11.09.2008 - Em Lagoinha, quem morrer sábado ou domingo será enterrado na segunda.
Pagamento de horas extras para coveiro motivou decisão da prefeitura.
Os cidadãos de Lagoinha, pequena cidade a 201 km de São Paulo, que morrerem aos fins de semana terão que esperar até segunda-feira para serem enterrados. Em um comunicado oficial, a prefeitura proibiu, desde 21 de agosto, que o único coveiro da cidade, Francisco de Assis Soares, faça horas extras e trabalhe fora dos dias úteis. A medida provocou a revolta do coveiro, que há quase três anos trabalha no cemitério, e da população de cerca de 6 mil habitantes que agora têm medo de morrer aos fins de semana.
"Está suspenso os plantões aos fins de semana no cemitério devido ao baixo índice de mortalidade em nosso município. Desobrigando vossa senhoria de permanecer à disposição dessa municipalidade aos fins de semana", informa o comunicado assinado pelo encarregado do Departamento Pessoal da prefeitura, Valter Luiz Ribeiro. De acordo com o Sindicato dos Servidores Públicos do município, a prefeitura suspendeu os plantões do coveiro e do assistente dele para não pagar horas extras.
Indignado, o coveiro concursado, que ganha um salário mínimo por mês, disse que as mortes ocorrem sim aos sábados e domingos. "Não tem como prever isso. E se alguém morrer, como fazemos? Não é qualquer um que pode enterrar. Prestei concurso para isso, tem técnica, não é assim que funciona", disse. O coveiro estava triste porque havia perdido dois primos em um acidente na estrada entre Lagoinha e São Luiz do Paraitinga, a 182 km da capital paulista. "E se hoje fosse sábado, como ia fazer? Isso não pode continuar assim, estou revoltado."
Segundo o presidente do sindicato, Daniel Ramos, a falta de pagamento de horas extras por parte da administração municipal obrigou a entidade a mover uma ação contra a prefeitura. A Justiça do Trabalho então obrigou a prefeitura a fazer o pagamento. "Foi depois disso que eles mandaram o comunicado. Um absurdo", afirmou.
O prefeito José Galvão da Rocha confirmou a proibição. "Posso garantir que se houver alguma morte as pessoas serão enterradas sim, e que se for preciso até eu faço o enterro", disse. Mesmo com a promessa, a população está com medo. "Agora pra morrer aqui, só em dia útil e só até quinta-feira. Não se fala em outra coisa", disse a faxineira Célia da Conceição.
Fonte: G1