05.09.2008 - O cristianismo como "grande código" ideal da Europa: esse foi o tema central da conferência do presidente do Pontifício Conselho para a Cultura e da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, Dom Gianfranco Ravasi.
A conferência de Dom Ravasi teve lugar na Pontifícia Universidade de Salamanca, na Espanha, por ocasião do Congresso intitulado "O patrimônio cultural da Igreja. A beleza a serviço da evangelização e da cultura".
"A língua materna da Europa é o cristianismo": o dizia Goethe, e Dom Ravasi o recorda reiterando que a religião cristã, "com a sua celebração da pessoa e da dignidade humana", com o "ora et labora" do monaquismo, com "a reflexão da Idade Média e com "a cultura gloriosa do Humanismo e do Renascimento", constituía "o grande código ideal da Europa".
É claro _ continua Dom Ravasi _, hoje o Velho Continente tem uma sua "esfera política, econômica, laica" com uma própria dignidade e uma própria autonomia "emblematicamente representada por um parlamento comum e uma moeda, o euro".
Todavia _ reitera o prelado _, "existe outra esfera que é distinta, mas não antitética, e é a da pessoa humana, da cultura, da espiritualidade, onde se configura "a imagem não de César, mas de Deus".
Daí, a atenção dada pelo presidente do Pontifício Conselho para a Cultura a fim de que "a Europa de César e a Europa de Deus, isto é, imanência e transcendência, política e religião, economia e cultura" se entrelacem entre si, "sem perverter-se reciprocamente".
A esse propósito, Dom Ravasi lança um tríplice apelo para impedir "a dissolução da nossa especificidade, da nossa autenticidade, da nossa gloriosa identidade".
Em primeiro lugar, o prelado recorda que, "sobretudo, é necessário lutar contra a falta de memória em relação às próprias raízes, aos valores constitutivos, à identidade genuína da Europa", porque "há o risco de que a Europa se reduza justamente a casca, a tronco árido, tendo dessecado a linfa de suas profundas raízes cristãs, votada somente à 'virtualidade'".
O segundo apelo proposto pelo arcebispo se manifesta contra "a superficialidade, a banalidade, a vacuidade, a vulgaridade, a fealdade", a fim de que se volte "à ética e à beleza", estrelas fixas _ define o prelado _ do céu da civilização européia, sob estímulo da mensagem cristã.
Por isso _ continua _, "é necessário um ímpeto de moralidade, um suplemento de alma", porque "falta uma voz que nos indique a rota, o sentido da vida, que nos interpele sobre o bem e o mal, sobre o justo e o injusto, sobre o verdadeiro e o falso, sobre o existir e o morrer".
Por fim, o terceiro apelo de Dom Ravasi é o da luta contra os "extremismos, os excessos, a espiral das puras antíteses", porque se de um lado se corre o risco de "um sincretismo que se torna relativismo incolor e que apaga e dissolve a nossa identidade específica", de outro se corre o risco de "precipitar ao longo de uma vertente de um fundamentalismo que se torna exclusivismo acesso e que elimina todo respeito e ignora todo valor alheio".
Então, para evitar essa "espécie de ardor iconoclasta, feroz e, ao mesmo tempo, amedrontado em relação a tudo aquilo que é diferente", Dom Ravasi reitera que "é indispensável reencontrar a grande tradição do diálogo, do debate entre as culturas e a religiões, no espírito genuíno do cristianismo".
Porque _ conclui o prelado, citando o poeta estadunidense Thomas Stearns Eliot _ "se o cristianismo vai-se embora, vai-se embora toda a nossa cultura, vai-se embora toda a nossa própria face". (RL)
Fonte: Rádio Vaticano