violência), Verdade, Tolerância e respeito pelas religiões que a Índia havia conservado zelosamente durante séculos», acrescenta o comunicado.
Os bispos recordam que a Constituição indiana reconhece «o direito à liberdade de consciência e à liberdade religiosa», assim como «direito de professar uma religião livremente, de praticá-la e propagá-la».
Também, acrescentam, a Igreja Católica «desempenhou sempre um papel ativo na hora de promover o diálogo inter-religioso e a harmonia».
«Se alguém considera os sofrimentos dos cristãos como uma fraqueza, equivoca-se. Queremos recordar a todos que somos cidadãos desta grande nação e que continuamos contribuindo muito para o crescimento e o desenvolvimento deste país.»
Rejeição do proselitismo
Os bispos rejeitam rotundamente as acusações de proselitismo e de promover conversões forçadas, acusações lançadas pelos grupos extremistas para justificar os atos violentos.
«A conversão forçada, mediante recompensas ou com engano está contra os ensinamentos da Igreja Católica», afirmam os bispos, citando a constituição Ad Gentes do Concílio Vaticano II.
Ao contrário, muitos convertidos ao cristianismo «perdem muitos benefícios garantidos pela Constituição, e alguns inclusive sacrificaram suas vidas por rejeitar converter-se ao hinduísmo», agrega a nota.
Os prelados mostram sua convicção de que «as acusações de promover conversões forçadas são uma estratégia que esconde o interesse de negar os serviços cristãos de saúde, educação, emancipação da pobreza e desenvolvimento aos grupos mais abandonados».
«Cremos que a oposição do ‘Hindutva’ às atividades cristãs deriva do medo a que muitas destas comunidades marginalizadas se reforcem em seus direitos e resistam à exploração», acrescentam.
Fonte: www.zenit.org
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Lembrando...
Três novos assassinatos de cristãos na Índia, entre eles um Sacerdote
23.09.2008 - O arcebispo de Gênova denuncia a «onda de cristofobia» na Índia e em outros países.
BOMBAIM - Um sacerdote e dois leigos foram assassinados nas últimas horas na Índia, segundo informou ontem a agência católica italiana AsiaNews.
Enquanto isso, continuam os ataques a igrejas e centros cristãos nos estados de Orissa,Chhattisgarh, Madhya Pradesh, Karnataka e Kerala.
O sacerdote católico assassinado se chamava Samuel Francis e pertencia à diocese de Meerut (a 400 km de Nova Déli). Era muito conhecido por levar uma vida ascética da maneira tradicional da Índia, e por ser um promotor carismático do diálogo inter-religioso, tanto com os hindus como com os muçulmanos. Seu corpo foi encontrado ontem com as mãos atadas e com feridas na cabeça, no ashram (mosteiro) em que vivia.
Por outro lado, nas últimas horas, dois cristãos foram assassinados e seus corpos despedaçados e jogados em um tanque, no estado de Orissa. Um deles havia sido capturado pelos extremistas enquanto fugia com sua família para um campo de refugiados.
Segundo denuncia o Conselho das Igrejas da Índia (All India Christian Council), só em Orissa já foram assassinados 37 cristãos, entre eles 2 pastores protestantes; mais de 4 mil casas foram queimadas e cerca de 50 mil fiéis fugiram para os campos ou para refugiar-se na selva.
Os principais objetivos dos radicais, denuncia o Conselho, são os sacerdotes, as religiosas e suas famílias, que inclusive devem esconder sua identidade nos campos de refugiados para não serem detectados pela polícia e pelos extremistas.
Também foram detectados novos ataques a igrejas em Bangalore, onde inclusive foram profanadas as espécies eucarísticas, e 2 igrejas de rito sírio-malabar em Kerala, consideradas patrimônio histórico já que se remontam à Idade Média (uma delas, a catedral dos Jacobitas, foi construída em 825).
«Onda de cristofobia»
Sobre estes acontecimentos se pronunciou ontem o cardeal Angelo Bagnasco, arcebispo de Gênova e presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), que denunciou a «perseguição anticristã que se está levando a cabo na Índia, no Iraque e em outras partes do mundo».
Em seu discurso por ocasião da reunião do Conselho Permanente da CEI, que acontece nestes dias em Roma, o cardeal se referiu especialmente à «onda de cristianofobia» na Índia e denunciou «o desprezo da lei, a impunidade dos culpados, a desinformação da imprensa, a vergonha dos políticos locais e o silêncio da comunidade internacional».
O cardeal Bagnasco recordou que diante destes crimes «só se levantou a voz do Papa», à qual se uniram os bispos italianos, convocando uma jornada de oração em 5 de setembro passado.
Recordou também as perseguições que os cristãos padecem no Paquistão, e o «calvário» do Iraque, onde outros 2 cristãos foram assassinados nos últimos dias.
Por um lado, o cardeal Bagnasco recordou o dever dos cristãos de rezar e mostrar sua solidariedade pra com os que sofrem perseguição: «na Igreja ninguém é estrangeiro; se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele».
Por outro lado, fez um apelo aos políticos, intelectuais e à opinião pública, para que «voltem sua atenção ao tema da liberdade religiosa, que é pedra angular da civilização e dos direitos do homem e garantia do autêntico pluralismo e da verdadeira democracia».
«A liberdade religiosa não é algo opcional que os Estados concedem aos cidadãos mais insistentes, nem uma concessão paternalista que remete ao princípio da tolerância, explicou, mas o baluarte das liberdades e o critério último de salvaguarda das mesmas.»
O cardeal Bagnasco advertiu, finalmente, que existe o risco de que «a chamada cristofobia» chegue à própria Europa, mediante «a separação entre fé e razão, e entre fé e vida pública», como demonstram «a prática do relativismo, os excessos anti-religiosos e anticristãos e a regressão ética e cultural da sociedade».
Fonte: www.zenit.org