Livro que questiona divindade de Jesus, já vendeu 10 milhões de exemplares
Ao mesmo tempo em que "A Paixão de Cristo" ultrapassa o meio bilhão de dólares arrecadado em todo o mundo em menos de três meses após seu lançamento (já entre os 25 filmes mais rentáveis de todos os tempos), outro fenômeno pop começa a crescer ao redor de uma polêmica envolvendo Jesus Cristo.
Com 10 milhões de exemplares vendidos no mundo inteiro, "O Código Da Vinci" não completou um mês de lançamento no Brasil e já ultrapassa a casa dos 50 mil livros vendidos. Mas, se o filme de Mel Gibson se baseia em uma adaptação quase literal do Novo Testamento, o romance do autor norte-americano Dan Brown usa a ficção para lançar suspeita não apenas sobre a natureza sagrada do messias cristão, mas sobre toda a instituição católica.
Baseando-se na sociedade secreta do Priorado de Sião (que teve, entre seus integrantes, nomes como Isaac Newton, Leonardo da Vinci e Victor Hugo), Brown desconstrói vários segredos históricos usando ciências de pouco apelo popular, como a hagiografia, a história da arte e a criptografia, com um ritmo de texto preciso e o excesso de referências quase obrigatório nesta época de best-sellers pós-modernos.
O segredo do sucesso é parente direto de outras grifes da virada do milênio, como "Matrix", "Senhor dos Anéis" e "Harry Potter": reunir referências populares, históricas e míticas em um enredo dinâmico, cuja série de desdobramentos acompanhe o mesmo ritmo da ação dos personagens.
"O Código Da Vinci" começa com um assassinato no Museu do Louvre, em Paris, que ocorre ao mesmo tempo em que o professor Robert Langdon visita a cidade. Langdon é um acadêmico transformado em popstar das letras quando seus livros ("A Arte dos Iluminatti" e "A Simbologia das Seitas Secretas") provocam controvérsias envolvendo o Vaticano. Sua estada na capital francesa leva ao encontro da criptóloga Sophie Neveu, a neta do assassinado, que era curador do museu.
O assassinato é o ponto de partida para descobertas cujo fio da meada são obras de Leonardo da Vinci. Citar o mestre italiano é um dos trunfos do livro, já que as evidências da conspiração realmente existem nos quadros citados, que não são desconhecidos. Tanto a "Mona Lisa" quanto a "Santa Ceia" têm papel central no romance.
A agilidade do texto de Brown é proporcional à sua capacidade de citar referências eruditas sem a empáfia característica dos eruditos. E elas vêm em quantidade e velocidade. "O Código Da Vinci" é uma vertiginosa descida aos maiores segredos da história ocidental, que, tirando o fôlego do leitor, desvenda o que o autor se refere como "a maior conspiração dos últimos 2.000 anos" -que Jesus Cristo era um mero mortal e que sua santidade foi construída através dos tempos, para justificar o poder da Igreja Católica.
O livro posiciona Dan Brown entre autores de naturezas opostas como Umberto Eco e Robert Lundlum, escritores que equilibraram citações históricas, artísticas e religiosas, ritmo de romance policial e apelo popular sem se prender a um gênero literário específico. Não é todo dia que se tem vontade de reler um livro de quase 500 páginas pelo simples prazer da leitura.
"É uma espécie de "Harry Potter" para adultos", resume o editor Marcos da Veiga Pereira, que lançou o livro no país. Na esteira do sucesso do livro, a editora Sextante planeja lançar em novembro o livro anterior de Brown, protagonizado pelo mesmo Robert Langdon, "Angels and Demons".
Livro ganhará adaptação para o cinema
Há mais de 50 semanas na lista dos livros mais vendidos do "New York Times", "O Código Da Vinci" é um fenômeno de vendas -só nos Estados Unidos, vendeu 7 milhões de exemplares. Na Europa, o mesmo desempenho: 450 mil livros vendidos na Espanha, 300 mil na Itália, 250 mil na Alemanha.
Até no Brasil os números impressionam. Marcos da Veiga Pereira, da Sextante, compara com outro fenômeno de vendas da editora, "Um Dia Daqueles" (com fotos de bichos e frases sentimentais): "Mas "O Código Da Vinci" está vendendo muito mais rápido", diz. E o livro já está a caminho de Hollywood: foi comprado pelo produtor Brian Glazer e será dirigido por Ron Howard, a mesma dupla do filme "Uma Mente Brilhante".
Fonte> UOL Noticias (Folha de SP)