Violência aumenta no Nordeste e moradores mudam hábitos


31.07.2008 - A violência aumentou nas capitais do Nordeste. E a população está adotando novos hábitos para tentar se proteger.

Na Bahia, foram quatro chacinas em pouco mais de um mês e 882 mortes só em um semestre. Os assaltos também assustam. Os moradores reclamam que até os carteiros já foram vítimas de roubos e se negam a entrar em alguns bairros.

A aposentada Maria Regina Silva, que vive em São Luís, no Maranhão, diz que três casas foram assaltadas na rua dela. Por isso, ela evitar ficar na calçada, conversando com vizinhos e amigos. “Não dá mais para ficar na porta”, comenta.

Em Alagoas, os assassinatos cresceram quase 50% este ano. A violência acontece à luz do dia. E a saída encontrada pelos moradores foi transformar as ruas em condomínios fechados. Grades e câmeras foram instaladas para aumentar a segurança.

Carros blindados e mudança de emprego

No Recife, quase todo mundo já viveu ou conhece alguém com uma história de violência para contar. A relações-públicas Eliane Luna viu a casa dos pais ser invadida por assaltantes às 10h. Ela mesma já foi assaltada duas vezes. Na última, tomou uma decisão: deixou o emprego. “Eu saía de lá muito tarde, entre 22h e 23h. O percurso é muito esquisito. Você não vê ninguém passando neste horário. E tenho muito medo, porque já fui assaltada. Já tive uma arma apontada na minha cabeça”, diz.

Na capital pernambucana, nos assaltos mais recentes com morte, as vítimas estavam no trânsito. Para diminuir a sensação de insegurança, alguns motoristas optaram pela blindagem. “Não é com relação ao bem, e sim com relação à segurança mesmo, porque se a gente tivesse certeza de que o bandido ia levar só o bem, acho que não haveria essa necessidade. O problema é justamente qual é a lógica do bandido”, afirma o advogado Ricardo Uchoa, que blindou dois carros.

Pernambuco é o terceiro estado do país e primeiro do Nordeste em número de blindagens. Em uma empresa, o número de carros que receberam o reforço na proteção dobrou.

Até bem pouco tempo, a blindagem era apenas para carros de luxo, coisa de primeira linha. Hoje, os mais simples e os populares representam boa parte do mercado em estados como São Paulo e Pernambuco. “Há um ano, nós fazíamos seis blindagens por mês. Agora, são 11 a 15 blindagens por mês. O crescimento é forte”, afirma o dono de uma empresa especializada, Edvaldo Langarini.

Fonte: G1

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Lembrando...

Um Estado com o dedo no gatilho: O assassinato está em alta no Rio Grande do Sul.

08.04.2008 - O número de casos cresceu 29% entre 2000 e 2007, conforme estatísticas da Secretaria da Segurança Pública (SSP).

Pós um período de relativa estabilidade, um aumento nos homicídios ocorre desde 2005. Foram 1.352 mortes naquele ano, 1.359 em 2006 e 1.568 casos em 2007. A média em 2007 foi de 4,3 homicídios por dia no Rio Grande do Sul, um a cada seis horas. Em 2008 a média praticamente repete a do ano passado, 4,4 homicídios ao dia. Metade dessas mortes acontece na Região Metropolitana.

A tendência gaúcha é inversa à registrada no país, onde o total de homicídios vem caindo desde 2003, quando foram registrados 51 mil crimes desse tipo. Em 2006, foram 44 mil assassinatos.

Mesmo com o crescimento de homicídios nos últimos anos, o Rio Grande do Sul está longe de figurar entre os locais mais violentos do Brasil. Conforme as últimas estatísticas nacionais, referentes a 2006, o território gaúcho ocupa o 20º lugar no ranking de homicídios entre os Estados. Sua taxa média é de 18 assassinatos por 100 mil habitantes, enquanto a taxa média brasileira é de 24 por 100 mil.

A ascensão lenta e gradual do número de mortes violentas no Rio Grande do Sul intriga especialistas. O cientista social Alex Niche Teixeira, do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz que as explicações podem ser múltiplas, mas ressalta que o Estado é o mais armado do Brasil. Além disso, foi o que registrou o mais alto percentual de rejeição à proposta governamental de proibir a venda de armas, no Referendo do Desarmamento, em 2005. Sete em cada 10 gaúchos disseram não à idéia de vetar o comércio bélico.

Enquanto em outros Estados o desarmamento vem aumentando desde 2003, no Rio Grande do Sul a população resiste à idéia. Quem deseja matar vai matar de qualquer jeito. Mas com bastante armas em circulação, fica mais fácil analisa Teixeira, cujo grupo prepara para este ano o Mapa da Violência-RS, um trabalho que pretende dissecar a situação de oito tipos de crimes violentos no Estado.

A favor da hipótese de Teixeira está o fato de os gaúchos possuírem mais de 800 mil armas registradas, das 3,2 milhões existentes no país. Quase todas na clandestinidade porque seus donos simplesmente não as recadastraram na Polícia Federal. Mas isso não explica tudo. A BM apreendeu 57% mais armas nos quatro primeiros meses do ano passado, se comparados com igual período de 2006, mas mesmo assim os homicídios aumentaram. Por quê?

Maior parte de vítimas e autores tem antecedentes

O diretor de Gestão e Estratégia da SSP, tenente-coronel Marco Antônio Moura dos Santos, assinala que 90% dos indiciados por homicídio no primeiro trimestre deste ano têm antecedentes criminais, enquanto 60% das vítimas também têm. Isso indica que a disputa entre criminosos em sua maioria por causa de drogas é razão da maioria dos crimes.

