16.04.2008 - Que os tempos são cruéis, ninguém mais tem dúvida. Que estamos vivendo e presenciando todo tipo de violência e maldade, é algo que qualquer leigo pode constatar. Assustadoramente, parecem ser as crianças as maiores vítimas de uma sociedade que virou suas costas para Deus.

Todas as recentes atrocidades cometidas contra os pequenos me fazem lembrar de uma mensagem profética, recebida por uma mãe de família na França. Consta que esta senhora estaria vivendo o fenômeno da locução interior, ouvindo uma voz que ela diz ser de Jesus. Na suposta mensagem, o Senhor teria dito: “Cuidado com vossas crianças, cuidai delas. Buscai os filhos na porta das escolas, vigiai vossas crianças”.

Recentemente, veio à tona o caso da menina de 12 anos que passou dois anos, acorrentada e amordaçada, na casa da empresária Sílvia Calabresi Lima, em Goiás. O fato ocorreu num apartamento de cobertura; a menina estava num compartimento que dá acesso à caixa d´água. A partir de uma denúncia, foi encontrada presa nas correntes e com a boca tapada por fita adesiva. Quando os agentes policiais tiraram a fita, dentro da boca havia um chumaço de algodão cheio de pimenta.

A língua da menina, mostrada em fotos e nas cenas da tevê, apresentava-se toda picotada pelos ferimentos feitos por alicate. Suas unhas estavam roxas, pois eram prensadas na porta pela mulher que a trouxe para casa, com a promessa de dar-lhe estudos e uma vida melhor. A criança foi torturada, com a cumplicidade de uma empregada doméstica e, possivelmente, com a dos demais membros desta estranha família.

A empresária que praticou estes atos de tortura está presa e também a empregada, cúmplice das atrocidades. Seis pessoas ao todo foram indiciadas, até mesmo a mãe da menor, por ter entregado a filha a alguém em troca de dinheiro. Em diferentes ocasiões, Sílvia Calabresi Lima conseguiu atrair cinco meninas para praticar a sua perversa vocação de “educadora”. Numa entrevista, ela afirmou que não achava que estava praticando tortura e sim “educando”.

Mas o caso que está comovendo o país é o assassinato da menina Isabela, de 5 anos, possivelmente atirada da janela do sexto andar de um prédio, na zona norte de S. Paulo. O caso está em processo de investigação policial e, a cada dia, surge uma nova versão, uma informação diferente, que pode mudar o enredo desta história trágica. Famílias destroçadas, vidas mudadas para sempre – e um sorriso de anjo que se apagou, sabe-se Deus de que forma.

Na mesma semana em que o país se comoveu com o assassinato de Isabela, um outro caso veio a público, o da menina que pulou do 4º andar do prédio onde morava, temendo ser espancada pelo pai bêbado. Ela sobreviveu. Muitos sobrevivem ao terror das práticas mais sofridas e cruéis. Porque este mundo em que vivemos é uma chaga só, marcado por traumas violentos, onde as almas vagam tremendamente sofridas e confusas. Muitos corações estão entorpecidos de dor e mágoa. Há criaturas errantes por este mundo de Deus – em busca de Deus.

Creio que muitos se recordam do menino João Hélio, naquele episódio revoltante, em que bandidos em fuga o arrastaram até a morte, do lado de fora do carro. Por que há tanta tragédia à nossa volta? O que é que está se desencadeando de modo irreversível e de onde vem esta força maligna e avassaladora?

Nossa sociedade está enferma, nossa civilização se entregou ao hedonismo e ao materialismo na suas formas mais egoístas, perversas e escandalosas, gerando desigualdades, injustiças, crimes de toda ordem, até mesmo nos atentados à vida e à natureza. Há um grande caos tomando conta de tudo. Imperioso é parar e refletir, buscando entender a origem deste mal. Nós sabemos que quando se arranca Deus do coração das pessoas – e sobretudo das crianças – , esta força má encontra um território livre para agir. Não erraremos ao afirmar que, em toda parte, está faltando Deus.

Um coração cheio de Deus abomina qualquer prática de tortura, sobretudo com crianças. Os que seguem a Palavra de Deus lutam para ser mansos e humildes, desapegados e simples. Uma alma temente a Deus vigia a si mesmo o tempo todo, anda na retidão e na luz do Evangelho, buscando a justiça para si e para os outros. Quem é de Deus luta pelo bem comum, pela ordem e pela paz. Onde a lei de Deus impera, reina o amor, a bondade, a partilha, a paz e a esperança.

À Justiça cabe agir, punindo os acusados e culpados pela prática dos crimes. Aos homens de bem, cabe clamar pelo direito, estudando as razões de tais atos, na tentativa de salvar a sociedade humana, por meio da educação, da social-democracia, da prática da ética e da cidadania, de um estruturado sistema de valores que compreenda a pessoa humana como uma vida preciosa e única. Por mais que se busque entender o comportamento humano, a raiz da maldade, as motivações dos crimes tenebrosos, não se pode deixar de concluir: está faltando Deus no coração das pessoas.

Por Marisa F. Bueloni, formada em pedagogia e orientação educacional

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