Ciência: Eta Carinae, a estrela do Juízo Final
02.06.2008 - A descomunal explosão de Eta Carinae - que já pode ter até acontecido - ameaça a vida na Terra?
Se desviarmos a vista do centro da constelação do Cruzeiro do Sul, cerca de 14 graus para a direita seguindo o percurso esfumaçado da Via Láctea, encontraremos a região de formação estelar catalogada como NGC 3372. Este gigantesco complexo de nuvens de poeira e hidrogênio ionizado abriga uma associação de estrelas supergigantes azuis com idade inferior a 3 milhões de anos.
O astro dominante deste grupo foi descrito pela primeira vez pelo astrônomo inglês Edmond Halley (1656-1742), trabalhando na ilha de Santa Helena, em 1677. Suas anotações de campo referiram uma estrela vermelha de quarta magnitude, que recebeu o nome Eta Carinae.
Durante o século seguinte, Eta Carinae flutuou erraticamente, chegando à magnitude 2 (quanto maior a magnitude, menor o brilho) em 1730, enfraquecendo depois disso. Em 1820, teve início um novo episódio de abrilhantamento, que transformou Eta Carinae numa estrela de primeira magnitude sete anos mais tarde. E então, em 1832, Eta Carinae atingia a magnitude zero, rivalizando com o brilho de Rigel, da constelação de Órion. O máximo ocorreu em 1843, quando a estrela alcançou magnitude -0,8, perdendo apenas para Sirius (a estrela mais brilhante do céu, com magnitude visual -1,6).
Depois disso, Eta Carinae declinou, tornando-se invisível a olho nu (magnitude +6,5) em 1868. Ao redor de 1880 sua magnitude era de 7,5, mas, 12 anos depois, mostrou um breve pico secundário, no limite da visibilidade a olho nu. O brilho mínimo parece ter sido alcançado em 1900 (magnitude 8,0) e, desde então, uma nova tendência de recuperação tem se verificado. Atualmente, pode-se ver Eta Carinae em uma noite bem escura, sem Lua, como um astro de quinta magnitude.
Armagedon?
É possível que algumas extinções de espécies biológicas em massa na história da Terra, como a do período Ordoviciano, há 440 milhões de anos, possam ter sido induzidas por emissões de raios gama próximas ao sistema solar. Um dos efeitos poderia ter sido a destruição temporária da camada de ozônio.
Especialistas concordam que Eta Carinae poderá explodir a qualquer momento. Talvez daqui a 10 mil ou, quem sabe, 100 mil anos. Talvez até já tenha explodido. Devido a sua distância, se a evento ocorresse hoje, só tomaríamos conhecimento daqui a 7,5 mil anos. Nesse caso, poderíamos observar seus efeitos a qualquer momento. Não há como saber.
Se James Annis estiver certo, ou a mira mortífera de Eta Carinae tiver, por desgraça, nosso sistema solar como alvo, então toda a novela da vida na Terra poderá acabar instantaneamente, com a biosfera cozinhada em uma rajada de raios gama.
Neste caso, a única coisa boa é que não precisaríamos nos preocupar com nada. Ao contrário dos efeitos devastadores e prolongados da queda de um asteróide, Eta Carinae nos executaria de maneira rápida e indolor.
Em suma, tudo o que se deseja de um bom carrasco...
Fonte: Jornal Zero Hora RS