Quando as polícias prendem mais, como vem ocorrendo, aumentam as disputas sangrentas pela liderança nas quadrilhas ou nas áreas comenta Santos.

O fato de o número de homicídios estar crescendo no Rio Grande do Sul e em queda no Brasil não significa que o país está pacificado. Pelo contrário. Se comparado um período de mais de duas décadas, o cenário nacional é de uma epidemia de violência. Entre as mortes por fatores externos que excluem doenças , os homicídios no Brasil praticamente dobraram. Passaram de 19,8% do total, em 1980, para 37,1%, em 2005, mesmo com a queda nos últimos quatro anos.

NOITE SANGRENTA - Dez homicídios em sete horas e 20 minutos

Em um intervalo de apenas sete horas e 20 minutos, o Estado registrou pelo menos 10 assassinatos entre a noite de domingo e a madrugada de ontem. O número contrasta com a média de mortes em fevereiro, por exemplo, que foi quatro a cada 24 horas.

A quantidade de disparos efetuados pelos agressores chama a atenção nesses casos. Uma das vítimas, morta em Esteio, por exemplo, teve o rosto desfigurado por quatro tiros, dificultando até a identificação dela pela polícia.

- Chamam na periferia de tiro do esculacho. O objetivo é humilhar o desafeto. O agressor ainda cria constrangimento até para a família que não pode velar a vítima com caixão aberto - observa Bolívar.

Em alguns dos crimes, como os ocorridos no bairro Nonoai, em Porto Alegre, e em Balneário Pinhal, a Polícia Civil já aponta a relação direta com o tráfico de entorpecentes.

- Porto Alegre não é uma ilha, o tráfico tem sido responsável pela maior parte das mortes na Região (Metropolitana) - diz Bolívar.

Para a antropóloga Ana Luiza, o perfil das vítimas revela um problema social: a ação dos criminosos na periferia cresce à medida que ações sociais do Estado nas comunidades se tornam escassas.

- É uma cultura que se cria na periferia. Os jovens acabam tendo como modelos de sucesso os traficantes ou outros criminosos que conseguem as garotas mais bonitas, andam mais bem vestidos, tem carros melhores - ressalta.

Para a professora, a violência com que foram cometidos os crimes seria uma forma de os grupos mostrarem força:

- Os criminosos se aproveitam da ausência do Estado e criam uma rede que liga as diferentes classes sociais. Além de traficantes, morrem jovens de famílias que passam a morar nessas regiões e não conhecem os códigos morais e limites impostos por por esses grupos criminosos.

Os crimes guardam semelhanças entre si: foram usadas armas de fogo contra jovens do sexo masculino - a maioria entre 15 e 30 anos - , que moravam na periferia. Sete casos foram classificados pela polícia como execuções, já que as vítimas foram atingidas com quatro ou mais tiros.

- O perfil é o mesmo da maior parte dos assassinatos no Estado. Há relação direta com a disputa entre grupos de jovens rivais, que, por meio da violência, querem demarcar seus territórios - avalia Bolívar Llantada, delegado de Homicídios.

A falta de testemunhos também caracteriza esses crimes. Até no tiroteio ocorrido no Centro Comunitário Santa Fé, na periferia de Caxias do Sul, onde dezenas de pessoas participavam de uma festa e três jovens foram mortos, a polícia encontra dificuldades em localizar pessoas dispostas a contar o que aconteceu.

Em apenas dois dos casos a polícia conseguiu ouvir testemunhas oculares, mas apenas os pais das vítimas falaram. Nos demais, ninguém viu ou ouviu nada.

- As pessoas ficam com medo de depor. As poucas informações, geralmente, são anônimas - explica Bolívar.

Para a antropóloga Ana Luiza Quadros, do Laboratório de Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a questão extrapola o medo dos moradores de represálias e teria relação com o tráfico de drogas.

- A lei do silêncio não é só garantida pela coação, mas pela identificação dos traficantes como pessoas que auxiliam a comunidade, que compram remédio, que assumem ações de responsabilidade do Estado - afirma.

Narcotráfico está por trás de grande parte das execuções

A quantidade de disparos efetuados pelos agressores chama a atenção nesses casos. Uma das vítimas, morta em Esteio, por exemplo, teve o rosto desfigurado por quatro tiros, dificultando até a identificação dela pela polícia.

Chamam na periferia de tiro do esculacho. O objetivo é humilhar o desafeto. O agressor ainda cria constrangimento até para a família que não pode velar a vítima com caixão aberto observa Bolívar.

Em alguns dos crimes, como os ocorridos no bairro Nonoai, em Porto Alegre, e em Balneário Pinhal, a Polícia Civil já aponta a relação direta com o tráfico de entorpecentes.

Porto Alegre não é uma ilha, o tráfico tem sido responsável pela maior parte das mortes na Região (Metropolitana)  diz Bolívar.

Para a antropóloga Ana Luiza, o perfil das vítimas revela um problema social: a ação dos criminosos na periferia cresce à medida que ações sociais do Estado nas comunidades se tornam escassas.

É uma cultura que se cria na periferia. Os jovens acabam tendo como modelos de sucesso os traficantes ou outros criminosos que conseguem as garotas mais bonitas, andam mais bem vestidos, tem carros melhores ressalta.

Para a professora, a violência com que foram cometidos os crimes seria uma forma de os grupos mostrarem força:

Os criminosos se aproveitam da ausência do Estado e criam uma rede que liga as diferentes classes sociais. Além de traficantes, morrem jovens de famílias que passam a morar nessas regiões e não conhecem os códigos morais e limites impostos por por esses grupos criminosos.

Fonte: Jornal Zero Hora RS

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"Juram falso, assassinam, roubam, cometem adultério, usam de violência e acumulam homicídio sobre homicídio". (Os 4,2)


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