10.09.2008 - Evento deve ter sido provocado pelo colapso de uma estrela de alta massa.
Se tivesse ocorrido mais perto, fenômeno teria acabado com vida na Terra.
No último dia 19 de março, o satélite Swift, da Nasa, detectou uma explosão violenta no espaço sideral. Mas não qualquer explosão; um fenômeno conhecido como rajada de raios gama (ou "gamma-ray burst", em inglês). E não qualquer rajada de raios gama, mas uma que estava apontada diretamente na direção da Terra. Por conta disso, o fenômeno deve ter sido visível a olho nu.
Se o objeto que a emitiu estivesse suficientemente próximo, poderia ter cozinhado toda a vida existente em nosso planeta. "Se isso acontecesse em nossa galáxia, estaríamos numa grande encrenca", afirma David Burrows, líder da equipe do Swift.
Felizmente, ele estava a uma distância segura: nada menos que 7,5 bilhões de anos-luz. Para que se tenha uma idéia da distância, ela fica na metade do caminho entre nós e os objetos mais distantes que podem ser enxergados daqui.
O resultado, portanto, foi apenas um grande espetáculo astronômico. E, pelo fato de estar direcionada na direção da Terra, a rajada de raios gama batizada de GRB080319B foi a mais brilhante já observada. Tanto que as emissões em luz visível que acompanharam os raios gama for visíveis a olho nu. Ou seja, se você estivesse olhando para o céu na direção certa, na hora certa, poderia tê-lo enxergado.
"Ele foi visível por 40 segundos", relata, em entrevista coletiva, Judith Racusin, pós-graduanda da Universidade Estadual da Pensilvânia e primeira autora do estudo que relatou os resultados, na edição desta semana do periódico britânico "Nature".
Rede de observação
Sempre que o Swift detecta uma rajada de raios gama, a equipe responsável pelo satélite comunica a uma grande rede mundial de astrônomos, que então procede com a observação. Foi o que aconteceu no dia 19 de março. Mas graças às peculiaridades desse evento -- com a orientação da rajada voltada para a Terra --, os resultados foram espetaculares.
"Foi o melhor conjunto de dados já obtido sobre a mais brilhante rajada de raios gama já observada", comemorou David Burrows. "Essas circunstâncias improváveis", completou Racusin, referindo-se ao alinhamento da rajada com a Terra, "nos permitiram ver esse objeto de um modo diferente."
Com as observações, os cientistas esperam entender melhor como acontecem essas rajadas de raios gama. Conhecidas como os eventos energeticamente mais potentes do universo, essas rajadas são produzidas quando uma estrela de alta massa entra em colapso e produz um buraco negro ou uma estrela de nêutrons.
Fonte: G1
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Lembrando...
Ciência: Eta Carinae, a estrela do Juízo Final
02.06.2008 - A descomunal explosão de Eta Carinae - que já pode ter até acontecido - ameaça a vida na Terra?
Se desviarmos a vista do centro da constelação do Cruzeiro do Sul, cerca de 14 graus para a direita seguindo o percurso esfumaçado da Via Láctea, encontraremos a região de formação estelar catalogada como NGC 3372. Este gigantesco complexo de nuvens de poeira e hidrogênio ionizado abriga uma associação de estrelas supergigantes azuis com idade inferior a 3 milhões de anos.
O astro dominante deste grupo foi descrito pela primeira vez pelo astrônomo inglês Edmond Halley (1656-1742), trabalhando na ilha de Santa Helena, em 1677. Suas anotações de campo referiram uma estrela vermelha de quarta magnitude, que recebeu o nome Eta Carinae.
Durante o século seguinte, Eta Carinae flutuou erraticamente, chegando à magnitude 2 (quanto maior a magnitude, menor o brilho) em 1730, enfraquecendo depois disso. Em 1820, teve início um novo episódio de abrilhantamento, que transformou Eta Carinae numa estrela de primeira magnitude sete anos mais tarde. E então, em 1832, Eta Carinae atingia a magnitude zero, rivalizando com o brilho de Rigel, da constelação de Órion. O máximo ocorreu em 1843, quando a estrela alcançou magnitude -0,8, perdendo apenas para Sirius (a estrela mais brilhante do céu, com magnitude visual -1,6).
Depois disso, Eta Carinae declinou, tornando-se invisível a olho nu (magnitude +6,5) em 1868. Ao redor de 1880 sua magnitude era de 7,5, mas, 12 anos depois, mostrou um breve pico secundário, no limite da visibilidade a olho nu. O brilho mínimo parece ter sido alcançado em 1900 (magnitude 8,0) e, desde então, uma nova tendência de recuperação tem se verificado. Atualmente, pode-se ver Eta Carinae em uma noite bem escura, sem Lua, como um astro de quinta magnitude.
Armagedon?
É possível que algumas extinções de espécies biológicas em massa na história da Terra, como a do período Ordoviciano, há 440 milhões de anos, possam ter sido induzidas por emissões de raios gama próximas ao sistema solar. Um dos efeitos poderia ter sido a destruição temporária da camada de ozônio.
Especialistas concordam que Eta Carinae poderá explodir a qualquer momento. Talvez daqui a 10 mil ou, quem sabe, 100 mil anos. Talvez até já tenha explodido. Devido a sua distância, se a evento ocorresse hoje, só tomaríamos conhecimento daqui a 7,5 mil anos. Nesse caso, poderíamos observar seus efeitos a qualquer momento. Não há como saber.
Se James Annis estiver certo, ou a mira mortífera de Eta Carinae tiver, por desgraça, nosso sistema solar como alvo, então toda a novela da vida na Terra poderá acabar instantaneamente, com a biosfera cozinhada em uma rajada de raios gama.
Neste caso, a única coisa boa é que não precisaríamos nos preocupar com nada. Ao contrário dos efeitos devastadores e prolongados da queda de um asteróide, Eta Carinae nos executaria de maneira rápida e indolor.
Em suma, tudo o que se deseja de um bom carrasco...
Fonte: Jornal Zero Hora RS