Ciência: Biólogos investigam as origens da fé religiosa na evolução do cérebro humano
19.03.2008 - Estudos vêem semelhanças entre funcionamento da religião e o das informações genéticas. Segundo o estudo, mente das pessoas pode ter sido naturalmente moldada para a crença sobrenatural.
O que o DNA humano e o livro bíblico do Apocalipse têm em comum? OK, a pergunta tem uma tremenda cara de maluquice, mas o fato é que ambos têm um controle de erros mais rígido que a malha fina do Imposto de Renda. Falhas na cópia do DNA podem levar uma célula a se autodestruir para não correr o risco de passar adiante o material genético corrompido. Quanto ao Apocalipse, sugiro que você abra sua Bíblia no fim do capítulo 22 da obra: E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida ou seja, ai de quem mexer no texto.
Para um número crescente de cientistas, esse tipo de semelhança não é mera coincidência. Afinal de contas, raciocinam eles, a religião também pode ser considerada um produto da biologia humana, tal como a linguagem, a arte ou o uso de drogas. E, se isso for verdade, não há nada de absurdo em usar o que sabemos sobre nossa evolução para entender por que a fé surgiu, e por que ela é tão natural para a maioria de nós.
Os pesquisadores que estão apostando nessa abordagem para explicar a religião não estão interessados em provar a existência ou a inexistência de Deus embora muitos sejam ateus, há cristãos devotos e outros religiosos entre eles. A proposta é ver a fé como fenômeno natural, na definição do filósofo americano Daniel Dennett, da Universidade Tufts.
Segundo essa visão, Deus pode muito bem ouvir e responder suas orações, mas não dá para negar que, para sentir o êxtase religioso, o seu cérebro precisa ser estimulado de uma certa maneira, e não de outra. Além do mais, a arqueologia sugere que só começamos a enterrar nossos mortos e ter uma idéia de seres sagrados (animais, por exemplo) há poucas dezenas de milhares de anos. Por que, de repente, a nossa espécie acordou para o lado sobrenatural das coisas?
Dá para dividir os biólogos da religião em dois grupos principais: os defensores da vantagem adaptativa e os do efeito colateral. Para os primeiros, o ato de crer em si é que foi vantajoso para os antigos humanos tão vantajoso que os que desenvolveram a fé deixaram mais descendentes e passaram o traço adiante. A principal vantagem de desenvolver o instinto religioso seria a coesão social que ele traz: se toda a tribo está unida na devoção ao seu deus, ela se torna mais trabalhadora e mais corajosa na guerra, entre outras coisas.
Já o outro grupo aposta que as vantagens para a sobrevivência vinham de características da nossa mente que não têm nenhum elo direto com a religião. No entanto, o resultado acidental dessas propriedades mentais foi estimular o surgimento da fé.
Detector hiperativo
Os defensores da religião como efeito colateral têm alguns argumentos intrigantes a seu favor. Estudando animais, os pesquisadores notaram que todos os bichos precisam de alguma espécie de detector de agente um sistema que os ajuda a distinguir uma pedra ou um pedaço de madeira (seres inanimados) de outros animais, que podem querer brigar com eles, acasalar com eles ou comê-los. No caso de humanos (e talvez de grandes macacos, golfinhos e elefantes), o detector de agente ficou ainda mais sofisticado e se transformou na chamada teoria da mente.
A teoria da mente é o que nos permite imaginar que outros seres além de nós possuem desejos, pensamentos e intenções. Sem ela, nunca entenderíamos frases como O que será que ela acha que eu estou pensando do comportamento dela?.
Acontece que, na natureza, seguro morreu de velho. Por via das dúvidas, às vezes é melhor exagerar um pouco e usar a teoria da mente mesmo quando não dá para ter certeza que a coisa em questão tem mesmo uma mente. O resultado, diz Justin Barrett, psicólogo da Universidade de Oxford (Reino Unido), é que os seres humanos (ou muitos deles, pelo menos) desenvolveram o chamado HADD sigla inglesa de aparelho hiperativo de detecção de agente.
Assim, a capacidade extremamente útil de prever ações e intenções de outras criaturas tem como efeito colateral a mania de ver intencionalidade onde não há nas nuvens, na chuva, nas estrelas. E a distância entre isso e a idéia de deuses por trás das nuvens, da chuva e das estrelas não seria muito grande.
A teoria da mente também poderia estar por trás de outra idéia comum em religiões do mundo todo: a da vida após a morte. É o que revelou um experimento feito pelos psicólogos Jesse Bering e David Bjorklund. Eles contaram uma historinha infantil a crianças com idade entre quatro e 12 anos. No conto, o pobre Camundongo Marrom se perde e acaba sendo devorado por um crocodilo.
Os pesquisadores, então, faziam uma série de perguntas sobre o roedor: ainda estava com fome? Ainda queria ir para casa? A maioria das crianças respondeu que o bichinho não sentia mais fome ou sede, mas ainda era capaz de pensar e ainda amava sua mãe. Para a dupla de pesquisadores, isso mostra a força da teoria da mente como as crianças não eram capazes de conceber a si mesmas como mortas, acabam projetando essa incapacidade na imagem do camundongo morto e pensante.
Alta fidelidade
Uma vez estruturada, a religião (assim como acontece com outros aspectos da cultura humana) teria assumido algumas das características dos seres vivos. O caso do Apocalipse seria um exemplo das várias técnicas para assegurar a transmissão de textos sagrados, músicas, rituais e outros elementos com alto grau de fidelidade, tal como o DNA faz.
Não é à toa, por exemplo, que as cerimônias religiosas quase sempre envolvem palavras ou movimentos repetitivos e multidões, diz Daniel Dennett: a responsabilidade de acertar o ritual fica distribuída entre muitas pessoas, e isso, em geral, aumenta a precisão com que ele é reproduzido e transmitido.
Finalmente, argumenta Dennett, as religiões também passariam por uma espécie de seleção natural, tendo seus dogmas e cerimônias constantemente ajeitados e atualizados para conquistar mais adeptos, dando origem a religiões filhas e, muitas vezes, morrendo.
É claro que essas idéias são só as primeiras engatinhadas rumo ao entendimento do fenômeno religioso. A julgar pelas outras áreas da biologia evolutiva, no entanto, é de esperar que a abordagem ajude a abrir de vez a caixa-preta da fé.
Fonte: G1
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Nota do Portal Anjo, www.portalanjo.com
Diz na Sagrada Escritura:
"Ai de vós, doutores da lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que vinham para entrar". (Lc 11,52)
"Ó abismo de riqueza, de sabedoria e de ciência em Deus! Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos!" (Rm 11,33)
"Onde está o sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo?" (1Cor 1,20)
"Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de sua mensagem". (1Cor 1,21)
"para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus". (1Cor 2,5)