Futuro da Europa estará comprometido sem o cristianismo
26/04/2004 -
Os Bispos da União Européia dedicaram a última semana à análise do atual processo de alargamento da UE, assegurando que o futuro da Europa estará comprometido sem a presença do Cristianismo.
A Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE) reuniu em Assembleia plenária de 23 a 24 de Abril, ocasião que foi aproveitada para reafirmar a convicção da Igreja Católica de que a referência ao cristianismo no preâmbulo do futuro Tratado Constitucional da UE seria um reconhecimento adequado da herança religiosa e espiritual da Europa.
Os representantes dos 25 países agradeceram a João Paulo II todos os seus esforços em favor da unidade do nosso continente, na reconciliação e na solidariedade.
Se hoje podemos alegrar-nos com este momento em que as fronteiras da UE vão ser alargadas, isto deve-se à força com que Vossa Santidade declarou a necessidade de que a Europa respirasse com os seus dois pulmões, o Leste e o Ocidente, escrevem os Bispos.
A assembleia adotou ainda a declaração A Solidariedade é a alma da União Europeia, a ser divulgada no dia 29 de Abril, que sublinha a necessidade de um maior esforço de apoio a todos os Estados e povos da UE num momento em que se conhecem maiores disparidades econômicas e sociais.
Os representantes dos 25 países contestam a criação de um grupo pioneiro, que ignorasse as actuais instituições comunitárias e contrariasse esse princípio da solidariedade. Por outro lado, os prelados destacaram que a atenção para com os países da UE não pode ser utilizada para enfraquecer a obrigação de assistir aos países mais pobres do resto do mundo.
Abertura ao mundo
Que a Europa não pode pensar apenas em si e deve abrir-se ao mundo foi, também, uma das principais conclusões do Congresso da COMECE que, de 21 a 23 de Abril, decorreu em Santiago de Compostela. D. Teodoro Faria, Bispo do Funchal e representante português junto deste organismo, lembra que a nova Europa "sendo hoje a maior potência económica do mundo, não pode pensar apenas em si, mas tem uma missão que é universal".
O Congresso, que reuniu mais de 100 participantes de todo o Velho Continente, discutiu o tema Abramos os nossos corações: a responsabilidade dos Católicos na Integração Europeia, a partir de um documento lançado pela COMECE em Junho de 2003.
Nas notas que surgiram desta iniciativa o destaque vai também para a importância dada às iniciativas ecuménicas. O texto será agora trabalhado pelos Bispos e um grupo de especialistas, tendo em vista a sua adopção na próxima assembleia plenária, a decorrer em Novembro de 2004.
Caminhos de esperança
Antes deste Congresso teve lugar uma peregrinação até à capital espiritual da Europa, Santiago de Compostela, para assinalar a entrada de 10 novos países na UE, a 1 de Maio, e o processo de reunificação europeia que aproxima o Leste do Ocidente.
De 17 a 21 de Abril, mais de 300 peregrinos dos 25 países da nova UE responderam ao desafio da COMECE de ocuparem uma semana de Abril a dar as boas vindas a uma nova Europa, unida na paz, na justiça e na solidariedade.
A peregrinação, no mosteiro de São Domingos de Silos, congregou 40 bispos católicos, representantes ortodoxos, anglicanos, luteranos, vetero-católicos e calvinistas.
Romano Prodi, presidente da Comissão Europeia dirigiu-se aos participantes através de uma videomensagem onde classificou Santiago como capital espiritual da unidade europeia e lembrou que a Igreja e a Europa estão estreitamente ligadas entre si.
A comunhão que se realiza no Caminho deve recordar-nos a fé e a convicção que permitiram destruir os muros que sulcavam a Europa como cicatrizes, e permitiram à nossa União uma nova, mais ampla, respiração, disse Prodi.
No final da peregrinação, o prelado alemão Josef Homeyer, presidente da COMECE, disse que com a adesão de 10 novos países à UE a unificação da Europa está quase completa, mas lembrou que o Continente vive em tempos turbulentos.
Percebe-se um grande desconcerto: terrorismo e guerra na porta das nossas casas; desastres ecológicos causados pela mão do homem; uma crescente preocupação pelas consequências sociais derivadas da abertura inevitável condicionada pela globalização e o envelhecimento de nosso continente. Tudo isso aumenta os medos e inquietudes colectivos, disse o responsável católico, vincando que neste contexto a voz da Igreja é mais importante do que nunca.
Fonte: Agência Ecclesia